O testemunho de amor e martírio da Família Ulma
Os casais católicos, ao celebrarem o aniversário do seu matrimónio, prometem “receber com alegria quantos filhos Deus lhes enviar”, pronunciando, assim, um verdadeiro sim ao querer de Deus.
Na Igreja Católica não estamos muito acostumados a ver famílias inteiras serem elevadas aos altares, mas é verdade que temos muitos bons exemplos na nossa Igreja.
Santos casados
Podemos citar o primeiro casal canonizado conjuntamente: São Luís e Santa Zélia Martin, pais de Santa Teresinha; também São Basílio e Santa Emília são um casal santo com vários filhos, dos quais 6 foram canonizados, com destaque para os grandes Doutores da Igreja São Basílio Magno e São Gregório de Nissa. Além destes, podemos ainda recordar Santa Gianna Beretta Molla, a Serva de Deus Chiara Corbella e, claro, Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho.
Na Bíblia também encontramos casais santos como Ana e Joaquim, Isabel e Zacarias, Maria e José.
Família Ulma
A família Ulma destaca-se por um motivo: será a primeira família beatificada conjuntamente; pai, mãe e sete filhos martirizados pelos nazis. O filho mais velho tinha oito anos e a mais nova um ano e seis meses. Dentre os filhos, uma criança que ainda estava no ventre de sua mãe e recebeu, pelo martírio, o seu ‘batismo de sangue’, como aqueles ‘santos inocentes’ que morreram no lugar do Menino Jesus.
A família era profundamente católica e vivia de forma coerente com o Evangelho, de onde, provavelmente, surgiu a coragem para o ato heroico que realizaram.
Józef, Wiktoria e os seus sete filhos foram assassinados pelos nazis na manhã do dia 24 de março de 1944, em Markowa, aldeia polaca onde viviam. O motivo? Esconderam oito judeus, dando-lhes abrigo para que não perdessem a vida.
O Padre Witold Burda, postulador da causa da família Ulma, afirma que Józef e Wiktoria foram "um modelo de cônjuges amorosos que construíram a sua vida juntos sobre uma base sólida de fé".
A família ficou conhecida como "os samaritanos de Markova", pois, antes de pensarem em si mesmos, fizeram-se próximos dos judeus que fugiam do massacre da Segunda Guerra Mundial.
Beatificação
O processo de beatificação desta família não tem precedentes em toda a história da Igreja Católica. Pela primeira vez, uma família completa será elevada à honra dos altares através da beatificação. O que torna o facto ainda mais relevante é que Wiktoria estava nos últimos meses de uma gestação e até mesmo o bebé será beatificado por ter recebido, pelo martírio, o batismo de sangue.
O postulador da causa da família Ulma reflete ainda sobre o casal e a forma cristã como viviam: "educaram sabiamente com espírito de fé e amor" e viveram "uma fidelidade diária aos dois maiores mandamentos: o do amor a Deus e o do amor ao próximo (...) Tudo começa na família: começa-se com a vida, continua-se com a educação".
Fama de Santidade
Logo após o martírio da família, a fama de santidade dos pais e seus filhos já era celebrada pelos polacos. Conta-se de milagres realizados pela intercessão dos “Samaritanos de Markova” pouco tempo depois do ocorrido.
Em 2018, durante uma audiência geral, o Papa Francisco relembrou a família Ulma e recomendou que todos peçam a sua intercessão: "Esta numerosa família de Servos de Deus, que aguarda a beatificação, deve ser para todos nós um exemplo de fidelidade a Deus e aos Seus mandamentos, de amor ao próximo e de respeito à dignidade humana”.
O Pe. Burda, o postulador, numa entrevista, convidou a todos para que sigam o exemplo dessa família beatificada este domingo, 10 de setembro:
"Convido todos os casais e famílias a invocar a intercessão dos Ulma para que, como os servos de Deus, possam também seguir o caminho do amor, baseando o seu caminho na fé e na presença real de Cristo nas suas vidas".