24 Horas com Jesus: Viva a Semana Santa Hora a Hora com o Relógio da Paixão

A Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo é o mistério central do Cristianismo, as últimas palavras e acções de Jesus marcaram a História como o maior e mais inquietante acontecimento já visto. Como entender este acto sublime de amor? Deus, para reconciliar a sua criação, fez-se homem, encarnando-se — o Verbo feito carne.

Durante a sua vida, operou curas, milagres, semeou a Sua palavra com autoridade e arrastou multidões ao seu seguimento, instituiu uma nova aliança entre Deus e os homens. O Messias, enviado da parte de Deus para libertar e salvar, entrega-se nas mãos dos seus perseguidores, livremente, sofre toda a espécie de insultos, escarros, agressões físicas e morais, é negado, traído, sente o peso da culpa e da injustiça, mesmo só tendo feito o bem e sendo inocente.

Como compreender que Ele, em silêncio, aceitou ir «como cordeiro que foi levado ao matadouro» (cf. Is 53,7)? E, mesmo assim, nesta loucura de aceitar a dor por amor, grita apenas para pedir ao Pai: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.»

Carregando sobre si as nossas dores e o nosso abandono, consumiu-se por amor para mostrar que as suas últimas 24 horas de vida aqui na terra — iniciadas na Quinta-feira, na Ceia do Senhor, até à sua descida, já morto, da Cruz para o sepultamento — foram as 24 horas mais longas, profundas e sublimes da História. Diante disso, é necessário olhar para Aquele que foi transpassado por Amor.

A Vigília do Amor: Meditando as Horas Santas da Paixão

Um dos caminhos para meditar na Semana Santa é a proposta espiritual do Relógio da Paixão, método devocional popularizado por Santo Afonso de Ligório, no qual somos convidados a orar com Cristo nas suas últimas horas de vida nesta terra, vivenciando o mistério insondável da Sua Paixão e Morte.

O Relógio da Paixão é um guia oracional com meditações que acompanham, hora a hora, os sofrimentos de Jesus desde a noite da Quinta-feira Santa até à Sua morte na Cruz, na Sexta-feira Santa. A cada hora, somos impelidos a interiorizar um momento específico das 24 horas da Paixão do Senhor, unindo o nosso coração ao Sagrado Coração d'Ele.

Jesus deixou um precioso desejo na Sua hora final: «…ficai vigilantes comigo» (Mt 26,38), este pedido por vigilância é o anseio de permanecer com Ele neste momento de oração. Esta prática, portanto, é uma resposta concreta para aliviar o abandono que Jesus sentiu, aliviando as Suas chagas abertas por amor.

Santo Agostinho, ao contemplar Jesus todo chagado na cruz, orava afectuosamente: «Escrevei, Senhor, vossas chagas em meu coração, para que nelas eu leia a dor e o amor: a dor, para suportar por vós todas as dores; o amor, para desprezar por vós todos os amores.»

Ao praticar o Relógio da Paixão, somos imersos numa devoção profunda, adentrando nos mistérios do Sagrado Coração de Jesus. Unimo-nos ao Cristo sofredor, que nos revela o valor da compaixão, do arrependimento e da Sua misericórdia infinita, fortalecendo a nossa fé.

Esta prática de meditação fortalece a alma contra o pecado e inflama o amor de Deus. A cada hora, meditando os mistérios da Paixão em oração silenciosa e íntima, é aconselhado fazer uma leitura meditativa com os textos preparados por Santo Afonso, oferecendo cada hora como um acto de amor, reparação e companhia a Jesus.

Relógio da Paixão

Início às 18h da Quinta-feira Santa até às 18h da Sexta-feira Santa.

Quinta-feira Santa

• 18h – A Ceia: Jesus despede-se com amor e institui a Eucaristia. «Dando o Santíssimo Sacramento Eucarístico, Jesus deu-se de modo que parecia sair de si mesmo e derramar-se nos Apóstolos, numa espécie de efusão de amor misericordioso.»

• 19h – Lava-pés: Jesus abaixa-se para servir. Amor humilde e puro. «Jesus inclina-se para lavar os pés dos discípulos, ensinando o valor de servir com amor e humildade. Indica, com este gesto, a purificação das faltas quotidianas. Pedro, porém, viu nele apenas uma humilhação muito grande para o Mestre; não sabia que Jesus, para salvá-lo e aos demais homens, se humilharia até à morte de cruz.»

• 20h – Discurso da despedida: Jesus consola os discípulos e promete o Espírito Santo.

• 21h – Horto das Oliveiras: Começa a agonia. Jesus sente o peso de todos os pecados.

• 22h – Suor de sangue: Em angústia mortal, Jesus aceita a vontade do Pai. «De joelhos, Jesus reza pedindo forças ao Pai. Angustiado pela visão dos inúmeros crimes e ingratidões humanas, suplica: 'Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice'. Depois, assume a vontade do Pai: 'Não se faça a minha vontade, mas a vossa'.»

• 23h – A traição: Judas chega com os soldados; Jesus é preso.

Sexta-feira Santa (madrugada)

• 00h – Casa de Anás: Jesus é interrogado e insultado.

• 01h – Casa de Caifás: Falso julgamento. Jesus é acusado injustamente.

• 02h – Negação de Pedro: O olhar misericordioso de Jesus toca Pedro. «Esgotado pelas angústias, Pedro vacila. Ao ser confrontado pela terceira vez, nega. Lembra-se então da profecia de Jesus e é tocado pelo Seu olhar misericordioso.»

• 03h – Prisão humilhante: Jesus passa a noite preso, sozinho e ferido.

• 04h – Conselho dos anciãos: Decidem entregar Jesus a Pilatos.

• 05h – Diante de Pilatos: Jesus é acusado, mas permanece sereno.

Sexta-feira Santa (manhã)

• 06h – Envio a Herodes: Jesus é zombado como louco.

• 07h – Pilatos tenta libertá-Lo: A multidão grita “Crucifica-O!”.

• 08h – Flagelação: Jesus é cruelmente açoitado pelos nossos pecados.

• 09h – Coroação de espinhos: Jesus é tratado como rei de zombaria.

• 10h – Ecce Homo: Jesus é apresentado ao povo, coberto de dores.

• 11h – Condenação: Jesus é condenado à morte. Carrega a cruz.

Sexta-feira Santa (tarde)

• 12h – Crucifixão: Jesus é pregado na cruz. Início das 3 horas de agonia.

• 13h – Palavras da cruz: Perdão, promessa ao bom ladrão, entrega da Mãe.

• 14h – Abandono: «Meu Deus, por que me abandonaste?» – dor da alma.

• 15h – Morte: Jesus entrega o espírito. Amor levado ao extremo. «'Tudo está consumado!' – E, levantando a cabeça, exclamou: 'Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito'. Depois inclinou a cabeça e expirou.»

• 16h – Lança no lado: Do Coração aberto, jorram sangue e água.

• 17h – Descida da cruz: O corpo de Jesus é entregue à Mãe.

• 18h – Sepultamento: Jesus é colocado no túmulo. Silêncio. Esperança.

 

Este é um precioso itinerário para vivenciar a Semana Santa: passar 24 horas com Jesus no Relógio da Paixão, ao acompanhar cada hora com o Senhor até à Sua Morte de Cruz, aprendemos a temer o pecado e a adquirir um coração abrasado por amor, lendo, nas Suas chagas abertas, a malícia do pecado e a grandeza do amor de Deus.

Como disse São Boaventura, quem quiser crescer de virtude em virtude, de graça em graça, deve meditar sempre na Paixão de Jesus, não há exercício mais útil para a santificação da alma do que considerar, com frequência, os sofrimentos de Cristo.

Que esta compreensão traga certeza ao nosso coração de quanto Deus nos ama e na companhia d'Ele, nos preparemos para ressurgir a uma vida nova no Seu corpo glorioso, triunfando sobre toda a morte.