O Santuário de Cristo Rei, dedicou uma sala ao bom Papa Beato João XXIII, por ser no seu pontificado a inauguração do Monumento. No dia 17 de Maio de 1959, Sua Santidade fez-se presente através de radiomensagem.
Para além dessa relação histórica, João XXIII ofereceu um cálice ao Santuário de Cristo Rei, cálice este que lhe fora oferecido pelo Santuário de Nossa Senhora de Fátima, aquando da sua Peregrinação à Cova da Iria a 13 de Maio de 1956, como Patriarca de Veneza.
Sendo o Santuário de Cristo Rei fruto da Paz, prefiguram nesta sala oito quadros a óleo, da autoria do Arquitecto Sousa Araújo, alusivos à grande Encíclica “Pacem in Terris” do bom Papa. (ver fim desta página).
Esta Encíclica é fruto da necessidade que João XXIII teve em fazer uma síntese do pensamento cristão sobre a questão da paz. Na altura, tinha-se resolvido a “Crise de Cuba”. Estávamos em plena Guerra Fria.
Depois de saber que lhe restavam poucos meses de vida, o Beato João XXIII decidiu gastar os meses que lhe restavam em volta da reflexão acerca da Paz. Ao escrever a Encíclica, o Papa parte da convicção de que a paz só pode ser instaurada e consolidada se o Homem respeitar a ordem estabelecida por Deus.
A doutrina da presente Encíclica convida a Igreja a procurar-se a si própria “mesmo fora de si”. É um documento aberto, universal, que a todos quer chegar, não só aos crentes mas a todos os homens e mulheres de boa vontade, que nutrem uma especial preocupação pelos valores da Paz.
A Encíclica é composta por cinco partes:
- Na primeira parte o Papa faz uma reflexão acerca da ordem entre os seres humanos, ordem esta que é composta por direitos e deveres. É no cumprimento e respeito por esta ordem que a harmonia é estabelecida.
- Na segunda parte, faz-se uma abordagem acerca das relações entre os seres humanos e os poderes públicos. Tais relações devem ter em conta por parte dos poderes públicos que todo o poder deve ser exercido na base do serviço, e que toda a autoridade deve ser vista à luz da sua origem divina. Os poderes públicos têm assim o dever de promover o bem comum.
- Na terceira parte fala-se das relações das comunidades políticas entre si. Tais relações, devem passar pela verdade, justiça e caridade. Só respeitando estes três grandes valores, as comunidades políticas conseguem o equilíbrio necessário entre as populações, terra e capitais.
- Na quarta parte o Papa faz uma reflexão sobre as relações entre os seres humanos e as comunidades políticas com a comunidade mundial. Fala-se da inter-dependência entre as comunidades políticas; detectando as deficiências da autoridade pública em relação ao bem comum universal. Nestas relações entre seres humanos e comunidades políticas é importante que se reflicta acerca dos poderes públicos, onde estes não devem ser instituídos pela força, mas de comum acordo com o princípio do equilíbrio de toda a vida social.
- Na quinta e última parte, o Papa lança algumas directrizes pastorais, onde para além da reflexão que se faz acerca do dever da participação na vida pública, bem como a competência científica, capacidade técnica e perícia profissional, fala de igual modo da necessidade da harmonia dos cristãos entre a Fé e a vida pública. É neste esforço conjunto que se devem basear as relações dos católicos com os não católicos no sentido de todos procurarem desenvolver o bem comum universal.
- No final faz-se uma alusão à Eucaristia final onde Cristo será tudo em todos.
Com a pintura dos quadros, o Arquitecto Sousa Araújo projecta nas telas o que está escrito no texto, oxalá que através destas obras plásticas cada peregrino sinta em si o desejo de aprofundar o tema da Paz contido na Encíclica, comprometendo-se consigo mesmo a promover os valores da Paz.
Doutrina Social da Igreja
Transformar a sociedade com e pela força do Evangelho, foi e será sempre o grande desafio para os cristãos de todos os tempos.
Se assim é, então, quais os critérios em que se devem apoiar para aplicar e fazer ressonância da boa nova de Jesus.
A resposta está na Doutrina Social da Igreja (DSI). Esta assenta num conjunto de orientações que têm como fonte os vários pronunciamentos que o Magistério da Igreja (Papas e Bispos) têm feito acerca da presença do homem na sociedade.
A função da DSI é o anúncio de uma visão global do homem na sociedade, bem como a denúncia do pecado, da injustiça e da violência que de várias formas atravessam a sociedade.
A DSI não é uma ideologia, nem se confunde com as várias doutrinas políticas construídas pelos Homem. Poderá ter pontos de convergência nas ideologias e políticas que também visam o bem comum, porém, denuncia essas ideologias ou políticas quando se afastam de tais ideais.
Ao anunciar o Evangelho à sociedade em todo o seu ordenamento político, social, económico, judicial, etc., a Igreja quer atualizar no decurso da História a mensagem sempre atual de Jesus.
A Igreja colabora na construção do bem comum e ilumina as relações sociais e o ordenamento da sociedade com a luz do Evangelho.
Vários são os documentos que falam da DSI, entre eles os de maior importância são as Encíclicas Sociais:
- Rerum Novarum de Leão XIII (1891)
- Quadragessimo anno de Pio XI (1931)
- Rádio mensagens de Pio XII
- Mater et Magistra de S. João XXIII (1961)
- Populorum Progressio de Paulo VI (1967)
- Octagessima Adveniens de Paulo VI (1971)
- Laborem Exercens de S. João Paulo II (1981)
- Solicitudo Rei Socialis de S. João Paulo II (1987)
- Centessimos Annos de S. João Paulo II (1991)
- Caritate in Veritas de Bento XVI (2009)
Como o Santuário nasceu num contexto de guerra, transformando-se num sinal perene dos valores da paz, colocou nesta sala 7 quadros alusivos às Encíclicas Sociais escritas por 7 Papas.
Através destas obras de arte queremos contribuir para o conhecimento do pensamento católico acerca das coisas sociais e despertar em todos os visitantes, crentes e não crentes, o desejo e o compromisso de colaborarem na construção duma sociedade mais justa e solidária.