Na paixão de Jesus, amor que não tem fim

Na paixão de Jesus, amor que não tem fim

Na paixão de Jesus, amor que não tem fim


Talvez por primeira vez não poderemos participar nas grandes celebrações da Semana Santa, a Semana Maior de nossa fé. Mas isso não nos impede de meditarmos juntos sobre esse grande mistério da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, mistério de um amor que não tem fim, nem limites.


Quem matou Jesus?

Quem matou Jesus? Quem poderia matar esse homem que se encarnou, rebaixando-se, curando, trazendo aqueles que estavam à margem da sociedade para o centro das atenções, devolvendo dignidade aos que não encontravam sitio entre os seus, ressuscitando amigos e desconhecidos, dando pão a quem tem fome e água a quem tem sede de VIDA?


Não, a resposta não é a que imaginamos. Não foi o sistema político, muito menos o religioso. O culpado da morte de Jesus é somente um: o Amor!

Que amor é esse?

“Deus é amor”, lemos em 1 João 4, 8. Mas Deus quis a morte de Seu Filho? Não! Mas foi necessário que Jesus morresse para religar o homem ao Pai, formando agora uma aliança, não como as estabelecidas por Noé, Abraão ou Moisés. A Aliança de Jesus foi selada no sangue vertido do Seu coração aberto, tornando-se, assim, não apenas uma aliança mais, mas a Nova e Eterna Aliança com Aquele que nos criou.


O amor de Jesus expresso na Sua Paixão e Morte resgata-nos e livra-nos de nós mesmos, dando-nos a graça de configurar as nossas dores com as Suas dores. Ele morre para que morra em nós o pecado e toda a força do mal.

A morte de Jesus rompe as cordas que o mundo e o inimigo de Deus utilizavam para nos manipular, como se fossemos marionetes. Agora, livres, podemos adentrar-nos nesse Coração Sagrado que nos explica todas as coisas.


Carta de alforria 

“O amor explicou-me tudo”, dizia São João Paulo II ao falar de Jesus e desse amor que vai para além das barreiras que nós mesmos colocamos e que lança fora todo o temor.


A paixão, crucifixão e morte de Jesus garantem-nos não apenas a vida em abundância, mas também a verdadeira liberdade. É como uma carta de alforria assinada à base de sangue, onde Ele nos resgata com a Sua própria vida, vida divina.

O Amor explica todas as coisas, inclusive o modo como tantos homens e mulheres se comprometem com a vida, fazendo das suas próprias vidas e vocações, extensões do Coração aberto de Jesus, do qual jorra sangue e água de misericórdia para lavar o mundo de toda a iniquidade.

A Paixão dos amigos de Jesus

Ser cristão é ser um “outro Cristo” e há quem viva esta verdade com muita seriedade. Neste tempo de combate ao coronavírus (COVID-19), muitos são os testemunhos de quem completa a Paixão de Jesus, dando a sua vida para que outros tenham vida.


Encontramos um exemplo radical desta doação no padre italiano Giuseppe Berardelli, de 72 anos. Contraiu o coronavírus e estava internado no Hospital Lovere, em Bergamo, uma das áreas mais atingidas da Itália.

Os seus paroquianos compraram-lhe um ventilador para que tivesse mais possibilidades de sobreviver e vencer o COVID-19. Mas qual foi a atitude do padre? Don Giuseppe recusou-se a usar o aparelho e pediu que o usassem num paciente jovem, que ele nem conhecia.

Padre italiano Giuseppe Berardelli

Encontramos semelhanças com Jesus? O padre Giuseppe Berardelli preferiu que outro tivesse vida em seu lugar, renunciando a si mesmo e às possibilidades de melhoria que lhe tinham oferecido. Aprendeu com Cristo a dar a vida pelos seus irmãos. 

Adoremos a Paixão!

Neste tempo especial que estamos vivendo, adoremos a Paixão de Nosso Senhor em cada um de Seus atos de amor, através desta bonita oração do séc. IX, atribuída a Jorge de Nicomedia:


Beijo a tua paixão, com a qual fui libertado das minhas más paixões.
Beijo a tua Cruz, com a qual condenaste o meu pecado e me libertaste da condenação à morte.
Beijo aqueles cravos, com que removeste o castigo da maldição.
Beijo as feridas dos teus membros, com que foram curadas as feridas da minha rebelião.
Beijo a cana com que assinaste o atestado da minha libertação e com que feriste a cabeça arrogante do dragão.
Beijo a esponja encostada aos teus lábios incontaminados, com que a amargura da transgressão me foi transformada em doçura.
Tivesse podido eu degustar aquele fel, que dulcíssimo alimento não teria sido!
Tivesse podido eu tomar o vinagre, que bebida agradável!
Aquela coroa de espinhos teria sido para mim um diadema régio.
Aquelas cusparadas me teriam ornado como esplêndidas pérolas.
Aquelas zombarias me teriam ornado como sinal de profundo obséquio.
Aquelas bofetadas me teriam glorificado como o prestígio mais alto.
Eu te beijo, Senhor, e a tua paixão é o meu orgulho.
Beijo a lança que dilacerou o documento da minha dívida e abriu a fonte da imortalidade.
Beijo o teu lado do qual jorraram os rios da vida e brotou para mim o rio perene da imortalidade.
Beijo a tua mortalha com que me adornaste tirando-me as minhas vestes vergonhosas.
Beijo o preciosíssimo sudário de que te revestiste para envolver-me na veste dos teus filhos adotivos.
Beijo o túmulo no qual inauguraste o mistério da minha ressurreição e me precedeste pela estrada que sai do Hades.
Beijo aquela pedra com a qual me tiraste o peso do medo da morte. Amém!

Quinta, 9 de Abril de 2020