A História
A inspiração
A concepção do Santuário de Cristo Rei é indissociável da espiritualidade e da devoção ao Coração de Jesus que caracterizou a pessoa e a missão do Cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977), XIV Cardeal-Patriarca de Lisboa. Na verdade, já desde criança, esta devoção se manifestava e, com o passar dos anos, foi crescendo e sendo aprofundada, nomeadamente com a amizade estabelecida, em Coimbra, com o Pe. Mateo Crawley. Em 1928, ano em que é nomeado Arcebispo de Mitilene e Bispo Auxiliar de Lisboa, é-lhe pedido para redigir a Pastoral Colectiva sobre a Consagração Nacional ao Coração Divino de Jesus. Mais tarde, em 1930, após ser nomeado Cardeal Patriarca de Lisboa e participar na cerimónia de investidura, em Roma, parte para França, onde peregrina a Lisieux e a Paray-le-Monyal, e reza junto ao túmulo de Santa Margarida Maria. É durante aqueles dias de recolhimento que elabora o seu programa pessoal, nomeadamente: “instaurar na sociedade portuguesa o reinado do Coração de Jesus.” Efectivamente, este propósito entranha-se de tal maneira no coração do Cardeal Cerejeira que, em Outubro de 1934, quando regressava do Congresso Eucarístico Internacional de Buenos Aires, ao sobrevoar de avião a cidade do Rio de Janeiro, perante a contemplação da imponente imagem do Cristo Redentor do Corcovado, recebe a inspiração de erigir em Portugal, nomeadamente em frente a Lisboa, um Santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Assim nasce, qual embrião, o Santuário de Cristo Rei.
Para que este projecto tivesse carácter nacional precisava da aprovação e cooperação de todos os Bispos Portugueses. E foi o que aconteceu, sendo oficialmente proclamada na «Pastoral Colectiva» da Quaresma de 1937.
Com a proclamação do reinado social de Cristo Rei face à prepotência da cultura ateia, as nações católicas foram convocadas a proclamar a Realeza de Cristo Rei, de modo a orientar a vida em sociedade segundo os princípios fundamentais da lei divina.
Diante deste contexto social e político dos anos 30, os Bispos Portugueses apontam três principais razões para a construção do Monumento a Cristo Rei:
- O dever de um desagravo social pela conspiração universal contra Cristo;
- O dever de gratidão a Deus pelo dom da paz social. Ao contrário de outros países Portugal conservou a paz, o que foi compreendido como um sinal singular da divina providência;
- A exigência da restauração nacional;
Em 1939, tem início a IIª Guerra Mundial. Durante este período, ganha renovado sentido e vigor a ideia da construção do Monumento a Cristo Rei.
No final do seu retiro anual, a 20 de Abril de 1940, os bispos portugueses reunidos em Fátima formularam o seguinte voto: “Se Portugal fosse poupado da Guerra, erguer-se-ia sobre Lisboa um Monumento ao Sagrado Coração de Jesus, sinal visível de como Deus deseja conquistar para Si toda a humanidade”.
Tendo Portugal mantido uma posição de neutralidade na IIª Guerra Mundial, não participando directamente nos conflitos bélicos, permitiu que se pusesse em marcha uma campanha nacional de angariação de fundos para a construção do Monumento. Apesar de todas as dificuldades próprias do contexto de guerra mundial, em 1941, foi adquirido o terreno para a construção do Monumento.
Devemos também fazer referência à participação das crianças portuguesas nesta campanha de angariação de fundo («pedras Pequeninas»), estendendo-se desde 1939 até 1958. O princípio que a norteou foi sobretudo o valor do sacrifício das crianças e a eficácia da sua oração. É de salientar que esta Campanha rendeu cerca de 7.500,00 €.
A 18 de Dezembro de 1949 é lançada a primeira pedra do Monumento, ano em que se celebrava o 50º aniversário da consagração da humanidade ao Sagrado Coração de Jesus pela mão do Papa Leão XIII.
Dois anos depois iniciam-se os trabalhos das fundações, e em 1952, a empresa Obras Públicas e Cimento Armado (OPCA) começa a construção dos alicerces. A obra foi realizada através de um sistema de cofragem especial (os chamados moldes viajantes, em que o andaime era a própria estrutura, recebendo o betão, nos quais se via crescer o pedestal da imagem de Cristo Rei, camada após camada). A própria imagem foi construída na estrutura entretanto erguida, utilizando-se para o efeito moldes de gesso, preparados previamente a partir da maqueta.
No total utilizaram-se cerca de 40 mil toneladas de betão. Depois de construído o pedestal, a Imagem foi esculpida à mão num trabalho de minúcia, desenvolvido a mais de cem metros do chão.
A 17 de Maio de 1959 (Dia de Pentecostes) perante a imagem de Nossa Senhora de Fátima, com a participação de todo o Episcopado Português, dos Cardeais do Rio de Janeiro e de Lourenço Marques (Maputo), autoridades civis e de cerca de 300 mil pessoas, inaugurou-se o Monumento. Sua Santidade, o Papa João XXIII fez-se presente por Radiomensagem. Na ocasião, o Cardeal Cerejeira fez uma consideração eloquente: “Este será sempre um sinal de Gratidão Nacional pelo dom da Paz”.