Domingo da Divina Misericórdia: 25 Anos de uma Transformação Silenciosa

Domingo da Divina Misericórdia: 25 Anos de uma Transformação Silenciosa

Domingo da Divina Misericórdia: 25 Anos de uma Transformação Silenciosa

Celebrando a oitava da Páscoa, aproximamo-nos da grande Festa da Divina Misericórdia, celebrada no próximo Domingo, onde serão comemorados os 25 anos da sua instituição no Jubileu do ano 2000.

A divulgação do culto da Misericórdia Divina teve como mensageira uma simples religiosa, sem instrução, mas valorosa e de uma obediência e confiança sem limites em Deus. Jesus Cristo escolheu a Irmã Maria Faustina Kowalska para a grande missão: levar o anúncio da Misericórdia a todo o mundo. «Hoje envio-te – disse – a toda a humanidade com a Minha misericórdia. Não quero castigar a sofrida humanidade, mas desejo curá-la estreitando-a ao Meu misericordioso coração» (D. 1588).

Jesus confirma a Santa Faustina uma função específica que servirá tanto para a sua passagem aqui neste mundo, como no céu: «És a secretária da Minha misericórdia, Eu te escolhi para esta função nesta e na outra vida» (D. 1605); e como secretária da Divina Misericórdia, mostrou a grandeza deste mistério, animando com as suas experiências místicas e o seu desejo constante de santidade: «Ó meu Jesus, – confessou no diário – Vós sabeis que desde os meus mais tenros anos eu desejava tornar-me uma grande santa, isto é, desejava amar-Vos com um amor tão grande com que até então nenhuma alma Vos tinha amado» (D. 1372).

Irmã Faustina no seu «Diário», escrito durante os últimos 4 anos da sua vida por expressa ordem de Nosso Senhor, traz orações, práticas e novas formas do culto da Misericórdia de Deus, tais como:

  • A Imagem de Jesus Misericordioso«Por meio dessa Imagem concederei muitas graças às almas; que toda alma tenha, por isso, acesso a ela» (D. 570);
  • A instituição da Festa da Misericórdia«Desejo que a Festa da Misericórdia seja refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pecadores» (D. 699);
  • O Terço da Misericórdia Divina«As almas que rezarem este Terço serão envolvidas pela Minha misericórdia, durante a sua vida, e de modo particular, na hora da morte» (D. 754).

O culto da Misericórdia Divina, que o próprio Jesus revelou que deve ser venerado na hora da sua morte, a hora da Misericórdia: «Todas as vezes que ouvires o bater do relógio, às três horas da tarde, deves mergulhar toda na Minha misericórdia, adorando-A e glorificando-A» (D. 1572).

Por fim, a divulgação do culto da Misericórdia não exige muitas palavras ao recorrer ao valor e méritos da Paixão do Senhor; deve ser acompanhado por obras de misericórdia, acções, palavras e orações com um amor activo para com o próximo.

Instituição da Festa da Divina Misericórdia

No ano jubilar de 2000, São João Paulo II, ao canonizar a Irmã Faustina Kowalska, instituiu oficialmente a Festa da Divina Misericórdia, a celebrar no primeiro Domingo após a Páscoa.

Esta decisão não foi apenas litúrgica, mas profundamente pastoral e profética: foi um convite ao mundo para mergulhar no coração misericordioso de Cristo, num tempo marcado por feridas profundas da História.

Os Primeiros Anos: Sementes de Misericórdia

São João Paulo II, o Papa que tinha uma íntima ligação com a mensagem da Divina Misericórdia, foi o maior propagador desta devoção. Desde a década de 80 que incentivou a leitura do Diário, «A Misericórdia Divina na minha alma», da Irmã Faustina, bem como a recitação do Terço da Misericórdia. Após a instituição da festa, as primeiras celebrações eucarísticas foram marcadas por uma intensa presença dos fiéis e uma crescente aceitação da Igreja, fazendo com que a devoção se expandisse rapidamente nas comunidades e paróquias de todo o mundo.

Expansão Global da Devoção

Com o passar do tempo, o culto da Misericórdia Divina difundiu-se por todos os continentes. Actualmente, muitas igrejas e capelas em todo o mundo exibem a imagem de Jesus Misericordioso, com os raios branco e vermelho, símbolo do sangue e da água que jorram do lado aberto de Cristo.

Foram construídos Santuários dedicados à Divina Misericórdia em diversos países, com destaque para o de Lagiewniki, em Cracóvia (Polónia), e noutros locais como nas Filipinas, Estados Unidos, Brasil e Itália. Estima-se que a imagem já se tenha espalhado por mais de 100 países.

Em Portugal, a devoção à Divina Misericórdia tem vindo a crescer de forma notável nas últimas décadas, e o Santuário de Cristo Rei assume um papel central nesta missão. O centro da espiritualidade do Santuário é o Sagrado Coração de Jesus, representado na imagem de Cristo de braços abertos, cujo Coração resplandece como sinal do Amor misericordioso que acolhe toda a humanidade.

O Santuário tem-se alicerçado sobre três colunas fundamentais: paz, perdão e pão (Eucaristia). Estas dimensões estão profundamente unidas à espiritualidade da Misericórdia: a paz que brota do encontro com o Coração de Jesus, o perdão que se manifesta na reconciliação e nas obras de misericórdia, e o pão da Eucaristia, fonte e cume da vida cristã, onde o próprio Cristo se oferece em sacrifício de amor.

No alto do Monumento, na Capela dos Confidentes do Coração de Jesus, encontra-se uma relíquia de Santa Faustina Kowalska, bem como quadros alusivos à Santa e a Jesus Misericordioso, convidando todos os peregrinos a mergulharem no mistério do Amor misericordioso de Deus. Assim, o Santuário de Cristo Rei tornou-se, em Portugal, um lugar privilegiado de encontro com a Misericórdia Divina.

Impacto na Espiritualidade Católica

A espiritualidade da Misericórdia Divina impactou profundamente a prática da fé quotidiana. Milhares de fiéis testemunham curas físicas, conversões, reconciliações familiares e paz interior através da oração do Terço da Misericórdia e da confissão regular, conforme pediu Jesus. Esta devoção tornou-se uma via segura para redescobrir o amor pessoal de Deus, especialmente para aqueles mais afastados da fé.

Os Papas do nosso tempo ajudaram a impactar o culto da Misericórdia Divina com as suas orações, pronunciamentos e documentos oficiais:

  • São João Paulo II ensinava: «A misericórdia é a segunda face do amor de Deus» e «em Cristo e por Cristo, Deus com a sua misericórdia torna-se também particularmente visível; isto é, põe-se em evidência o atributo da divindade, que já o Antigo Testamento, servindo-se de diversos conceitos e termos, tinha chamado 'misericórdia'» (Encíclica, Dives in Misericordia).
  • Bento XVI reforçou que «a misericórdia não é uma ideia abstracta, mas uma realidade concreta com a qual Deus revela o Seu amor como o de um pai e de uma mãe».
  • O Papa Francisco, por sua vez, fez da Misericórdia o centro do seu pontificado, sobretudo no ano jubilar da Misericórdia, em 2016, com a sua bula Misericordiae Vultus, afirmando: «A misericórdia é o nome de Deus».

Desafios e Oportunidades

Apesar do crescimento e da constatação da expansão da devoção da Divina Misericórdia no mundo, ainda tal devoção enfrenta resistências e desconhecimento nalgumas regiões, pelo facto de associar o culto à misericórdia apenas a um acto reparatório de indulgência ou a uma fé sem compromisso prático.

O desafio actual é aprofundar a compreensão teológica a respeito da Misericórdia como potência para transformação da vida cristã, assim como uma grande oportunidade de evangelização, unindo o lado devocional da espiritualidade da Divina Misericórdia com as obras de misericórdia para um amor activo para com os que mais necessitam da Sua Infinita Misericórdia.

Ao celebrar os 25 anos da Festa da Divina Misericórdia, é preciso reconhecer quanto esta devoção moldou a espiritualidade contemporânea da Igreja e marcou este tempo, ocupando um lugar privilegiado na teologia, mostrando uma união estreita entre o mistério pascal da Redenção e o mistério da Misericórdia de Deus, sendo um refúgio e abrigo para as almas, especialmente para os mais pecadores, sendo a última tábua de salvação.

Convidamos a todos os fiéis a venerar com fé, para não perecer por toda a eternidade, unindo nesta festividade os seus corações ao coração de Jesus que é manso e humilde.

Confiantes n'Ele, proclamemos com fé: «Jesus, eu confio em Vós!».

terça, 22 de abril de 2025