Ter amigos é, sem dúvida, uma das maiores graças que Deus nos pode dar.
O Cardeal Tolentino Mendonça, grande “teólogo da amizade”, ajuda-nos a compreender o valor, o poder e a grandeza da amizade ao dizer:
“A amizade dialoga com coisas muito fundas dentro de nós: faz-nos reviver o primeiro amor com que fomos (ou não fomos) amados; toca as nossas feridas, mesmo as que não conseguimos verbalizar; transmite-nos confiança para sermos o que somos e como somos; estimula-nos a progredir vida fora”.
José Tolentino ao fazer estas afirmações, coloca uma lupa sobre a amizade e sobre o poder que esta tem de mover em nós diversos sentimentos, curando alguns deles, tais como o fracasso, a deceção ou a solidão.
Em especial neste tempo tão difícil que vivemos, a amizade tem sido lugar de descanso para tantas pessoas cansadas pela fadiga da doença, do luto, das batalhas perdidas, da frieza espiritual. Agora mais do que nunca, percebemos como um telefonema, uma videochamada ou uma carta tem o poder de nos devolver a nós mesmos e nos reinstalar na realidade.
Como disse Tolentino, a amizade dialoga com os assuntos mais profundos da nossa alma e do nosso coração, tendo o poder de levar luz a tantas escuridões e trevas que procuram assaltar-nos.
Jesus não prescindiu de ter amigos, senão que quis viver essa realidade tão cara e salvífica. Sim, uma amizade sadia pode salvar-nos do mundo e de nós mesmos. Jesus não quis apenas uma relação de Mestre e Senhor, mas de amizade com os Seus discípulos, como vemos em João 15, 15:
"Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai”.
Ainda sobre a relação de Jesus com a amizade, no mesmo capítulo, alguns versículos antes, encontramos uma revelação que também é para nós indicação do valor, do poder e da razão da amizade: “Ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (João 15, 13).
A amizade não é apenas um sentimento, mas a atitude de dar a vida por alguém que talvez não tenha o mesmo sangue que nós, nem as mesmas condições, mas, parafraseando Santo Tomás de Aquino, é alguém “que ama o que amamos e odeia o que odiamos”.
A amizade requere comunhão e dá-nos a certeza que, mesmo na distância, existe alguém que é lugar seguro para guardar segredos, lugar onde podemos descansar sem medo de ser nós mesmos, como Jesus fazia em Betânia, com Lázaro, Marta e Maria.
E, falando da família de Betânia, percebemos como a amizade também é ressurreição! Que bonito o modo como Jesus se comove com a morte do seu amigo Lázaro! Contemplamos as lágrimas de Cristo pela partida daquele que Lhe fazia tão bem: “E Jesus chorou!”, diz um dos menores versículos da Sagrada Escritura (cf. João 11, 35).
A relação de Jesus com os doze apóstolos e com os irmãos de Betânia mostra-nos como é importante expandir os laços além da família. Os amigos ajudam-nos a reconhecer e ter vontade de mudar o que há de pior em nós e ao mesmo tempo a crescer nas virtudes, na escolha de Deus e na opção pelo bem.
"Não esperamos nada dos nossos amigos, e essa franqueza é fundamental. Mas, não esperando nada, esperamos tudo, na medida em que a sua existência nos permite existir" (Cardeal D. José Tolentino / "O Pequeno Caminho das grandes perguntas”).
Aproveite hoje para falar com os seus amigos; enviar uma mensagem, uma carta, tomar um café... Ter amigos é dividir as dores e multiplicar as alegrias.
Que os santos amigos de Betânia roguem por nós!