1. A inspiração “nasce” no Brasil
A ideia da construção do Monumento a Cristo Rei surge em 1934, aquando de uma visita ao Brasil do então Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira. Ao passar pelo Rio de Janeiro, viu a imponente imagem de Cristo Redentor do Corcovado e logo no seu coração nasceu o desejo de construir semelhante obra em frente a Lisboa.
Em 1936, a ideia de construir o Monumento a Cristo Rei foi transmitida ao “Apostolado de Oração”, que a acolheu entusiasticamente. Para ser Nacional, o Monumento precisava de aprovação e cooperação de todos os Bispos Portugueses. Tal sensibilização aos Bispos é conseguida, sendo proclamada oficialmente na Pastoral Colectiva da Quaresma de 1937.
1.2 Contexto sociopolítico
As condições económicas e sociais que os países ocidentais enfrentaram após a I Guerra Mundial (1914-1918), obrigaram à reconstrução das economias, endividamento, crises de superprodução. A queda dos valores das acções na bolsa em Nova Iorque originou igualmente uma profunda recessão económica em 1929, (que se prolongou durante a década de 30), provocando agitação social, desemprego em massa e consequente pobreza.
Todas estas condições levantaram graves problemas aos governos de democracia liberal, que tinham saído vencedores da guerra, cujas políticas orientavam a maior parte dos países ocidentais. Este facto, aliado à incapacidade demonstrada para resolver a crise vigente, fez crescer uma onda de descontentamento das populações e deu azo ao crescimento de forças da oposição, principalmente com os movimentos radicalistas de esquerda - marcados pelo avanço do socialismo marxista-leninista na Rússia – e de direita em Itália e na Alemanha, duas nações que tinham sentido mais duramente atingidas pela guerra. Na Alemanha, o desemprego rondou mesmo os 43 por cento, mas com a chegada de Hitler ao poder em 1933, foi empreendida uma política de rearmamento (que se revelou fulcral para o início da II Guerra Mundial) que criou emprego, algo que deixou o povo alemão rendido a este novo político, que mais tarde seria responsável por milhares de mortes. Na União Soviética, ocorreram também numerosos massacres, nomeadamente com o extermínio de agricultores abastados, os “Kulak”.
Em Portugal, as condições sociais não eram muito melhores e os conflitos decorrentes da I República originaram uma reacção conservadora, que culminou com o golpe de 28 de Maio de 1926, perpetrado pelo exército e apoiado maioritariamente por republicanos moderados, monárquicos e católicos de várias facções. O descontentamento era geral e crescia mesmo entre as classes médias portuguesas, que tinham sido o principal apoio à República. As greves sucediam-se e este clima foi apenas ultrapassado com a vitória do general Óscar Carmona nas eleições presidenciais de 1928 e com a escolha de António de Oliveira Salazar para ministro das Finanças. Salazar conseguiu equilibrar as contas nacionais, o que lhe garantiu um grande prestígio. Posteriormente, em 1932, Salazar é nomeado chefe de Governo e em 1933 é promulgada uma nova Constituição, que redundou no Estado Novo, um regime sob o governo pessoal de Salazar até 1968. O sistema político nacional passou então a ser um regime corporativo, definindo-se como autoritário, nacionalista e colonial.
A vizinha Espanha vivia uma sangrenta Guerra Civil, iniciada em 1936 e estava também ameaçada pelo perigo da proliferação do comunismo ateu nos países ditos de tradição cristã, algo que Nossa Senhora, em Fátima, já previra, ao afirmar que a Rússia haveria de espalhar os seus erros pelo mundo (ver caixa).
Profecia de Nossa Senhora de Fátima
"No dia 13 de Julho de 1917, em Fátima, Nossa Senhora apareceu aos Três Pastorinhos, naquela que foi a Sua terceira aparição na Cova de Iria. Nesse dia revelou o “segredo de Fátima” a Jacinta, Lúcia e Francisco. Solicitada pelo Bispo, Lúcia desvendou mais tarde, em 1937, o conteúdo do segredo. Nossa Senhora afirmou que era essencial o sacrifício pelos pecadores e entre várias profecias, acrescentou que a Rússia haveria de espalhar os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, algo que estava a ser cumprido, pois para além do governo comunista deste país de leste da Europa, também o México era governado pela mesma ideologia."
A nível eclesial, vive-se o início da Acção Católica, onde era necessário a proclamação do reinado social de Cristo face à prepotência do mundo ateu. As nações cristãs deveriam reconhecer a Realeza de Cristo, inspirando-se na legislação divina com princípios orientadores da vida comum.
Face a este contexto social e político vivido nos anos 30, os Bispos Portugueses apontaram três razões para a construção do Monumento a Cristo Rei:
1 – O dever de um desagravo social pela conspiração universal de Cristo
2 – Um grande dever de gratidão nacional, pois ao contrário de outros países, em Portugal, por uma singular providência vivia-se em paz, num progresso espiritual e o monumento seria assim um profundo e sentido agradecimento a Cristo.
3 – Uma exigência de restauração nacional
Em 1939, inicia-se a II Guerra Mundial e foi durante este período que a ideia da construção do Monumento a Cristo Rei ganhou um novo sentido e vigor.
Em 20 de Abril de 1940, em Fátima, os bispos nacionais, no final do seu Retiro anual, formularam o seguinte voto: “Se Portugal fosse poupado da Guerra, erguer-se-ia sobre Lisboa um Monumento ao Sagrado Coração de Jesus, sinal visível de como Deus, através do Amor, deseja conquistar para Si toda a humanidade”.
Portugal manteve uma posição de neutralidade na II Guerra Mundial, não participando directamente nas acções de bélicas e esse facto foi decisivo para que se colocasse em marcha uma campanha nacional de angariação de fundos, para que a construção fosse uma realidade. No entanto, esta campanha tornou-se lenta devido ao contexto de guerra. Mesmo assim e apesar de todas as dificuldades, em 1941 foi adquirido o terreno para a construção do Monumento.
Cerca de um ano após o final da II Guerra Mundial, em 18 de Janeiro de 1946, na Pastoral Colectiva, o Episcopado português para além de fazer referência ao 3º Centenário da Coroação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, declarou formalmente ter feito a promessa de erguer o Monumento a Cristo Rei e, a partir daí, a campanha de angariação de fundos intensificou-se activamente.
Devemos também fazer referência à participação de todas as crianças portuguesas na campanha de angariação de fundos para a construção do Monumento, campanha essa que se chamou “Pedras Pequeninas” estendendo-se desde 1939 até 1958.
O princípio que norteou esta campanha foi sobretudo o valor do sacrifício das crianças e a eficácia da sua oração.
Ao longo do ano as crianças iam renunciando a algo, colocando essa renúncia num mealheiro que depois era depositado no Presépio das suas Paróquias no dia dos Santos Inocentes (28 de Dezembro).
É de salientar que esta Campanha rendeu cerca de 7.500,00 €.
Na história, tão cheia de grandeza e fé, da devoção a Cristo e em especial ao seu Sacratíssimo Coração, há algo importantíssimo, que merece referência para explicar a data para o lançamento da primeira pedra do Monumento.
Na cidade do Porto, por coincidência a “Cidade da Virgem”, viveu a Irmã Maria do Divino Coração, que influenciou o Papa Leão XIII a determinar a consagração de todo o género humano ao Coração de Jesus. Em 1949, comemorava-se o 50º aniversário desse fausto acontecimento religioso e esse motivo fez com que o cardeal Cerejeira escolhesse propositadamente esse ano.
A 18 de Dezembro é solenemente lançada a 1ª Pedra do Monumento a Cristo Rei.
Dois anos depois, iniciam-se os trabalhos das fundações e finalmente em 1952, a empresa Obras Públicas e Cimento Armado (OPCA) começa a construção dos alicerces. A obra foi realizada através de um sistema de cofragem especial, ou seja, os chamados moldes viajantes, em que o andaime era a própria estrutura, recebendo o betão, nos quais se via crescer o pedestal da imagem de Cristo Rei, camada após camada.