Os mistérios da infância de Jesus
A celebração do nascimento de Jesus vem sempre carregada de esperança, amor, festas e, claro, curiosidades sobre a infância de quem, sendo Deus, desceu para se encontrar com a nossa miséria, pobreza e simplicidade.
Deus tornou-se menino para nos ensinar a ser humanos. Mas como viveu a infância esse Menino Deus? Como viveu a adolescência? Ele era “normal”, era como as demais crianças?
A Sagrada Escritura, infelizmente, não relata detalhes sobre essa fase da vida do Messias Salvador. Contamos apenas com a narração do nascimento, a fuga para o Egito e a famosa passagem da perda e encontro de Jesus no Templo entre os Doutores da Lei.
Santa Faustina e o Menino Jesus
Apesar da falta de relatos bíblicos, alguns estudiosos e místicos escreveram sobre o Pequeno Jesus, a sua infância e adolescência. Dentre estes escritores está Santa Faustina, que diz no seu diário, sobre o Natal:
“Quando vim para a Missa do Galo, já no início da Santa Missa, toda eu mergulhei em profundo recolhimento e vi a gruta de Belém repleta de muita luz. A Virgem Santíssima envolvia Jesus em faixas, inteiramente absorta em grande amor, mas São José ainda dormia. Foi somente quando a Mãe de Deus acomodou Jesus na manjedoura que a claridade de Deus acordou São José que também se pôs a rezar. Porém, em seguida, fiquei a sós com o Menino Jesus que estendia para mim os Seus bracinhos, e compreendi que era para eu tomá-Lo em meus braços. Jesus recostou a Sua cabecinha no meu coração e com o Seu profundo olhar deu-me a conhecer que se estava a sentir bem junto ao meu coração" (Diário, 1442).
Também o Papa Emérito Bento XVI se deteve a escrever sobre a infância de Jesus, por exemplo, no primeiro livro de sua trilogia “Jesus de Nazaré”. Mas hoje falaremos de uma outra alemã, a mística Bem-Aventurada Ana Catharina Emmerich.
Ana Catharina Emmerich
A Beata alemã foi uma mística nascida a 8 de setembro de 1774 na aldeia de Flamsche. Quando criança, Ana via com certa frequência o seu anjo da guarda e 'brincava' com o Menino Jesus. Em 1812, Jesus apareceu à Beata e entregou-lhe um crucifixo. Desde esse episódio, gravou-se no seu peito um sinal da cruz de, mais ou menos, três polegadas. Recebeu os estigmas por volta do dia 29 de dezembro daquele ano. A partir de 2 de novembro de 1812, Ana Catharina passou a alimentar-se apenas da Santíssima Eucaristia, pois adoentada e de cama, não conseguia tomar mais nenhum alimento. Em 9 de Fevereiro de 1824, a beata faleceu, partindo assim para a Pátria Celeste, onde pode contemplar e tocar o que antes via misticamente.
As visões de Emmerich, apesar de lhe causarem várias perseguições, foram utilizadas em diversos momentos. Dentre os materiais criados a partir das visões, está o filme “A Paixão de Cristo” dirigido por Mel Gibson, que sofreu influência direta dos escritos presentes em “Vida e Paixão do Cordeiro de Deus”.
A infância de Jesus
Apesar dos seus escritos mais famosos relatarem o período da Paixão e Morte de Jesus, a mística alemã também escreveu sobre a sua infância. Nesta obra, vemos antes, a infância da Santíssima Virgem Maria, que serve para contextualizar a história do Messias Encarnado. Encontramos o seguinte sobre a conceção de Maria no ventre de Ana:
"Foi-me dado a conhecer que, por efeito de uma graça privilegiada de Deus, a Conceição de Maria fora tão pura como devia ser a conceção de todo o ser humano, sem o pecado original. Abrindo-se os céus, vi a alegria da Santíssima Trindade e a participação que os anjos tiveram na bênção misteriosa concedida aos pais da Santíssima Virgem" (p. 25).
Já sobre o nascimento de Jesus e a sua infância, destaco alguns pontos interessantes. Vale a pena recordar que, apesar da beatificação de Ana Catharina, os seus escritos não são dogmáticos nem históricos, contudo, segundo vários estudiosos, não fogem ao sentir das Sagradas Escrituras e outras obras:
O nascimento:
"Quando se aproximava a meia-noite, encontrei a Santíssima Virgem rodeada de grande claridade e, na hora precisa de o Menino nascer, vi uma estrada de luz vivíssima baixar do céu e dentro dela um movimento de glórias celestes, à semelhança de coros angélicos, que desciam até ao lugar onde Jesus acabava de vir ao mundo. Maria, enlevada em êxtase e orando, voltou os olhos para o Menino recém-nascido que, sendo Deus, era também seu filho" (p. 81).
A adoração dos pastores:
"Entrando na gruta da natividade, a convite do Santo Patriarca, foram encontrar a Santíssima Virgem sentada com Jesus nos braços; porém, cheios de uma inexplicável alegria, ficaram muito tempo prostrados por terra e em silêncio, até que, recordando-se das palavras do anjo, repetiram o hino ouvido à meia noite e cantaram como ele o Glória a Deus nas alturas. Ao se retirarem, a Santíssima Virgem confiou-lhes o Menino, que tomaram amorosamente nos braços, chorando de contentamento, e foi ainda a chorar que deixaram a gruta onde Jesus nascera" (p. 86).
Na casa de Santa Ana:
"Como tudo naquela casa é edificante! Maria desempenha a missão de mãe e ao mesmo tempo de serva submissa de Jesus e de José. À vista de todos é como a mais humilde das criaturas. Sensibiliza a alma vê-la tomar o Menino, ligá-lo e cuidar dele como se Jesus não fosse o Deus de misericórdia que tudo criou, deixando-se levar e carecendo do leite materno, como o mais fraco dos seres humanos" (p. 118).
A adolescência de Jesus:
"Nas minhas contemplações, antes como depois dos doze anos, vi o Menino sempre pronto para ajudar Maria e José, tanto em casa como nos serviços de fora. Para com as outras pessoas, Jesus era igualmente prestável e de tal maneira gostava de ajudar a todos, que o apontavam como modelo dos meninos de Nazaré. Os pais da vizinhança, quando algum dos filhos desobedecia, costumavam dizer: 'Olha, vês, que dirá Jesus quando souber que tu és assim mau? Vai ficar triste e já não torna a ser teu amigo!'. E quando os encontrava, ou os pais dos prevaricadores lhe contavam o que se passara, Jesus falava de tal maneira ao coração dos transgressores que de teimosos os tornava submissos e obedientes" (p. 149).
Vale muito a pena adquirir, ler e contemplar com a Beata Ana Catharina Emmerich a vida de Jesus. Mesmo que não seja um material “histórico”, pode servir para alimentar-nos espiritualmente e contribuir para uma maior proximidade e intimidade com o Senhor, tanto através dos episódios da Sua infância como da Sua vida adulta, paixão, morte e ressurreição.
Pode encontrar o livro neste link.
Beata Ana Catharina Emmerich, rogai por nós!