Santa Beatriz da Silva – uma santidade vivida no quotidiano
“Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23). Estas são como o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre como fazer para chegar a ser um bom cristão, a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida. A palavra ‘feliz’ ou ‘bem-aventurado’ torna-se sinónimo de ‘santo’, porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade” (Papa Francisco).
Com este excerto da Exortação Apostólica ‘Gaudete et Exsultate’ escrita pelo Papa Francisco sobre o chamamento à santidade no mundo atual, damos continuidade ao nosso itinerário de conhecimento dos portugueses que chegaram à glória dos altares. Cada um deles, de acordo com a sua vocação e realidade específicas, encarnou na sua vida as Bem-aventuranças proferidas por Jesus no Sermão da Montanha. Foram pobres de espírito, puros de coração, mansos, misericordiosos, sofreram perseguições e foram fiéis até ao fim.
Santa Beatriz da Silva
Santa Beatriz da Silva nasceu na vila alentejana de Campo Maior, no ano de 1437, de família nobre e cristã.
Filha de D. Rui Gomes da Silva e de Dona Isabel de Menezes, pertencentes à primeira nobreza e parentes da família real, Beatriz da Silva teve dez irmãos. Todos eles estudaram com os frades franciscanos, de quem aprenderam o amor aos pobres e uma profunda devoção a Nossa Senhora, em especial sob a advocação de Imaculada Conceição.
Ao nascer em família tão abastada, Beatriz foi desde sempre preparada para a realeza, tornando-se, inclusive, dama de D. Isabel, princesa da Castela e Leão.
Tudo em Beatriz chamava a atenção. A beleza do corpo e da alma, a caridade, o amor, a delicadeza, a nobre postura. Num escrito da época, encontramos sobre ela que "além de vir de sangue real, era mui graciosa donzela e excedia a todas em formosura e gentileza".
Uma das suas biografias, apresenta as características de Santa Beatriz, o que nos permite perceber que a santidade era por ela vivida nas pequenas coisas, na vivência das virtudes e no coração despojado: “era formosíssima, prudente, afável, inteligente, composta e de muita gentileza (...) procurava viver em recolhimento, dando todo o seu amor e o maior tempo possível a Deus, o verdadeiro Senhor do seu coração”.
A fé vence a inveja
Apesar de ser dama de Isabel, Beatriz não deixou de ser alvo da sua inveja e das suas intrigas, principalmente quando se tornou rainha. Tal sentimento fez com que a rainha maquinasse contra a vida da bela Beatriz.
Conta a história que certa vez Isabel mandou prender a jovem Beatriz num baú muito estreito, com o intuito de matar a sua virtuosa dama de companhia. A jovem ficou desaparecida durante três dias, o que fez com que o seu tio, D. João de Menezes, sentisse a sua falta e estranhasse a sua ausência. Então, D. João questionou Isabel sobre o paradeiro da menina e esta levou-o até ao baú, acreditando que a encontraria morta.
O que Isabel não contava, era que Beatriz tivesse a ajuda de alguém muito especial: a própria Virgem Maria. A Mãe de Deus apareceu a Santa Beatriz e comunicou-lhe que a salvaria se ela fundasse uma Congregação Religiosa em honra do mistério da sua Imaculada Conceição.
Beatriz, como boa cristã e mulher cheia de virtudes, perdoou a rainha Isabel que se arrependeu do feito, mas não continuou na corte, ingressando num convento na cidade de Toledo. Foi lá, em clima de oração e recolhimento, que Santa Beatriz preparava outras monjas para a fundação da Congregação pedida por Nossa Senhora.
As concepcionistas
Como todos os fundadores das grandes e importantes famílias religiosas, foi com sofrimento que Beatriz iniciou a Obra que a Virgem Maria lhe tinha pedido. No entanto, pôde contar com a ajuda de outra Rainha Isabel, desta vez, Isabel a Católica, filha da rainha portuguesa D. Isabel.
Assim, conseguiu iniciar a Ordem da Imaculada Conceição, ou, as “Concepcionistas”, como ficaram conhecidas. Vestem hábito azul e branco, as cores de Nossa Senhora da Conceição, e são de vocação contemplativa.
Retorno à Casa Paterna
Passados alguns anos após a fundação, preparando-se para a profissão religiosa com mais doze irmãs do convento, Beatriz que já tinha grande fama de santidade, recebe mais uma vez a visita de Nossa Senhora que lhe diz: “Dentro de dez dias virei buscar-te porque não é vontade do Meu Filho que gozes aqui na terra o que tanto desejastes”.
No dia que estava marcado o início efetivo da Congregação da Imaculada Conceição, Beatriz partiu para a Casa Paterna.
Antes recebeu o hábito azul e branco, conforme Nossa Senhora lhe havia pedido, e fez a sua profissão religiosa, entregando-se já aqui na Terra, nas mãos de Jesus, seu único Senhor e Dono.
Beatriz foi beatificada pelo Papa Pio XI a 28 de julho de 1926 e canonizada pelo Papa Paulo VI a 3 de outubro de 1976.
Inscrita no livro dos santos, a vida virtuosa de Santa Beatriz ganha ainda mais eco, como exemplo de santidade vivida na simplicidade do quotidiano, como vida entregue a Deus e aos outros, vivendo as Bem-aventuranças e assemelhando-se cada dia mais Àquele que a desposou: o próprio Jesus.
Santa Beatriz da Silva, rogai por nós!