Como vimos no Capítulo referente à história da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, esta espiritualidade é bastante antiga, estado presente no Evangelho de São João quando nos fala do Lado do Senhor.
Muitos foram os Santos que se sentiram tocados por esta espiritualidade, nomeadamente São João Eudes a quem se deve a composição da 1ª Missa ao Sagrado Coração de Jesus; este é um sinal claro que esta devoção era já sentida pelos fiéis, daí a necessidade da referida composição.
Também devemos aqui referir que o primeiro sinal público desta devoção deve-se ao Beato Anchieta, S.J., apóstolo no Brasil, que em 1552 dedicou uma modesta capela ao Sagrado Coração de Jesus, em Guarapari, Estado do Espírito Santo, Brasil.
No entanto é com as revelações de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus se solidifica.
Apesar de tudo isto o processo da instituição da Festa Litúrgica, como Jesus pediu a Santa Margarida Alacoque, é um processo longo, não isento de dificuldades.
Foi um longo caminho que se percorreu para que este culto passasse do carácter particular para o carácter universal.
Neste processo é também de justiça referirmos a acção de São Cláudio de la Colombière, S.J., na divulgação deste culto e, por sinal, desta Festa.
Sendo o confessor de Santa Margarida cedo percebeu a veracidade das revelações e daí o entusiasmo que teve na sua divulgação.
O primeiro pedido a Roma para a aprovação da Festa Litúrgica ao Sagrado Coração de Jesus foi em 1696, pedido este feito pelas Monjas Visitandinas de França.
Os padres jesuítas, conhecedores da divulgação desta devoção e da sua vivência por parte dos fiéis, aprovam o pedido das religiosas; no entanto em 1697 a Santa Sé responde ao pedido não aprovando a pretensão, alegando que a Igreja no culto público não se baseia em revelações privadas.
Apesar desta posição por parte da Santa Sé, a devoção continua a difundir-se.
Por mais duas vezes as Religiosas Visitandinas renovam o pedido à Sagrada Congregação dos Ritos (1727,1729) sendo o mesmo novamente reprovado.
Podemos assim dizer que o tempo ainda não tinha chegado, era assim preciso um período de amadurecimento da questão.
Em 1763 o pedido foi novamente apresentado, partindo agora a iniciativa dos Bispos polacos, juntando-se a eles mais 148 Bispos provenientes de outros países europeus.
Finalmente, o problema foi discutido e, em 2 de Janeiro de 1765 a Sagrada Congregação dos Ritos aprova esta Festa apenas para algumas igrejas particulares. Iniciou-se assim na Igreja o culto público ao Sagrado Coração de Jesus. Para esta proclamação foi essencial o Sensus Fide do povo cristão, sendo o decreto de 1729 revogado.
Pouco tempo depois, em Maio de 1765, foi aprovado o texto de uma nova Missa chamada Miserebitur que relatava o amor misericordioso do Coração de Jesus.
Esta aprovação pontifícia, embora limitada, provocou uma enorme difusão do culto ao Sagrado Coração de Jesus.
Apesar desta difusão, opuseram-se a esta festa os jansenistas que a apelidaram de idolatria.
Em Portugal, o pedido para esta Festa é feito pela Rainha D. Maria I, em 1777, o Papa Pio VI aprova o seu pedido e nesse mesmo ano inicia-se a construção da Basílica da Estrela, em Lisboa, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus.
Com o passar de um século depois da aprovação romana (1765), o Papa Pio IX em 23 de Agosto de 1856, estende esta Festa a toda a Igreja universal.
Como vimos a aprovação da Festa Litúrgica do Sagrado Coração de Jesus teve uma difícil gestação.
As respostas negativas da Santa Sé, o exame dos textos litúrgicos, a atenção em distinguir revelações privadas do Depósito da Fé, demonstram quanto a Igreja é prudente no que diz respeito ao culto público.
A liturgia é a Fé orante; o povo de Deus em oração.
Se nada de ilegítimo pode entrar no Depósito da Fé, do mesmo modo, nada de inseguro pode sobrepor-se ao esplendor da liturgia.