Sacrifício e Pequenez: as mensagens de Fátima como caminho quaresmal
Após o Primeiro Domingo da Quaresma e na semana em que se celebra a memória litúrgica dos irmãos São Francisco e Santa Jacinta Marto, os santos pastorinhos e videntes de Fátima, queremos, com base nas mensagens desta santa aparição da Virgem Santa Maria, pedir a Deus a graça de vivermos o sacrifício e a humildade como caminho quaresmal rumo à Páscoa da Ressurreição.
Aprendendo com os pastorinhos
São Francisco e Santa Jacinta Marto, os pastorinhos de Fátima, apesar da tenra idade e do breve tempo que passaram neste mundo, têm muito para nos ensinar sobre a vivência da fé cristã e do amor a Jesus Cristo.
Com as aparições do Anjo da Guarda de Portugal (o Anjo da Paz) e da Virgem Santa Maria de Fátima e seguindo as suas orientações, Francisco, Jacinta e também Lúcia, viveram de maneira a fazer tudo para agradar ao coração de Deus, reparar os pecados cometidos contra os corações de Jesus e Maria e interceder pela conversão dos pecadores.
Assim, as práticas vividas por eles podem inspirar-nos, de forma especial, neste tempo da Quaresma, em que a Palavra de Deus e o Magistério da Igreja nos convidam à penitência, à oração e à caridade.
Espírito de Penitência
De forma especial, os pastorinhos de Fátima realizavam muitas penitências em reparação dos pecados cometidos contra o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração da Virgem Santa Maria.
Sobre esta questão, encontramos no livro Memórias da Irmã Lúcia, disponível integralmente no site do Santuário de Fátima (clique aqui para descarregar), um relato da Venerável Irmã Lúcia sobre a sua prima Jacinta. "Como é que a Jacinta, tão pequenina, se deixou possuir e compreendeu um tal espírito de mortificação e penitência? Parece-me que foi: primeiro, por uma graça especial que Deus, por meio do Imaculado Coração de Maria, lhe quis conceder; segundo, olhando para o inferno e desgraça das almas que aí caem", relembrou.
Amor pelos pecadores
Estas doces crianças, com o seu grande espírito penitente, ensinam-nos com coragem que até os mais simples podem e devem fazer sacrifícios. A grandeza da humildade dos pastorinhos de Fátima lembra-nos que mesmo o menor sacrifício agrada ao coração de Deus.
"A Jacinta tomou tanto a peito os sacrifícios pela conversão dos pecadores, que não deixava escapar ocasião alguma. Havia umas crianças, filhos de duas famílias da Moita, que andavam pelas portas a pedir. Encontrámo-las, um dia, quando íamos com o nosso rebanho. A Jacinta, ao vê-los, disse-nos: Damos a nossa merenda àqueles pobrezinhos, pela conversão dos pecadores?", recorda a Venerável Lúcia nas suas memórias.
"E correu a levar-lha. Pela tarde, disse-me que tinha fome. Havia ali algumas azinheiras e carvalhos. A bolota estava ainda bastante verde, no entanto disse-lhe que podíamos comer dela. O Francisco subiu a uma azinheira para encher os bolsos, mas a Jacinta lembrou-se que podíamos comer da dos carvalhos, para fazer o sacrifício de comer a amarga. E lá saboreámos, aquela tarde, aquele delicioso manjar! A Jacinta tomou este por um dos seus sacrifícios habituais. Colhia as bolotas dos carvalhos ou a azeitona das oliveiras", continuou ao relembrar um episódio da vida com os primos videntes da Virgem Santa Maria.
Francisco e o sacrifício silencioso
Francisco Marto era mais reservado e não gostava de fazer os seus sacrifícios para que todos vissem. Sempre que podia, escondia-se da irmã e da prima para rezar e, assim, consolar o Senhor. Lúcia relata:
"O Francisco era de poucas palavras; e para fazer a sua oração e oferecer os seus sacrifícios, gostava de se ocultar até da Jacinta e de mim. Não poucas vezes o íamos surpreender, de trás duma parede ou dum silvado, para onde, dissimuladamente, se tinha escapado, de joelhos, a rezar ou a pensar, como ele dizia, em Nosso Senhor triste por causa de tantos pecados. Se lhe perguntava: 'Francisco, por que não me dizes para rezar contigo e mais a Jacinta?'. 'Gosto mais – respondia – de rezar sozinho, para pensar e consolar a Nosso Senhor que está tão triste'".
Peçamos a Jesus e à Virgem Maria a grande graça de vivermos esta Quaresma com espírito quaresmal e penitente, com o grande desejo de chegarmos à Páscoa da Ressurreição dispostos a uma verdadeira conversão.
São Francisco e Santa Jacinta Marto, rogai por nós.