Maria tem pressa...
"Maria levantou-se e partiu apressadamente" (Lc 1, 39) conta-nos o evangelista São Lucas, logo após o relato da anunciação a Nossa Senhora. No fim desse relato, o Arcanjo São Gabriel faz mais um anúncio: "E eis que Isabel, tua parente, também ela concebeu um filho na sua velhice e este é o sexto mês para ela, a quem chamavam estéril, porque nenhuma palavra que vem de Deus é impossível" (Lc 1,36-37).
Maria tem pressa!
Isabel, parente de Nossa Senhora, já tinha alguma idade, pelo que certamente precisaria ainda mais de auxílio, principalmente nos últimos meses de gestação. O Evangelho conta-nos que Maria permaneceu três meses com ela, dando-lhe assistência, servindo-a com alegria e humildade.
Maria também estava grávida, mas era jovem e não pensa duas vezes. Ao escutar que Isabel iria dar à luz, parte apressadamente para a servir e estar à sua disposição para o que fosse necessário.
Mas Nossa Senhora também tinha pressa de proclamar as maravilhas de Deus naquela família até então estéril, infrutífera. Tinha pressa de levar o seu Filho Jesus, mesmo que ainda no ventre.
Apressadamente ou agitadamente?
É importante fazermos esse contraponto sobre a atitude de Nossa Senhora. Apesar da pressa, Maria não estava agitada interiormente, mas com uma grande paz, uma paz proveniente do “fiat” dado com tanta confiança aos planos de Deus anunciados pelo Arcanjo.
Um coração agitado dificilmente reconhece a voz de quem o chama e dificilmente responde com rapidez e confiança diante de uma proposta que lhe mudaria a vida.
A única agitação causada por Maria foi aquela que Isabel expressou: “Eis que, quando chegou a voz da tua saudação aos meus ouvidos, a criança saltou de júbilo no meu ventre” (Lc 1,44). Mas também essa agitação, esse salto, teve uma motivação proveniente da paz: a presença de Deus.
Onde Deus está não há agitação, pelo contrário, há calma e alegria, paciência e esperança.
Um encontro de corações
Ao chegar, Maria depara-se com a gratidão de Isabel pela sua visita. Não apenas pelo serviço e amparo que lhe prestaria, mas, principalmente, por ir visitá-la, sendo Mãe do Salvador. Diz-nos o Evangelho: "E aconteceu que, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança saltou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Levantando, então, a voz com um forte brado, disse: 'Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! De onde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Eis que, quando chegou a voz da tua saudação aos meus ouvidos, a criança saltou de júbilo no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, porque se consumará o que lhe foi dito da parte do Senhor!'" (Lc 1,41-44).
Nesse encontro de corações entre Maria e Isabel, também João Batista e Jesus se encontraram. O Precursor e o Salvador. Ali, houve um verdadeiro Pentecostes, um dos vários vividos por Maria.
Nossa Senhora, repleta do Espírito Santo, foi intermediária para que também Isabel e o filho que trazia no ventre ficassem cheios do mesmo Espírito.
Também era essa a pressa de Maria: levar um novo tempo àqueles que tanto sofreram pela vida infrutífera. Maria é portadora de Jesus e do Espírito, aqueles que são capazes de fazer “novas todas as coisas”, também na vida daquela família tão querida que esperava ansiosamente a vinda do Messias Salvador.
Um canto de louvor e amor
Depois de tantas graças, Maria não podia ficar calada… Transbordou de alegria e cantou:
"A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva. Eis que, a partir de agora, me chamarão feliz todas as gerações, porque o Poderoso fez em mim grandes coisas. Santo é o seu Nome e a sua misericórdia estende-se de geração em geração sobre aqueles que o temem. Mostrou a força do seu braço e dispersou os soberbos no pensamento dos seus corações; derrubou os poderosos dos tronos, e exaltou os humildes; aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu sem nada; socorreu Israel, seu servo, recordando-se da misericórdia, como afirmou aos nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre" (Lc 1,47-55).
Este canto, que até hoje rezamos, apresenta-nos Maria e a sua maior pressa: fazer a vontade de Deus! A humilde serva do Senhor não queria reter nada para si, por isso, com o coração repleto de alegria, entregou-se inteiramente a Deus para colaborar com a obra da Redenção.
Que Nossa Senhora nos ajude a viver apressadamente para realizarmos o querer de Deus nas nossas vidas. Amén.