Perdoar? Nunca!... Ou será que sim?

Perdoar? Nunca!... Ou será que sim?

Perdoar? Nunca!... Ou será que sim?

“Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Esta frase do Pai-Nosso, oração que nos foi ensinada pelo próprio Cristo, recorda-nos que seremos perdoados.em igual  medida com a qual perdoamos.

Mas isto não é uma ameaça do tipo “se não perdoar, não será perdoado por Deus”, mas sim uma lembrança de que diariamente o Senhor perdoa as nossas faltas, das menores às maiores, e de que Ele está sempre disposto a agir com misericórdia para connosco, libertando todo o amor e perdão para nós.

Dia Mundial do Perdão

Hoje, assim como noutros dias do ano, celebra-se o Dia Mundial do Perdão, oportunidade única para transbordarmos aquele mesmo amor e misericórdia que recebemos do Senhor.

Mas vale lembrar que realmente não é algo fácil. Exige de nós paciência, resiliência, renúncia e, claro, coragem. Dar e pedir perdão são actos de extrema coragem de quem entendeu que não é possível viver carregando consigo um fardo tão pesado que pode ser aliviado através de uma atitude de humildade.

Nas Sagradas Escrituras vemos, nalguns momentos, atitudes de misericórdia que mudaram o rumo de diversas histórias:

“O filho pródigo e o Pai Misericordioso” (cf. Lc 15,11-32); “A pecadora caída e arrependida” (cf. Jo 8,2-11); “A mulher que muito amou” (cf. Lc 7,37-50), dentre muitas outras passagens demonstram que o perdão tem um poder libertador que vai além da nossa capacidade de imaginar.

Sejam aqueles que foram perdoados por Deus na Pessoa de Jesus ou aqueles que pediram e receberam o perdão de alguém muito importante, como o caso do Filho Pródigo que, arrependido pelos seus actos, volta e encontra o Pai Misericordioso totalmente disposto a recomeçar, perdoando-lhe e dando-lhe uma festa, lembrando que aquele perdão encontrou e ressuscitou o filho que se encontrava perdido e morto.

O efeito do Perdão

O perdão é prova de amor, seja de amor a quem recebe o perdão ou de amor a Deus, que sempre Se antecipa e nos perdoa com um amor eterno e que lança fora todo o temor. Assim vemos em 1 São Pedro 4, 8: "Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão dos pecados".

Neste sentido, vale a pena lembrar que o perdão tem efeitos tanto para o perdoado quanto para aquele que perdoou. Um destes efeitos, por exemplo, é a “liberdade”. Quem perdoa liberta-se do peso do ressentimento, das mágoas, das más lembranças e de uma infinidade de maus sentimentos que acompanham o coração endurecido. Já para o perdoado, o perdão traz consigo a liberdade para continuar, para ser um Homem novo, rever os actos e converter-se, para não tornar a realizar aquela atitude que quebrou laços, tirou a paz e rompeu o amor de alguma forma.

O próprio livro dos Salmos apresenta um dos frutos desse perdão recebido: a alegria: "Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido" (Sl 31,1).

Quantas vezes perdoar?

Se às vezes passa pela nossa cabeça que não devemos perdoar nunca a quem nos ofende, o próprio Jesus ensina a Simão Pedro que não devemos perdoar apenas uma vez, mas sim, 70 vezes 7, que quer dizer: sempre e perfeitamente! "Então, Pedro aproximou-se d'Ele e disse: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?'. Respondeu Jesus: 'Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete'" (Mt 18,21-22).

Na mesma passagem, inclusive, Jesus, ao contar uma parábola, relembra que todos somos perdoados por Ele quando nos aproximamos arrependidos e que da mesma forma devemos perdoar, claro, com coragem e humildade, àqueles que também se aproximam desejando o nosso perdão. Lemos assim: "Então, o senhor chamou-o e disse-lhe: ‘Servo mau, eu perdoei-te toda a dívida porque me suplicaste. Não devias também tu compadecer-te do teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti?’. E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida. Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo o seu coração" (Mt 18,32-35).

Lembramos, então, como no início desta meditação, que nós mesmos rezamos no Pai-Nosso e colocamos uma medida no perdão que receberemos de Deus: aquela mesma medida com a qual perdoarmos a quem nos tem ofendido.

A experiência do perdão

A bula de proclamação do jubileu Spes non confundit oferece-nos uma reflexão profunda sobre o perdão:

“23.(…) Uma tal experiência repleta de perdão não pode deixar de abrir o coração e a mente para perdoar. Perdoar não muda o passado, não pode modificar o que já aconteceu; no entanto, o perdão pode permitir-nos mudar o futuro e viver de forma diferente, sem rancor, ódio e vingança. O futuro iluminado pelo perdão permite ler o passado com olhos diversos, mais serenos, mesmo que ainda banhados de lágrimas. (…)”

Benefícios psicológicos e emocionais do perdão

Oferecer perdão traz inúmeros benefícios psicológicos e emocionais. Estudos mostram que perdoar pode reduzir a ansiedade, a depressão e o stress. Além disso, promove a saúde mental, melhora os relacionamentos e aumenta a sensação de bem-estar e paz interior. O acto de perdoar liberta a pessoa de sentimentos negativos e permite que ela siga em frente com uma perspectiva mais positiva e equilibrada.

Dica prática de como praticar o perdão

Para praticar o perdão na perspectiva cristã, é importante seguir alguns passos:

  1. Reflexão e oração: Reserve um tempo para reflectir sobre a situação e ore pedindo a Deus a graça de perdoar.
  2. Reconhecimento e aceitação: Reconheça a dor e a mágoa causadas, aceitando que o perdão é um processo.
  3. Decisão de perdoar: Tome a decisão consciente de perdoar, mesmo que os sentimentos ainda não acompanhem essa decisão.
  4. Acção concreta: Se possível, converse com a pessoa envolvida, expressando o seu perdão de forma clara e sincera.
  5. Perseverança: Continue a orar e a pedir a Deus a força para manter o perdão, especialmente em momentos de recaída.

Depoimento de Jô Soares

Jô Soares partilhou uma experiência tocante sobre o perdão numa entrevista. Para saber mais sobre esta história emocionante, assista ao vídeo completo aqui.

Conclusão

Encerramos esta meditação com uma citação do Papa Francisco sobre a importância desta atitude que é essencial na vida do cristão:

“A mensagem de Jesus é clara: Deus perdoa de forma incalculável, excedendo toda a medida. Ele é assim, age por amor e gratuitidade. A Deus não se compra, Deus é gratuito, é gratuidade. Não podemos retribuir-Lhe, mas quando perdoamos o irmão ou a irmã, imitamo-Lo. Perdoar não é uma boa acção que se pode fazer ou não: perdoar é uma condição fundamental para quem é cristão”.

Que o bom Deus, rico em misericórdia, nos inspire e encoraje neste dia.

Sexta, 5 de Julho de 2024