A eutanásia e a coragem de não descartar o sofrimento
Falar sobre vida, morte, sofrimento e tantas outras coisas ligadas à dor e à finitude da vida é sempre um desafio.
O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2258, recorda-nos que "a vida humana é sagrada porque, desde a sua origem, postula a ação criadora de Deus e mantém-se para sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. Só Deus é senhor da vida, desde o seu começo até ao seu termo: ninguém, em circunstância alguma, pode reivindicar o direito de dar a morte diretamente a um ser humano inocente".
Alívio para a dor
Ao olharmos para a história vemos a frequência com que somos impelidos a procurar os mais variados métodos para aliviarmos as nossas dores e sofrimentos, seja através de remédios, exercícios, meditação ou outras experiências que prometem tirar de nós aquilo que nos faz sofrer.
Não é um erro nem é pecado procurar alívio para aquilo que nos agonia e tira a paz, contudo essa busca não pode levar-nos a abdicar do bem mais precioso que o próprio Criador nos dá: a vida!
Só ao Senhor cabe decidir
Se a nós próprios não nos cabe o direito de retirar-nos a vida, muito menos o podemos delegar a um terceiro. Só Deus é autor e Senhor da vida! Como diria o profeta Job: “Saí nu do ventre da minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1,21).
Sabemos que não é fácil carregar quotidianamente a cruz de uma enfermidade, por exemplo. Sabemos que existe dor, sofrimento, abatimento, luta, isolamento e solidão. Mas sabemos também que “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28) e que, se unido à dor e morte de Jesus, o sofrimento pode tornar-se vida e vida em abundância.
A ajuda da família
Aos familiares dói-lhes ver os seus entes queridos sofrer sem nenhuma perspetiva de melhoria ou restabelecimento. Mas qual deve ser o seu papel? Apoiar o doente na vivência fecunda e serena da enfermidade, sendo-lhes sustento e suporte, para que se sintam amados e acompanhados nessa etapa de sofrimento.
É igualmente importante acompanhar o processo interior vivido por tantos doentes que procuram dar sentido ao seu sofrimento. Muitos sabem, pela fé, que também em circunstâncias dolorosas é possível entregar a vida, unindo-se a Jesus que diariamente nos recorda na Eucaristia e no mistério de Sua morte e ressurreição: "É por isto que o meu Pai me tem amor: por Eu oferecer a minha vida, para a retomar depois. Ninguém ma tira, mas sou Eu que a ofereço livremente" (Jo 10,17-18).
O Catecismo, no parágrafo 2277, lembra ainda que "quaisquer que sejam os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inaceitável. Assim, uma ação ou uma omissão que, de per si ou na intenção, cause a morte com o fim de suprimir o sofrimento, constitui um assassínio gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao respeito do Deus vivo, seu Criador. O erro de juízo, em que se pode ter caído de boa fé, não muda a natureza do ato homicida, o qual deve sempre ser condenado e posto de parte".
Consagrar a doença a Cristo
Algumas Comunidades Católicas têm a prática de acompanhar pessoas enfermas, levando-lhes algum consolo e a confiança de que a sua vida continua a ser fecunda, contribuindo misteriosamente com o seu sofrimento e oração para o bem da Igreja e do mundo.
Nessa experiência o enfermo não se deixará tomar por um sentimento de inutilidade, pois, até mesmo acamado, percebe que continua a ser um importante colaborador da vida da Igreja, oferecendo-se num vínculo de comunhão, de entrega e sacrifício.
Ao dar sentido ao sofrimento ao invés de descartá-lo, o enfermo e a sua família colherão também ali, frutos de vida e vida em abundância.
Na mensagem para o Dia Mundial do Enfermo de 2022, o Papa Francisco fez a seguinte prece a qual nós nos unimos: “Queridos irmãos e irmãs, à intercessão de Maria, Saúde dos Enfermos, confio todos os doentes e as suas famílias. Unidos a Cristo, que carrega sobre Si o sofrimento do mundo, possam encontrar sentido, consolação e confiança”.