Cristo Rei na História: A Tradição Católica Celebrando a Sua Realeza

Cristo Rei na História: A Tradição Católica Celebrando a Sua Realeza

Cristo Rei na História: A Tradição Católica Celebrando a Sua Realeza

Neste mês daremos continuidade à preparação para a grande festa dos 100 anos da instituição da Solenidade de Cristo Rei, reflectindo sobre como a realeza Divina está presente na Tradição Católica, que tem fundamentada na sua doutrina teológica Jesus como Nosso Senhor, o Verbo de Deus, Filho de Deus, Salvador e Rei do Universo.

Desde o início dos séculos que a Igreja reconhece que por Ele todas as coisas foram feitas, e com a entrada do pecado no mundo e consequente perda do estado da justiça original, Deus, na sua infinita misericórdia, para resgatar o homem e a sua criação de um final trágico, fez-Se carne e habitou entre nós, remiu os nossos pecados pela sua dolorosa paixão salvando-nos na cruz e justificando de novo diante do Pai todas as criaturas.

No início do Cristianismo existia uma falta de clareza em distinguir o Cristo Rei cem por cento Divino e cem por cento humano, surgindo diversas heresias como:

  • O Arianismo, pensamento filosófico que não considerava Jesus Cristo e Deus como uma só pessoa;
  • O monofisismo, a ideia de que Jesus detinha apenas uma natureza, humana ou divina;
  • O Apolinarismo, que não reconhecia a existência da alma humana em Jesus Cristo.

A Igreja passou a combater estas heresias, procurando sempre afirmar a Divindade e realeza de Cristo Rei e Senhor do Universo.

Para melhor compreender a importância de unir a realeza espiritual e social de Cristo, Santo Tomás de Aquino, Doutor da Igreja, no seu Comentário às Sentenças de Pedro Lombardo, IV, dist. 49, q. 1, art. 2 diz:

«A expressão 'Reino de Deus' entende-se, por antonomásia, de duas maneiras: ou como a congregação dos que caminham na Fé, e assim se diz que o Reino de Deus é a Igreja militante; ou, de outra forma, como o consórcio daqueles que já estão fixados no fim [os bem-aventurados], e assim se diz que o Reino de Deus é a Igreja triunfante».

E da Sã Doutrina, tiram-se os seguintes princípios: 

«Não há separação entre Reino de Deus e Igreja, apenas distinção entre suas modalidades e formas de actuação. Mas sempre existirá a identificação entre Reino de Deus e Igreja, seja em seu modo de Igreja Militante (aqui na Terra, dos que lutam para desenvolver a vida sobrenatural e alcançar a salvação eterna), Padecente (no purgatório) e Triunfante (No Céu dos bem-aventurados)».

Provas da divindade e realeza de Cristo

Jesus revelou-nos provas incontestáveis da sua divindade e realeza. Enquanto esteve na Terra, mesmo sendo homem, agiu várias vezes revelando a sua divindade. Estas evidências ocorreram devido à sua preexistência "Cristo eterno", aliado à teofania, manifestação visível de Deus que se comunica ao homem.

Acresce a isto outros aspectos como:

  1. A sua autoconsciência, afirmando ser o Messias.
  2. A sua relação com o Pai, uma clara evidência quando Ele afirma ser um com o Pai (cf. Jo, 10, 30).
  3. Os termos a Ele acrescentados:
    • Theos atribuído a Cristo no Novo Testamento, que significa Deus, denota divindade equivalente no Antigo Testamento com o "Eu Sou".
    • Kyrios atribuído a Cristo, que significa Senhor, é equivalente ao Adonai no Antigo Testamento, quando os judeus se referiam a Javé.
  4. A afirmação de ser digno de adoração: Jesus ensina que o Pai Lhe deu o nome que está acima de todos os nomes (cf. Fp 2, 9-11) e ainda ordena a todos os anjos que O adorem (cf. Heb 1,6).

A Solenidade de Cristo Rei

No decorrer dos séculos, a liturgia da Igreja, os cânticos, bem como os padres da Igreja reflectiam e celebravam a realeza e o senhorio de Jesus. No entanto, a celebração que marca a liturgia da Igreja é a Solenidade de Cristo Rei do Universo, celebrada no último domingo do tempo comum, encerrando o ano litúrgico.

Esta solenidade foi promulgada pelo Papa Pio XI a 11 de Dezembro de 1925 com a encíclica Quas Primas, que traz um ensinamento do Antigo e Novo Testamento sobre o reinado de Cristo. Perante um momento histórico marcado pelo crescimento do secularismo e pelas ideologias totalitárias, o Papa viu a necessidade de reafirmar a autoridade suprema de Cristo sobre todas as nações e povos.

«Se todo o poder foi dado ao Senhor Jesus, no céu e na terra; se os homens, resgatados pelo Seu sangue preciosíssimo, se tornam, com novo título, súbditos do Seu império; se, finalmente, este poder abraça a natureza humana no seu conjunto, é claro que nenhuma das nossas faculdades pode subtrair-se a essa realeza. É preciso, pois, que Ele reine em nossas inteligências: com plena submissão, com adesão firme e constante, devemos crer nas verdades reveladas e nos ensinamentos de Cristo. É preciso que Ele reine em nossas vontades: devemos observar as leis e os mandamentos de Deus.» (Encíclica Quas Primas, 34).

A Realeza de Cristo nas Nossas Vidas

Com o desenvolvimento desta reflexão teológica sobre a realeza de Cristo Rei, concluímos que é necessário reconhecer Cristo como Rei. Somos convidados a viver sob a sua autoridade e a permitir que Ele governe as nossas vidas, não de forma autoritária, mas com amor e misericórdia. Seguindo o seu exemplo de serviço, vivendo as suas obras de justiça e procurando construir, com Ele, um mundo mais justo e mais fraterno. Que a realeza de Cristo Rei nos chame à conversão pessoal e à renovação do nosso compromisso com o Reino de Deus, agora e sempre.

Viva Cristo Rei!

quarta, 9 de abril de 2025