Servo de Deus Jacques Fesch – para Deus não existe nenhum caso perdido
Neste tempo quaresmal, de forma especial, somos chamados a uma conversão radical, a uma verdadeira transformação da vida, para assemelharmo-nos a Cristo e um dia chegarmos à glória da vida eterna.
No relato da Paixão e Morte de Jesus presente no evangelho de São Lucas, encontramos uma dessas conversões radicais. Não é um relato habitual, precedido por uma cura ou por qualquer outro milagre, nem por uma pregação de Jesus; diz o texto:
"Um dos malfeitores suspenso na cruz blasfemava contra Ele, dizendo: 'Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!'. Mas o outro, em resposta, repreendendo-o severamente, afirmou: 'Nem a Deus temes, tu que estás sujeito à mesma pena?'. Para nós é justo, pois recebemos o que as nossas ações mereciam, mas este nada fez de errado'. E dizia: 'Jesus, recorda-te de mim quando fores para o teu reino'. Ele disse-lhe: 'Amen te digo: hoje estarás comigo no paraíso'" (Lucas 23,39-43).
Servo de Deus Jacques Fesch
A um malfeitor foi-lhe prometido o Paraíso no momento de pagar a pena pelos seus crimes. Reconheceu o senhorio de Jesus, proclamou-O seu Senhor e pediu-lhe, sem medo, que lhe desse o Paraíso. Nos momentos finais da sua vida, pediu a salvação.
Não muito diferente do ocorrido com aquele a quem mais tarde chamaríamos São Dimas, o “bom ladrão”, ocorre também com Jacques Fesch. A salvação entrou no seu coração num momento não muito propício, mas onde clamava por misericórdia.
Jacques Fesch nasceu em 1930, em França. Era filho de pais separados. O pai era ateu e a mãe católica e Jacques foi educado catolicamente, mas abandonou a Igreja aos 17 anos.
Foi enviado para a Alemanha para combater com o exército francês. Ao retornar, casou-se e teve um filho, mas a sua vida não era das mais virtuosas. Mesmo casado, procurava outras mulheres e numa dessas ocasiões teve outro filho que acabou por ser entregue a um orfanato.
Fesch trabalhava num banco, mas decidiu abandonar tudo para viver uma falsa liberdade. Deixou emprego, casa, família, tudo. Queria viajar pelo mundo num barco, mas não tinha dinheiro para tal proeza. Sendo assim, a 25 de fevereiro de 1954, assaltou uma casa de câmbio e feriu o cambista.
Na fuga, ao tentar ser preso pelo polícia Jean Vergne, acaba por matá-lo. Foi preso e condenado à morte. Na prisão, conversou com o capelão, mostrando-se incrédulo e indiferente ao que escutava.
A conversão de Jacques
O próprio Jacques Fesch conta no livro que escreveu como aconteceu a sua conversão a 28 de fevereiro de 1955:
“Estava deitado, olhos abertos, realmente sofrendo pela primeira vez na vida. Repentinamente, um grito saiu do meu peito, uma súplica por ajuda – Meu Deus – e, como um vento impetuoso que passa sem que soubesse de onde vem, o Espírito do Senhor agarrou-me pela garganta. Tive a impressão de um infinito poder e de uma infinita bondade que, naquele momento me fez crer com convicção que nunca estive abandonado”.
Com a ajuda do capelão, com quem conversava sempre e de quem recebia livros, tornou-se devoto de São Francisco de Assis, Santa Teresa d'Ávila e Santa Teresinha do Menino Jesus, a quem chamava de "minha pequena Teresa".
Através de cartas, evangelizava muitas pessoas. Nelas ele escrevia os relatos da sua conversão e as suas experiências com Deus, de forma especial, sobre como escolheu viver aquele tempo.
A morte
Jacques morreu decapitado a 1 de outubro de 1957, dia da sua amiga Santa Teresinha. No dia anterior à sua morte, disse: “Último dia de luta. Amanhã, nesta hora, estarei no Paraíso. Que eu morra, se essa for a vontade do bom Deus. A noite avança e eu fico cada vez mais apreensivo. Meditarei na agonia do Senhor no Horto das Oliveiras. Oh, bom Jesus, ajudai-me, não me abandoneis. Mais cinco horas, e estarei na verdadeira Vida. Mais cinco horas, e eu verei Jesus!”.
Beatificação
Muita gente ainda hoje acha estranho iniciar o processo de beatificação de alguém que ao longo da vida cometeu atrocidades, como é o caso de Jacques Fesch, mas para Deus, nada é impossível.
Se aquele ladrão que foi crucificado ao lado de Jesus mereceu o Paraíso, porque Jacques também não o mereceria?
O Cardeal Jean Marie Lustiger, arcebispo de Paris, ao abrir o processo de beatificação em 1993, disse:
“Declarar santo a alguém não significa para a Igreja admirar os méritos dessa pessoa, mas propor um exemplo de conversão de alguém que, independentemente do seu caminho humano, foi capaz de ouvir a voz de Deus e de se arrepender. Não há pecado tão grave que impeça o homem de chegar a Deus, que lhe propõe a salvação”.
Ao olharmos para São Dimas e para o Servo de Deus Jacques Fesch, ficamos com certeza de que para Deus ninguém está completamente perdido.
Que estes santos intercedam por nós e nos ajudem a crescer no amor a Jesus.