A Misericórdia de Deus e a miséria da humanidade

A Misericórdia de Deus e a miséria da humanidade

A Misericórdia de Deus e a miséria da humanidade:
um encontro pelo qual todos nós passamos.

Sobre a misericórdia de Deus podemos ter uma certeza: um dia a nossa miséria encontrar-se-á com ela.

Durante a pandemia do coronavírus, por exemplo, as televisões de inspiração católica estão a ter elevados índices de audiência em todo o mundo, não apenas por conta do isolamento social necessário para conter o avanço do vírus, mas também por uma maior consciência da nossa pequenez, pela necessidade de manter a fé num período em que, em muitos países, as celebrações litúrgicas publicas foram suprimidas e pelo anseio de alcançar misericórdia Daquele que é o único que a pode dar: Deus!

Miséria X Misericórdia

Um padre italiano em missão no Brasil, João Henrique, costuma dizer que “toda a miséria invoca uma misericórdia”. Traduzindo: uma miséria exposta e trazida à tona, é uma miséria que pode aceder à misericórdia de Deus e por ela ser sarada.

É como ir a um médico e não dizer o que se sente: dificilmente ele poderá fazer um diagnóstico acertado ou receitar a medicação adequada. Mas, se o paciente disser com claridade e sinceridade os sintomas que tem, mais facilmente o médico agirá de forma eficaz e maior é a probabilidade da pessoa ver a sua saúde restabelecida.

Assim também acontece com a nossa alma: o pecado exposto ao Senhor e a humildade diante de Seu coração compassivo, do qual jorram sangue e água de misericórdia, resultam em mudança de vida, metanoia, restauração!

O nome de Deus

O Papa Francisco é conhecido pelo seu grande amor e devoção à misericórdia de Deus. Logo no início do seu pontificado, no decurso do Ano Santo da Misericórdia, foi lançado o livro “O nome de Deus é Misericórdia”, uma conversa de Francisco com o jornalista Andrea Tornielli.

Na entrevista, o romano pontífice ajuda o leitor a entender que Deus é, sim, o Justo Juiz, que julga com braço forte, mas não é um carrasco. Ele julga com misericórdia.

Num dos parágrafos, é dito “Jesus vem em nosso auxílio quando reconhecemos que somos pecadores (...) e devemos pedir a graça de não nos cansarmos de pedir perdão, porque Ele jamais se cansa de perdoar”. E continua dizendo que “Deus perdoa não com um decreto, mas com um gesto de carinho (...) Jesus vai além da lei e perdoa, acariciando as feridas dos nossos pecados”.

Durante o Ano da Misericórdia, os fiéis em todo o mundo tiveram a oportunidade de passar pelas chamadas “Portas da Misericórdia”, recebendo indulgências e fazendo o compromisso de também elas serem pessoas “misericordiadas”, assumindo a atitude de “misericordiar” com aqueles que lhe pedem perdão (ou não), tendo, como Jesus, um “amor heroico”, que ama até mesmo os inimigos que se mostram incapazes de pedir perdão.

O Sacramento da Reconciliação

Ainda sobre a atitude de reconhecer-se pecador e procurar o perdão, o Papa Francisco, grande encorajador de uma Igreja aberta e em saída, diz, convidando a todos para uma vida penitencial: “É verdade que existe um julgamento na confissão, mas existe algo mais importante que o julgamento: é o estar perante outra pessoa que age in persona Christi para acolher e perdoar. É o encontro com a misericórdia!”. E conclui o pontífice: “A Igreja não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus”.

Ato de contrição

Neste momento dificilmente temos acesso ao sacramento da reconciliação na sua forma convencional. Contudo, somos convidados a, na intimidade das nossas casas, reconhecer as nossas limitações e debilidades e assumir uma atitude de humildade diante de Jesus, pedindo-lhe misericórdia.

Após uma oração sincera e de coração contrito diante do Senhor, fazemos o firme propósito de, na primeira oportunidade, recorrer a um sacerdote para confessar-nos sacramentalmente. Assim, as barreiras impostas por este tempo de distanciamento social não nos impedirão de encontrarmo-nos com esta misericórdia sem limites.

Um bom exame de consciência pode ajudar-nos nesse momento de oração e misericórdia. Perguntemo-nos: como me tenho afastado de Deus? Como tenho ferido os meus irmãos? Como me tenho ferido a mim mesmo? Como me tenho desentendido do cuidado da casa comum?

Pode servir de ajuda escrever a resposta a estas perguntas, com a firme confiança que, tal como nos recorda o Papa Francisco: “Jesus jamais se cansa de perdoar!”.

Terça, 14 de Abril de 2020