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Cristo Rei: A História de uma Solenidade que marcou o século
Celebramos, em 2025, os 100 anos da instituição da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, estabelecida pelo Papa Pio XI, em 1925, através da encíclica Quas Primas. Para preparar este centenário, iniciamos hoje uma série de reflexões mensais que acompanhar-nos-ão até Novembro de 2025, altura em que solenemente comemoraremos esta data histórica. Este primeiro texto convida-nos a revisitar as origens e o significado perene desta festa que continua a interpelar o mundo moderno!
Origens da Solenidade de Cristo Rei
O início do século XX foi um período de turbulência profunda: a Europa via surgir regimes totalitários como o fascismo em Itália; a Rússia mergulhava no ateísmo marxista após a Revolução Bolchevique; e as sociedades ocidentais afastavam-se progressivamente da fé em nome de um secularismo agressivo. Foi neste contexto que o Papa Pio XI publicou a encíclica Quas Primas (11 de Dezembro de 1925), instituindo a solenidade para proclamar uma verdade imutável: Cristo é Rei.
Na encíclica, o Pontífice alertava que muitos males do século — guerras fratricidas, colapsos morais e opressões políticas — tinham raiz na rejeição da soberania divina:
«Ora, lembra-nos haver abertamente declarado duas coisas: uma — que esta aluvião de males sobre o universo provém de terem a maior parte dos homens removido, assim da vida particular como da vida pública, Jesus Cristo e sua lei sacrossanta; a outra — que baldado era esperar paz duradoura entre os povos, enquanto os indivíduos e as nações recusassem reconhecer e proclamar a Soberania de Nosso Salvador.»
A solenidade surgia assim como um antídoto espiritual contra as ideologias que pretendiam excluir Deus da vida pública — uma mensagem tão urgente hoje quanto há cem anos!
Cristo Rei: Um Reinado Diferente
A realeza de Jesus desafia todas as lógicas terrenas: o seu trono é uma cruz; a sua coroa são espinhos; o seu ceptro é o amor que se inclina para lavar os pés dos discípulos (cf. Jo 13). «O meu reino não é deste mundo» (Jo 18, 36), afirma Ele perante Pilatos — não por indiferença aos dramas humanos, mas porque o seu poder salva precisamente através do serviço e do sacrifício.
Como sublinhou o Papa Francisco no Angelus de 21 de Novembro de 2021:
«Jesus mostra-se soberanamente livre do desejo de fama e glória terrena [...]. No nosso compromisso cristão, pergunto-me: o que conta? Contam os aplausos ou conta o serviço?»
Reconhecer Cristo como Rei implica abraçar este paradoxo: triunfar amando; governar servindo; reinar libertando (cf. Jo 8, 36).
Equilibrar a Esperança com as Calamidades do Mundo
Guerras que dilaceram nações, crises ecológicas ameaçadoras ou desigualdades escandalosas — como conciliar estas realidades com a proclamação jubilosa «Cristo Reina!»?
A resposta está na própria Cruz: assim como Cristo reinou no madeiro antes da glória pascal, também nós somos chamados a ver para além das aparentes derrotas do presente (cf. Col 1, 17-20). A solenidade não nos convida à fuga mística do mundo; exige que transformemos as estruturas de pecado com esperança activa. Se Ele venceu o mal supremo (a morte), quanto mais nos dará força para combater males sociais!
Este Reinado já se faz presente em gestos concretos — seja defendendo a vida desde a concepção ou acolhendo quem vive à margem — mas só se consumará plenamente quando Ele voltar em glória. Até lá caminhamos confiantes pois «somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou.» (Rm 8, 37).
A Solenidade e Sua Importância no Mundo Hoje
A festa de Cristo Rei não é apenas uma celebração litúrgica, mas um apelo à conversão. Numa sociedade marcada pelo relativismo moral e pela busca desenfreada de poder e prazeres efémeros, esta solenidade recorda que Jesus deve ser o centro absoluto da vida cristã.
Cristo deseja reinar nas famílias, na sociedade civil, na cultura, na economia e até na política — não como ditador que impõe jugos, mas como o Bom Pastor que guia com amor e dá a vida pelas suas ovelhas (cf. Jo 10, 11).
Rumo ao Centenário
Até Novembro, aprofundaremos outros temas. Por ora deixamos três propostas práticas para viver esta preparação centenária:
1) Renovar as promessas baptismais: Rejeitar os falsos «reinos» do materialismo e revestir-se de Cristo (Gl 3, 27);
2) Participar na Eucaristia: Oferecer ao verdadeiro Rei todas as ansiedades deste tempo conturbado;
3) Actuar com caridade política: Defender nas leis e estruturas sociais os princípios evangélicos (Compêndio DSI, § 383).
Que estes meses sejam uma peregrinação rumo àquele dia em que toda língua proclamará, sem hesitação:
Viva Cristo Rei!