Santa Teresa de Jesus: um coração apaixonado e transverberado
“Pensam que Deus não fala, porque não se ouve a Sua voz? Quando é o coração que reza, Ele responde.”
Ao falarmos de Santa Teresa de Jesus (ou de Ávila), Teresa Sánchez de Cepeda Dávila y Ahumada, lembramo-nos com carinho da Carmelita e Doutora da Igreja que nos apresentou tantos bons e seguros caminhos para crescermos em intimidade com o Senhor.
Nascida em Março de 1515 em Ávila, Espanha, Santa Teresa é uma mestra da vida espiritual e interior, e nas suas obras Caminho de Perfeição, Livro da Vida e Castelo Interior, além de outras, guia-nos pelo autoconhecimento, pelo conhecimento de Deus e pelo amor que lança fora todo e qualquer temor.
Com São João da Cruz, Doutor da Igreja e grande místico, a quem conheceu em 1567 e com quem nutriu uma grandiosa amizade espiritual, fundou/reformou o Carmelo, dando início aos Carmelitas Descalços.
A transverberação do coração
Falando em amor, Santa Teresa de Jesus viveu uma experiência muito pouco conhecida na Igreja em geral, chamada "transverberação do coração", uma prova física do amor de Deus por Teresa e de Teresa por Deus. Esta experiência mística, tão significativa na sua vida, é comemorada liturgicamente pelos Carmelitas, no dia 26 de Agosto.
Ela mesma nos conta, no Livro da Vida, a sua autobiografia, sobre o episódio ocorrido, a 26 de Agosto de 1571:
“Quis o Senhor que viesse então algumas vezes esta visão. Via um anjo ao pé de mim, para o lado esquerdo, em forma corporal, o que não costumo ver senão por maravilha. Ainda que muitas vezes se me representam anjos, é sem os ver, senão como na visão passada, que disse antes. Nesta visão quis o Senhor que o visse assim: não era grande mas pequeno, formoso em extremo, o rosto tão incendido, que parecia dos anjos mais sublimes que parecem todos se abrasam. Devem ser os que chamam Querubins, que os nomes não nos dizem, mas bem vejo que no Céu há tanta diferença duns anjos a outros e destes outros a outros, que não o saberia dizer. Via-lhe nas mãos um dardo de oiro comprido e, no fim da ponta de ferro, me parecia que tinha um pouco de fogo. Parecia-me meter-me este pelo coração algumas vezes e que me chegava às entranhas. Ao tirá-lo, dir-se-ia que as levava consigo, e me deixava toda abrasada em grande amor de Deus. Era tão intensa a dor, que me fazia dar aqueles queixumes e tão excessiva a suavidade que me causava esta grandíssima dor, que não se pode desejar que se tire, nem a alma se contenta com menos de que com Deus. Não é dor corporal mas espiritual, embora o corpo não deixa de ter a sua parte, e até muita. É um requebro tão suave que têm entre si a alma e Deus, que suplico à Sua bondade o dê a gostar a quem pensar que minto” (Livro da Vida, 13).
Como a própria santa descreve, muito mais que algo físico, a "transverberação do coração" foi uma experiência espiritual de um profundo mergulho no amor misericordioso do Senhor. Uma experiência quase que inimaginável.
Santa Teresa, segundo os seus relatos, e também segundo São João da Cruz, estava na sexta morada do seu Castelo Interior e passando por uma profunda aridez espiritual, também chamada de "Noite Escura da Alma", pela qual São João também passou.
Abrasada por este amor, Teresa cresceu ainda mais em santidade e em união ao seu Amado Jesus. Esta experiência mística teve um impacto profundo na sua vida espiritual, intensificando o seu amor por Deus e influenciando os seus escritos posteriores. Nas suas obras, ela frequentemente retorna ao tema do amor divino, descrevendo-o com uma intensidade e paixão que só alguém que experimentou tal união íntima poderia expressar:
"O amor é tão poderoso, que esquece a sua própria felicidade para contentar aquele a quem ama". Esta citação reflecte bem como a experiência da transverberação aprofundou a sua compreensão do amor divino.
A prova do milagre
Claro que, apesar de um fenómeno místico, Santa Teresa disse sentir também algo no seu corpo físico.
Uma década após a sua morte e duas décadas após o episódio milagroso, fizeram a exumação do corpo da santa e encontraram o coração de Teresa intacto e nele, uma ferida cicatrizada com sinais de cauterização, como se realmente lhe tivesse sido inserido algo pegando fogo.
Além de Santa Teresa de Jesus, Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, São Francisco de Assis e São Pio de Pietrelcina viveram essa experiência de intimidade profunda com o Senhor e Seu amor.
Uma coisa importante a dizer-se sobre este fenómeno é que, apesar de possível, não é obrigatório que haja sinais físicos/palpáveis para que a experiência seja real.
A transverberação de Santa Teresa tem inspirado a devoção e a espiritualidade carmelita, ao longo dos séculos, servindo como um poderoso testemunho do amor transformador de Deus. Ela lembra-nos que o amor divino não é uma abstracção distante, mas uma realidade viva e ardente que pode tocar profundamente as nossas almas.
Peçamos, irmãos, por intercessão de Santa Teresa de Jesus, a graça de experimentarmos a potência do amor de Deus sobre nós! Que possamos, como Teresa, abrir os nossos corações para o amor divino, permitindo que ele nos transforme e nos leve a uma união mais profunda com Deus.