Profecias Cumpridas: Cristo Rei nas Escrituras

Profecias Cumpridas: Cristo Rei nas Escrituras

Profecias Cumpridas: Cristo Rei nas Escrituras

O reino de Cristo não é uma realeza terrena, mas um reino espiritual. Cristo é Rei porque Ele é Filho de Deus e, por causa dessa filiação, tem autoridade sobre todo o Universo. Dando continuidade à nossa série de reflexões em comemoração dos 100 anos da instituição da Solenidade de Cristo Rei, exploraremos, neste texto, como as Escrituras Sagradas anunciam e confirmam a realeza de Cristo.

A centralidade do seu reino consiste no seu senhorio sobre todas as coisas. «Com efeito, foi para isto que Cristo morreu e ressuscitou: para ser o Senhor dos mortos e dos vivos» (Romanos 14, 9). O Cristo Senhor firma uma nova aliança, um novo reinado, que abrange a tudo e a todos. Ele, no seu sacrifício na Cruz, resgata toda a humanidade, marcando a história da salvação no tempo, com o antes e o depois de Cristo.  

O título de Cristo Rei surge a partir das afirmações presentes na Sagrada Escritura sobre a realeza de Cristo. No Antigo Testamento, avistamos profecias que anunciavam a vinda do Messias, o enviado da parte do Pai que seria um Rei Justo e Misericordioso, e no Novo Testamento o próprio Jesus cita a sua realeza em diversas falas junto aos seus.

No livro dos Números, encontra-se a seguinte citação: «De Jacob sairá o dominador» (Números, 24,19). Nos Salmos, também se anuncia o domínio que há-de vir: «Tu és meu filho, Eu hoje te fiz nascer. Pede-me e eu to concederei; os povos serão a tua herança, e os confins da terra o teu domínio.» (Salmos 2, 6-8). Mais uma passagem no livro dos Salmos revela a esperança que enfim estenderá o domínio de justiça e paz: «Que em seus dias floresça o justo e abundância de paz, até se acabar a Lua. Que ele domine de um ao outro mar, desde o rio até aos confins da terra.» (Sl 72,7-8). Já Jeremias prenuncia à descendência de David: «Dias virão – oráculo do SENHOR, em que suscitarei para David um rebento justo; será rei e governará com sabedoria e cumprirá o direito e a justiça no país» (Jeremias 23,5), será um «germe de justiça».

Desde o início nas promessas feitas a Abraão até às revelações em Apocalipse, as escrituras indicam um Messias que seria exaltado e reinaria sobre todos os povos e nações. No decorrer da história da salvação, as profecias sobre a sua vitória definitiva vão-se cumprindo conforme anunciaram os profetas.

Como diz no livro de Isaías: «Pois um menino foi dado à luz para nós, um filho nos foi dado. Ele tem o principado sobre os seus ombros, o seu nome será Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz, O seu principado será grande e a paz não terá fim, sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o estabelecer e consolidar no direito e na justiça, desde agora e para sempre. É o zelo do SENHOR dos exércitos Que vai realizar estas coisas» (Is 9, 5-6).

A Profecia de um Reino eterno

No livro do profeta Daniel, tal como vemos na passagem acima de Isaías, encontra-se outra importante citação, de uma visão poderosa e cheia de significado sobre o futuro do Messias: «Estava eu a contemplar as visões da noite e eis que, sobre as nuvens do céu, chegava alguém semelhante a um filho de homem. Avançou até ao ancião de muitos dias e conduziram-no à sua presença. Foram-lhe dadas a soberania, a majestade e a realeza; todos os povos e nações e gentes de todas as línguas o servirão; o seu domínio é um domínio eterno, que jamais passará, e o seu reino nunca será destruído» (Daniel 7, 13-14).

Esta visão de Daniel é rica de significado e simbolismo, apresentando um ser como «o Filho do Homem» que se aproxima do «Ancião de muitos dias», uma figura que representa Deus Pai. O Filho do Homem recebe de Deus Pai um domínio eterno, e o seu império não terá fim, não será destruído na história. A imagem do «Filho do Homem» tem uma representatividade no cristianismo, pois o próprio Jesus utilizou deste termo para referir-se a si mesmo em diversos momentos da sua vida pública, inclusive utilizando este termo para indicar a sua volta gloriosa: «Mas Ele, repreendendo-os severamente, ordenou-lhes que não dissessem isso a ninguém. E acrescentou: «É necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos doutores da lei, ser morto e ao terceiro dia ressuscitar»». (Lc 9, 21-22).

O Cumprimento no Novo Testamento

O reconhecimento de Jesus identificando-se como o «Filho do Homem», embora ressoe como um título de humildade na sua relação com o Pai, serve sobretudo para revelar o seu papel especial como o Messias, um Rei eterno. Nos evangelhos de João, Jesus assume as profecias sobre Si e faz o anúncio do cumprimento da sua missão: «Quando ele saiu, disse Jesus: «Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele» (João 13, 31). A realeza está estabelecida e anunciada, tanto na vida pública, como também na sua ascensão ao Céu, onde Jesus tomara o seu lugar de honra à direita de Deus, como Senhor e Rei de toda a criação: «Tendo sido elevado à direita de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo prometido, que Ele derramou, tal como vós estais a ver e a ouvir. Pois David não subiu ao céu e, no entanto, ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos como estrado dos teus pés”. Saiba, pois, com absoluta certeza, toda a casa de Israel que Deus constituiu Senhor e Cristo esse mesmo Jesus que vós crucificastes» (Act 2, 33-36).

Assim, a profecia de Daniel cumpre-se em Jesus Cristo, cujo reino é eterno e não se findará, uma vez que Ele se senta no trono de Deus, reinando sobre toda a criação.

O Rei dos Reis e Senhor dos Senhores

No livro do Apocalipse, escrito pelo apóstolo São João, encontra-se uma imagem triunfante da realeza de Cristo.

«Da sua boca saía uma espada afiada, para com ela ferir as nações. É Ele que as apascentará com um ceptro de ferro e, no lagar, pisará o vinho da fúria da ira de Deus omnipotente. No manto e na coxa tem um nome gravado: «Rei dos reis e Senhor dos senhores».» (Apocalipse 19, 15-16).

O manto de Cristo, manchado de sangue pelo seu sacrifício de amor na cruz, é agora símbolo da Sua vitória. Ele é o Rei que triunfou sobre o mal e que, ao ressurgir em glória, reinará para sempre. O anúncio apocalíptico «Rei dos reis e Senhor dos senhores» não só indica o domínio pleno e absoluto de Cristo sobre todas as coisas, como também revela a sua autoridade, governo e dignidade em relação a todos os outros chefes de nações.

Esta profecia apocalíptica cumpre-se no evento da crucificação de Cristo. O reino de Jesus, como foi dito no início deste artigo, não é uma realeza terrena e muito menos um reino político. Jesus é reconhecido como Rei, pelas circunstâncias da sua morte, na Cruz: «Então Pilatos entrou de novo no pretório, chamou Jesus e perguntou-Lhe: « Tu és o rei dos judeus? »» (Jo 18, 33). Pilatos, ao perguntar a Jesus se Ele era o Rei dos judeus, deu-nos a oportunidade de ouvir do próprio Jesus a sua afirmação sobre a sua realeza que não é terrena, mas espiritual, cumprindo as profecias anunciadas pelos profetas.

O anúncio do cumprimento das profecias em Cristo tem a sua confirmação final na sua ressurreição e ascensão aos Céus, como diz o apóstolo Paulo em Filipenses: «Por isso Deus o exaltou e lhe concedeu o nome que está acima de todos os nomes, para que, ao nome de Jesus, todo o joelho se dobre nos céus, na terra e nos abismos, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.» (Filipenses 2, 9).

A Realeza de Cristo no Presente e no Futuro

A realeza de Cristo não é um facto que ficou na história, como algo do passado. O seu reino não terá fim, estende-se ao presente e ao futuro. Ele vive e reina no coração de todos os fiéis através da Sua Igreja, instituída em São Pedro, governando e orientando todos os seus adeptos que O afirmam como Senhor e Salvador. Outro aspecto é que o Seu reino eterno indica para o futuro, já que Ele prometeu que há-de voltar em glória, para julgar os vivos e os mortos, como revelado no livro do Apocalipse 19, 11-16, para estabelecer de uma vez por todas o Seu reino.

No dia da Parusia, «a segunda vinda de Cristo», Ele manifestará a sua realeza de forma visível e definitiva, e todos os que O seguiram fielmente experimentarão a glória de uma vida plena, um novo céu e uma nova terra, onde «Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos, e nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito; nunca mais haverá dor, porque o mundo de antes desapareceu». (Apocalipse 21, 4).

Em suma, as profecias de Daniel e do Apocalipse revelam a grandeza e a majestade de Cristo, o Rei que governará o universo com justiça e misericórdia. Ele é o Filho do Homem que recebe do Pai o domínio eterno, o Rei dos reis, o Senhor dos Senhores, que voltará na sua Parusia para exercer a sua soberania final e plena. 

Que, através destas reflexões, possamos reconhecer Cristo como Rei, afirmar a nossa fé, viver sob o seu senhorio e aguardar com esperança o Seu regresso final. Que o nome e o poder de «Rei» em Cristo nos inspirem a viver uma vida de serviço, amor e dedicação ao Seu Reino, que já está presente entre nós e que manifestar-se-á em plenitude na eternidade.

É manifesto que o nome e o poder de «Rei», no sentido próprio da palavra, compete a Cristo na sua humanidade, pois só de Cristo enquanto Homem se pode dizer que recebeu do Pai «poder, honra e realeza» como está escrito na profecia de Daniel. Enquanto Verbo, consubstancial ao Pai, não pode deixar de ser em tudo igual e, por isso, de ter, como Ele, a suprema soberania e domínio de todas as criaturas.

quinta, 20 de março de 2025
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