Subir Descendo: Os 12 Degraus da Escada de São Bento para a Verdadeira Vida Cristã

Escada de São Bento com os 12 degraus da humildade

Subir Descendo: Os 12 Degraus da Escada de São Bento para a Verdadeira Vida Cristã

Ao revisitarmos os ensinamentos de São Bento e a sua célebre escada da humildade, descobrimos um caminho prático para uma vida mais livre, ordenada e profundamente cristã.

Neste artigo, somos convidados a reflectir na contramão do mundo moderno, marcado pela autopromoção, pela procura do poder, pela prosperidade a qualquer custo e pela ânsia de reconhecimento. A proposta «Subir descendo», de São Bento de Núrsia, ergue-se como um farol que nos ilumina com a sua sabedoria, humildade e ordem interior.

A espiritualidade beneditina, enraizada na vida de São Bento — pai do monaquismo ocidental — ensina-nos, através da sua Regra, um caminho simbolizado por uma escada que, ao contrário das escadas humanas, nos leva para o alto à medida que descemos intimamente em nós mesmos.

Inspirado pela escada do sonho de Jacob — «Teve um sonho: viu uma escada apoiada na terra, cuja extremidade tocava o céu, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela.» (Gn 28,12) — São Bento utilizou esta imagem como símbolo da vida espiritual: «Pela exaltação desce-se, e pela humildade sobe-se.» (RB 7,7). Por esta escada, propôs um caminho com doze degraus de humildade: uma via mística, pela qual os monges, e todos os cristãos, podem subir em caridade e temor de Deus.

Hoje, este ensinamento torna-se ainda mais necessário. Com a luz de São Bento, somos convidados a descer dos pedestais ilusórios do orgulho e do culto da própria imagem, reencontrando a verdade sobre nós mesmos. Ao descer e olhar para o nosso interior, reconhecemos os nossos limites e, ao meditar os doze degraus da humildade, somos chamados a uma escuta atenta, à cura interior pelo silêncio e à graça de reconhecer que quanto mais descemos na escuta silenciosa, mais somos capazes de subir pela graça da humildade

Sendo humilde, o outro é sempre reconhecido como dom, e a sociedade será melhor quando menos pessoas quiserem aparecer e mais pessoas estiverem dispostas a servir, crescer em virtudes, em caridade e no temor a Deus.

A humildade como fundamento da vida espiritual

A Regra de São Bento (Regula Benedicti), escrita no século VI, é um dos textos monásticos mais marcantes da história cristã. Embora tenha sido destinada à formação espiritual dos monges, os seus princípios podem ser vividos, em profundidade, por qualquer fiel.

Esta escada espiritual, nos seus doze degraus, trata de temas fundamentais: humildade, obediência e autoridade, oração e trabalho, estabilidade, conversão de vida, vida comunitária, liturgia e celebração, hospitalidade, moderação e equilíbrio, formação e disciplina, e, por fim, o perfil de um abade.

No início do capítulo VII da Regra, São Bento recorda: «Todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.» (Lc 14,11). A humildade é uma verdade central da vida cristã — não pode ser ignorada nem considerada secundária, pois é o ponto de partida para qualquer crescimento na fé. O salmista também diz: «Senhor, o meu coração não é orgulhoso, nem os meus olhos são altivos; não procuro grandezas, nem coisas maravilhosas acima de mim.» (Sl 131,1). Abaixar-se é necessário, como João Baptista nos ensinou: «É necessário que Ele cresça e eu diminua.» (Jo 3,30).

Este percurso é misterioso e transformador. Descer em humildade não é cultivar baixa autoestima, nem negar os dons que Deus nos deu. Madre Teresa de Calcutá, por exemplo, desceu aos bairros pobres da Índia, aos corpos feridos pelo abandono e aos corações esmagados pela solidão; esvaziou-se até ficar a sós com Deus. E dizia: «Quanto mais nos esvaziamos de nós mesmos, mais Deus pode encher-nos com Ele.» São Francisco de Assis renunciou à riqueza do comércio e aos seus próprios sonhos e, pela via da humildade, desceu às ruas de Assis, abraçando os leprosos e reconstruindo a Igreja de Cristo. São Bento também deixou a nobreza e abraçou a simplicidade evangélica. Tornaram-se todos ícones vivos da humildade. A grandeza destes santos não veio do status, mas da entrega. Foram erguidos por Deus como resposta profética para o seu tempo — e para sempre.

Os doze degraus da humildade

1. Temor de Deus e consciência da sua presença

O primeiro degrau consiste em manter continuamente diante dos olhos a presença de Deus, pois Ele «vê todos os nossos pensamentos e actos» (RB 7,13). Esta consciência evita o pecado e conduz ao bem, mesmo no oculto.

2. Renúncia à própria vontade

Neste grau, o fiel aprende a dizer: «Seja feita a vossa vontade.» São Bento adverte: «Há caminhos que parecem rectos aos olhos dos homens, mas cujo fim conduz à morte» (RB 7,21).

3. Obediência amorosa ao superior

Inspirado em Cristo, o monge aprende a obedecer com amor, como exercício de escuta, entrega e fidelidade.

4. Paciência nas adversidades

A maturidade espiritual revela-se na capacidade de suportar, com serenidade, as adversidades. A humildade une-se ao sacrifício de Cristo, na esperança da ressurreição.

5. Confissão humilde dos pensamentos e faltas

O monge humilde abre-se ao seu abade, confessando fragilidades e pensamentos desordenados, buscando reconciliação e libertação interior.

6. Contentamento com o que há de mais humilde

Neste grau, o monge passa a aceitar com alegria os serviços mais simples como sinal de maturidade espiritual. À semelhança de Cristo, que Se fez servo e morreu na cruz.

7. Considerar-se inferior a todos

Não por falsa modéstia, mas com profunda consciência da própria miséria, o monge vê-se como o menor. Trata-se de um esvaziamento do ego, libertando-se da necessidade de validação e comparação.

8. Seguir o exemplo dos anciãos

A humildade leva à docilidade e ao reconhecimento da sabedoria dos mais experientes.

9. Amor ao silêncio

Evitar o falatório, cultivar o silêncio e falar com ponderação: atitudes que geram prudência e recolhimento interior.

10. Fugir do riso fácil

Evita-se a leviandade e a superficialidade. A alegria cristã é serena, marcada pela sobriedade.

11. Falar com modéstia e gravidade

As palavras devem nascer de um coração humilde: oportunas, suaves e sem arrogância.

12. Humildade visível no corpo

A postura, o olhar, os gestos — tudo deve reflectir o que vai na alma. Conta-se que São Francisco de Assis disse ao Frei Leão: «Vamos pregar o Evangelho; se for necessário, usaremos palavras.» Caminharam em silêncio pela praça pública, e Francisco ensinou que o testemunho silencioso pode ser mais eloquente do que mil palavras. Assim também o monge: deve expressar com o corpo a fé que vive no coração.

A meta da escada: o amor perfeito

O objectivo da escada espiritual é conduzir à caridade perfeita. São Bento afirma que, ao alcançar o topo, o monge praticará o bem «não por temor do inferno, mas por amor de Cristo» (RB 7,69). A humildade é um meio, não um fim: leva-nos ao amor, e o amor une-nos a Deus com alegria e liberdade.

A pedagogia da Regra é profundamente realista, propondo um olhar sincero sobre si mesmo, combatendo o orgulho e a autossuficiência, oferecendo uma via concreta de conversão quotidiana.

Um caminho para todos os cristãos

Embora escrita para monges, a Regra é actual e fecunda para todos os baptizados. Num tempo em que a aparência, o sucesso e a autonomia individual são idolatrados, a humildade cristã apresenta-se como remédio contra o narcisismo. Liberta-nos da escravidão da imagem e reconduz-nos à liberdade dos filhos de Deus.

«Subir descendo» é um caminho evangélico, inspirado em Cristo, que Se humilhou até à morte de cruz, e por isso foi exaltado. A escada de São Bento é, no fundo, a escada da cruz: uma via de abaixamento, serviço e obediência confiante, que nos transfigura e ressuscita para uma vida nova.

Por fim, a humildade não se atinge de uma só vez. É um percurso virtuoso, que exige paciência, combate interior e fidelidade. O orgulho vai cedendo lugar à simplicidade; a vaidade pessoal é substituída pela verdade; e o medo é vencido pela confiança em Deus.

Ao percorrermos, com fé, cada degrau desta escada silenciosa, peçamos a intercessão de São Bento. Pois só com esforço pessoal e a graça divina alcançaremos esta ascensão que transforma.

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