Os últimos Papas e o Coração de Jesus

Depois das revelações de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, o primeiro Papa a pronunciar-se sobre esta devoção foi Clemente XIII, que declara que ao Coração de Jesus trespassado pela lança do soldado, é tributada adoração, aprovando assim o respectivo culto.

O Papa Pio VI na sua Constituição Apostólica “Auctorem fidei”, de 28 de Agosto de 1794, dá um novo contributo, voltando a declarar que esta devoção é algo de essencial e que “a doutrina que rejeita o Sacratíssimo Coração de Jesus, é falsa, temerária, nociva, ofensiva para os ouvidos piedosos e ofensiva para a Sé Apostólica".

O Papa Pio IX, grande devoto do Sagrado Coração de Jesus, estendeu a Festa a toda a Igreja Universal.
A este Papa deve-se a aprovação da prática do mês de Junho em honra do Coração de Jesus, bem como a divulgação do uso da imagem segundo as revelações de Santa Margarida Maria.

Leão XIII, a 11 de Junho de 1899 consagra todo o género humano ao Coração de Jesus, anunciada na Carta Encíclica Annum Sacrum, de 25 de Maio de 1899. A 21 de Junho, o mesmo Papa aprova as ladainhas do Coração de Jesus, e no mesmo texto da Congregação dos Ritos, com essa data, aparece a exortação para os fiéis viverem as Primeiras Sextas-Feiras, prática que Jesus tinha pedido a Santa Margarida Maria Alacoque.

Mais tarde, S. Pio X dispôs que a consagração ao Coração de Jesus se renovasse todos os anos, e Bento XV aprovou o culto ao Coração de Jesus, com Missa e Ofício próprio, num decreto datado de 1921. Foi também célebre a Encíclica de Pio XI, Miserentissimus Redemptor, datada de 8 de Maio de 1928.
Por sua vez, Pio XII, na encíclica Haurietis Aquas de 15 de Maio de 1956, toda dedicada ao Coração de Jesus, afirmou o seguinte:

“O Coração de Cristo é o Coração da Pessoa divina, isto é, do Verbo incarnado, e portanto representa e quase põe diante dos nossos olhos todo o amor que Ele teve e tem ainda por nós. Precisamente por esta razão, o culto ao Coração Sacratíssimo de Jesus deve merecer tanto a nossa estima, que o consideremos a profissão mais completa de toda a religião cristã… Por conseguinte, é fácil concluir que, afinal, o culto ao Coração Sacratíssimo de Jesus é o culto do amor com o qual Deus nos amou, por meio de cristo, e é também a prática do nosso amor a Deus e aos outros”.

O Papa Paulo VI, na carta apostólica, Investigabiles Divitias Christi, de 6 de Fevereiro de 1965, escreveu:

“É absolutamente necessário que os fiéis prestem homenagem do culto, com práticas de piedade privadas e manifestações públicas, ao Coração de cuja plenitude todos nós recebemos, e d’Ele aprendam a maneira perfeita de ordenar a sua vida, para que esta corresponda plenamente às exigências dos nossos tempos…”.

Estes e muitos outros textos colocam diante de nós o pensamento da Igreja. É urgente intensificar e renovar a devoção ao Coração de Jesus. Precisamos de falar dela, de exortar a vivê-la, de a dar a conhecer. É esta uma das grandes missões do Apostolado da Oração, e também de todos os pastores e de todos os fiéis. Urge cumpri-la. Daqui virá a “civilização do amor”.
 
O Papa João Paulo II ao longo do seu pontificado falou e escreveu muito sobre o Coração de Jesus. Parecia ser uma das suas devoções, uma das suas “paixões”. Na grande encíclica “Dives in misericórdia”, (Deus rico em misericórdia) escreveu que “a Igreja parece professar de modo particular a misericórdia de Deus e venerá-la, voltando-se para o Coração de Cristo. De facto, a aproximação de Cristo, no mistério do seu Coração, permite-nos deter-nos neste ponto da revelação do amor misericordiosos do Pai, que constitui, em certo sentido, o núcleo central – e, ao mesmo tempo, o mais acessível no plano humano – da missão messiânica do Filho do Homem”.

Mais tarde, a 19 de Outubro de 1985, o Papa afirmou que “do Coração trespassado de Cristo crucificado, brota a civilização do amor: No santuário daquele Coração, Deus inclinou-Se sobre o homem e fez-lhe o dom da sua misericórdia, capacitando-o a abrir-se, por sua vez, em misericórdia e em perdão para com os outros”.

Posteriormente, em 11 de Junho de 1999, no centenário da Consagração do género humano ao Coração de Jesus, João Paulo II, voltou a manifestar-se a propósito deste tema: “Por ocasião da solenidade do Sagrado Coração e do mês de Junho, exortei muitas vezes os fiéis a perseverarem na prática deste culto, que contem uma mensagem especial que é, nos nossos dias, de extraordinária actualidade”, porque do Coração do Filho de Deus morto na cruz surgiu a fonte perene de vida que dá esperança a cada homem. Do Coração de Cristo crucificado nasce a humanidade, redimida do pecado. Diante da tarefa da nova evangelização, o cristão olhando para o Coração de Cristo, Senhor do tempo e da história, a Ele se consagra e, ao mesmo tempo, consagra os próprios irmãos, redescobre-se portador da sua luz”. Como afirmou João Paulo II, a nova civilização e a nova evangelização nascem do Coração de Cristo trespassado.

O Papa Bento XVI, que no cinquentenário da encíclica de Pio XII, “Haurietis Aquas”, escreveu ao P. Geral da Companhia de Jesus, responsável pela devoção ao Coração de Jesus, retoma o tema desta devoção e impulsiona a que não se afrouxe no desejo de dar a conhecer o Coração de Cristo. Apóstolos destemidos deste Divino Coração pois n’Ele estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência. E na sua primeira encíclica afirma:

“O olhar fixo no lado trespassado de Cristo”, de que fala S. João (cf. 19,17), compreende o que serviu de ponto de partida a esta carta Encíclica: “Deus é Amor. É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar (nº 12)”.

Para Bento XVI, até o núcleo central da encíclica nasce do Coração trespassado. E mais adiante volta ao tema ao afirmar: “Ao longo das reflexões anteriores, pudemos fixar o nosso olhar no Trespassado, reconhecendo o desígnio do Pai que, movido pelo amor, enviou o Filho ao mundo para redimir o mundo” (nº19). Com estas palavras somos novamente convidados a olhar Aquele que trespassaram. Aliás, Bento XVI, convidou-nos a passar toda a Quaresma de 2007 a contemplar Aquele que trespassaram, pois só assim nos podemos converter ao amor, só assim amar o amor de Deus, só assim ter um coração que vai amando ao jeito de Jesus.