Os falsos adoradores
Neste longo caminho que temos trilhado acerca da adoração, em especial da Adoração Eucarística, deparamo-nos com muitas características próprias daqueles que se reconhecem como adoradores: fidelidade, reverência, intimidade, honestidade, verdade, reconhecimento das próprias faltas, entre muitas outras.
Mas além dos verdadeiros adoradores a quem o Pai procura, como o próprio Jesus descreve para a mulher samaritana no Poço de Jacob (cf. Jo 4,4-26), existem os falsos adoradores, aqueles que não agem em conformidade com a vontade e os desígnios dAquele a quem adoram.
Os falsos adoradores não adoram em "espírito e em verdade" como diz o texto acima citado, pelo contrário. Eles adoram por aquilo que podem receber de Deus: graças, milagres, prodígios e sinais… e não por quem Deus é, para a mudança de vida, a conversão do coração e uma intimidade arraigada que vai além da religiosidade, como aconteceu com a Samaritana.
Características do falso adorador
O falso adorador, na maioria das vezes, tem palavras belíssimas nos lábios, mas o seu coração não sabe louvar, bendizer e reconhecer-se necessitado do Senhor. Ele coloca-se como "santo", "escolhido", "separado", quando na verdade, deveria portar-se como um "miserável" que foi tocado pela Divina Misericórdia que não se cansa de nos amar, mesmo que não mereçamos.
O falso adorador desespera-se, pois não sabe em quem colocou a confiança. Ele, apesar de adorar, confia mais em si mesmo e nos outros homens do que em Deus. Deus não é o seu Senhor, mas apenas mais um entre muitos senhores a quem ele idolatra.
O falso adorador, como um fariseu, adora para ser visto e elogiado, enquanto o verdadeiro adorador quer esconder-se em Deus e, como João Baptista, entende que precisa diminuir para que Cristo cresça e apareça cada vez mais (cf. Jo 3, 30), inclusive através do nosso testemunho, das nossas acções e atitudes.
O falso adorador não ouve o que o Senhor diz. A Sua Palavra entra por um ouvido e sai pelo outro e, com isso, não surte o efeito necessário. O próprio Jesus fala sobre isso: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada. Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou" (Jo 14,23-24).
O falso adorador não se torna amigo do Senhor, pelo contrário, ele permanece "servo", indo ao contrário daquilo que Jesus diz: "ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida por seus amigos" (João 15,13). Não sendo amigo, ele não dá a vida, não se doa, não se compromete, nem se responsabiliza, o que o torna alguém distante, que, literalmente, só se aproxima quando está interessado em algo.
Como nos alerta Santa Teresa de Ávila, "a verdadeira devoção consiste em não ofender a Deus e estar disposto e determinado a fazer todo o bem". O falso adorador, por sua vez, não se preocupa em evitar o pecado e em fazer o bem, mas apenas em aparentar uma falsa piedade exterior.
São João da Cruz também nos adverte sobre os perigos da falsa adoração: "Muitas pessoas procuram a Deus e não O encontram, porque Oprocuram onde Ele não está. Procuram-nO nos seus gostos e consolações, e não na cruz de Cristo". O verdadeiro adorador, pelo contrário, está disposto a abraçar a cruz e a renunciar a si mesmo para seguir a Cristo.
Todos nós precisamos de ter cuidado para não nos tornarmos nestes falsos adoradores. No cansaço, na frustração, na correria do quotidiano, podemos acabar por nos perder e nos tornar os nossos maiores inimigos.
Por isso, ao adorar, apresentemo-nos ao Senhor de coração aberto e com o desejo de sermos tocados e transformados. Certamente Ele realizará prodígios, sendo o maior deles, o próprio amor do Senhor. Como nos exorta São Francisco de Assis, "adoremos a Deus com pureza de coração e sinceridade de espírito", pois só assim seremos verdadeiros adoradores, daqueles que o Pai procura.