
As 7 últimas expressões de Jesus na Cruz: Um convite à conversão do coração
Antes de aprofundarmos o título deste artigo, é importante contextualizar alguns aspectos sobre a ligação entre Jesus e a Palavra. Na Sagrada Escritura, em diversas passagens, destaca-se Jesus como a Palavra (Logos):
«No princípio era a Palavra e a Palavra estava junto de Deus e a Palavra era Deus. Ela estava, no princípio, junto de Deus. Tudo surgiu por meio dela, e sem ela não surgiu nem uma só coisa daquilo que existe. [...] E a Palavra fez-se carne: estabeleceu a tenda entre nós» (Jo 1, 1-3,14).
Jesus «Palavra» é manifestação viva da Palavra de Deus, que habitou entre nós, para se comunicar directamente com o mundo.
Esta Palavra de Jesus, segundo o próprio João, é verdade e vida: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.» (João 14, 6). E é pela sua palavra que suscita seguidores, cura e liberta: «Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos libertará» (João 8, 31-32).
Partimos desta realidade para entender a vida, o ambiente, as relações, o pensamento, o anúncio e as suas 7 últimas expressões escolhidas com o máximo critério na hora final da sua paixão e morte na cruz.
Jesus encarnado percorreu um caminho que se iniciou na história com o sim obediente de Maria e termina com o último sim de Jesus crucificado quando diz: «Está consumado!» (Jo 19,30). O percurso de Jesus para a cruz e o sermão das 7 últimas expressões são fruto de uma obediência plena à vontade do Pai. Jesus dizia: «…as coisas que Eu digo, digo-as tal como o Pai me as disse a mim» (Jo 12, 50). E «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou…» (Jo 4, 34).
Este plano de amor e obediência plena de Jesus ao Pai tem um capítulo final e um momento mais importante da sua passagem aqui na terra diante dos homens. Ele, que nos visitou como Palavra encarnada e Palavra anunciada, tinha estado entre nós, nos factos corriqueiros do dia-a-dia, anunciado como salgar a comida, acender uma lâmpada, semear sementes, ensinando com parábolas, curando e realizando milagres, agora resume a sua passagem na hora da sua morte, deixando 7 preciosas expressões.
1. O Perdão
«Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).
Jesus anuncia o perdão. Ele, enquanto esteve com os homens, revelou a face da misericórdia. O perdão fez parte do caminho dos apóstolos, discípulos, dos doentes, foi um caminho de cura, recomeço e um livramento aos que já estavam condenados, como para Maria Madalena, chamando-a a uma vida nova e livre das culpas do pecado do passado.
2. A Promessa do Paraíso
«Hoje estarás comigo no paraíso» (Lc 23, 43).
O paraíso não é simplesmente um «local», mas uma jornada a alcançar onde habitará a plenitude da vida, onde não haverá mais dor, sofrimento e pranto. Jesus perdoa e chama o «Bom ladrão» para este lugar de justiça e paz por ver arrependimento e desejo de estar com a verdade: «Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino». O Reino de Jesus, mesmo que tardio, acontece no seu coração, reino que é melhor que qualquer honraria e riqueza deste mundo. São Filipe Néri tem uma frase que diz: «Paraíso, paraíso, eu prefiro o paraíso». Devemos, nesta vida, aprender o valor de fazer todo o esforço possível para entrar neste paraíso, escolher, decidir, «preferir» a melhor opção da vida é preparar-se para viver eternamente com Jesus.
3. A Entrega de Maria
««Mulher, eis o teu filho»…«Eis a tua Mãe»» (Jo 19, 26-27).
Com esta expressão, Jesus entrega a João, o discípulo amado, a sua mãe para que cuide, zele e seja formado na sua vida apostólica de perto por Ela. Ao entregar Maria aos cuidados de João, Jesus entrega toda a humanidade, a Igreja, aos cuidados d'Ela. Por isto, Maria é Mãe da Igreja e de todos os homens. O discípulo junto a Maria permanece de pé junto à cruz de Jesus, ensinando-nos nos momentos de crise a não esmorecermos facilmente nas tentações, mas unidos à intercessão poderosa de Maria, nossa Mãe, a termos fé, coragem, pois a dor e o sofrimento, o calvário, fazem-se necessários para se chegar à glória da ressurreição; a vida vence a morte. O luto transformar-se-á em festa.
4. O Abandono
«Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27, 46).
Neste momento, Jesus, já sentindo o peso da dor sobre si, experimentando a solidão, o esvaziamento, o abandono, grita junto com toda a humanidade que sofre, grita pelos que abandonaram Deus pela auto-suficiência dos próprios projectos. Gritou e ainda continua a gritar diante de tanta injustiça social, abandono dos vulneráveis, indiferença. Claro que Jesus na cruz sabia que o Pai estava com Ele, e que este era o projecto de salvação necessário para expiar os nossos pecados, mas o seu grito deve ecoar nos nossos corações, para a sociedade, os chefes das nações, não serem tão insensíveis, não serem cruéis com os que ainda continuam a julgar, matar, condenar pela omissão, por lavar as mãos, e não se comprometer com tantos que sofrem. É o grito da dor de quem clama por amor e misericórdia.
5. A Sede
«Tenho sede!» (Jo 19,28).
Chegando já a sua hora, onde Jesus entregaria o seu espírito ao Pai e terminaria de vez a sua obra salvífica, diz: «Tenho sede». Então, os soldados romanos embebem a ponta de uma esponja com vinagre e levam-na até à boca de Jesus, e Ele diz: «Tudo está consumado».
Neste momento na cruz, Jesus realiza o grito da sede, de um mundo sem dor, sem violência, preconceitos, grita por um mundo de paz, com menos fome e desigualdade. Jesus encontrou docilidade na escuta de muitos, e muitos foram curados, transformados, mas outros não se abriram à Sua Palavra. O «Efata» (abre-te) é um convite; Jesus não se impôs, Ele propôs, mesmo sendo Deus, o caminho do arrependimento para mudança da nossa história. O seu desejo é que o seu grito ecoe transformando os nossos corações.
6. A Consumação
«Está consumado!» (Jo 19,30).
Jesus finalmente vê o seu tempo cumprir-se, a sua missão terminar. Esvaziou-se completamente, deu-se por inteiro, abaixou-se até ao limite para nos resgatar das nossas quedas. Com a sua Morte, prepara-se para descer até à mansão dos mortos e resgatar todos os homens, desde Adão, que foram acometidos em pecado, para os ressuscitar consigo em glória; do madeiro da cruz, ele consome a sua missão, donde brotará a árvore da vida.
Jesus ensina nesta expressão «tudo está consumado» a não nos pouparmos, a doar tudo, a dedicar-nos plenamente, nesta vida, em prol da nossa salvação e dos que estiverem ao nosso redor. Ao chegar ao fim do ciclo da nossa vida, possamos olhar para trás e ver um legado deixado de amor e dedicação, ver tantas coisas boas que foram consumadas.
7. A Entrega
«Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23,46).
O acto final, a entrega final de Jesus, já não suportando mais a dor da crucificação, Ele entrega-se nos braços do Pai, para ser acolhido enfim em glória, livre de toda a dor, plenificando o seu espírito. Quem dera no final da vida termos esta certeza de que seremos enfim acolhidos por Ele, o Pai das Misericórdias, no seu reino.
Que estas poderosas expressões de Jesus, escolhidas por Ele, sejam guardadas no nosso coração, e abertos a estes ensinamentos possamos vivenciar, como na parábola do filho pródigo, a experiência do abraço misericordioso do Pai ao seu filho que volta à sua casa. O filho que se tinha afastado possa, pela expiação do Cristo crucificado, ser levado a um caminho de arrependimento, para este encontro com o Pai. E assim, transformar toda a dor, sofrimento, tristeza, luto em festa, a festa da misericórdia.
Guardemos no nosso coração as sete expressões de Cristo na Cruz. Ámen!