Ao olhar para as Sagradas Escrituras com a atenção posta nas figuras paternas, logo nos salta à vista a história do “Filho Pródigo”, não é? Ou ainda, com um título mais paterno, a história do “Pai Misericordioso”.
Neste Ano de São José, o tema da paternidade tem sido tratado com um carinho ainda maior. Se considerarmos os pais como imagens de Deus para nós, cada uma dessas histórias e/ou personagens, falam-nos de uma característica do Pai do Céu que nos ama, nos salva e nos envia em missão.
Um livro sobre um quadro especial
Henri J. M. Nouwen, conhecido autor cristão da Holanda, falecido em 1996, escreveu o livro “O regresso do filho pródigo” a partir da contemplação de um quadro famoso que retrata essa passagem bíblica tão conhecida e querida por toda a Igreja. Trata-se de uma obra de Rembrandt, a qual se encontra no Museu do Hermitage, em Sampetersburgo, na Rússia.
Dividido em três partes, o livro de Nouwen, detém-se detalhadamente na presença das três principais personagens desta história contada no capítulo 15 do evangelho de São Lucas (11-32): o filho mais novo, conhecido como “filho pródigo”; o filho mais velho, que não se alegra com o regresso do irmão; e o Pai que, com alegria, cuida dos dois filhos.
Contemplação
O mais bonito deste livro é que ao ser escrito a partir de uma contemplação, leva-nos também a contemplar não só a figura, mas essa história de paternidade, amor e misericórdia.
Como regressa o filho mais novo ao encontro do pai? Como é que o pai recebe esse seu filho rebelde? Como é que o filho mais velho vê o retorno do seu irmão?
Ao contemplarmos este episódio somos também convidados a colocar-nos na posição que mais se adequa a nós em cada momento. Quem somos hoje?
Nouwen conta no seu livro a experiência do encontro com esta obra de arte: “Um encontro aparentemente insignificante com um cartaz em que se via um pormenor de ‘O Regresso do Filho Pródigo’ de Rembrandt, foi para mim o início de uma longa aventura espiritual que me levaria a entender melhor a minha vocação e a recobrar novas forças para viver”.
E continua: “Os protagonistas desta aventura são: um quadro do século XVII e o seu autor, uma parábola do século I e o seu autor e um homem do século XX à procura do sentido da vida”.
Tudo começou com uma experiência que o autor fez numa comunidade que acolhia pessoas com doenças mentais, “A Arca”, em França. Aí, ao ajudar uma colaboradora, Nouwen deparou-se com um grande cartaz onde havia a reprodução de “O Regresso do Filho Pródigo”. A sua primeira reação foi ficar “de boca aberta” e coração acelerado. Ele mesmo diz: “É muito bonito, mais que bonito... dá-me vontade de rir e chorar ao mesmo tempo... não sei explicar-te o que sinto ao olhar para ele, mas estou profundamente comovido”. A rapariga, então, sugeriu que comprasse uma cópia para levar para casa e ele assim fez.
O Pai
No livro, o autor fala sobre cada uma das personagens, mas aqui quero deter-me na figura do pai, o pai das misericórdias. Em determinado ponto, Henri diz:
“Em vez de se intitular ‘O Regresso do Filho Pródigo’, bem poderia ter-se chamado ‘As Boas-vindas do Pai Misericordioso’. Dar-se ia menor importância ao filho que ao pai. De facto, a parábola é uma ‘Parábola do amor do Pai’. Ao ver a maneira como Rembrandt retrata o pai, surge no meu íntimo um sentimento novo de ternura, misericórdia e perdão. Poucas vezes, se é que alguma vez o foi, o amor compassivo de Deus terá sido expresso de forma tão comovedora”.
Ainda sobre a figura do pai, Nouwen fala sobre a festa preparada, o acolhimento feito ao filho pródigo e o modo como trata o filho mais velho que questiona a festa, dentre outros pormenores que nos ajudam a contemplar a beleza da misericórdia de Deus que nos acolhe com um amor que vai muito além do nosso merecimento.
Henri Nouwen encerra o livro de forma muito bonita e expressando gratidão: “Quando fui a Sampetersburgo, há quatro anos, ver ‘O Regresso do Filho Pródigo” de Rembrandt, não fazia a menor ideia do tempo durante o qual iria ter que viver o que então presenciei. Permaneço, com respeito, no lugar onde Rembrandt me conduziu. Conduziu-me desde o filho mais novo, ajoelhado e em desalinho, até ao ancião-pai, de pé e inclinado; desde onde era abençoado, ao lugar da bênção”.
Vale a pena ler e meditar através desta belíssima obra de arte de Rembrandt, com a companhia do também belíssimo livro escrito por Henri Nouwen. Será um verdadeiro mergulho no amor e na misericórdia do Pai.
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