Convicção e conivência – “Uma vida escondida”
Muitas são as produções cinematográficas que nos ajudam a refletir sobre a vida quotidiana e aquilo que diz respeito às nossas escolhas.
O filme “Uma vida escondida” (“A Hidden Life”, título original) lançado em 2019, é um desses filmes que nos faz pensar sobre a nossa caminhada e o modo como temos vivido.
Convicção e conivência são duas palavras que resumem a narrativa e que nos incentivam a uma escolha radical que está enraizado em nós: o bem!
Uma vida escondida
Nos inícios de 1940, com a expansão do nazismo, a Europa caminha para os seus dias mais escuros e sem esperança. Franz Jägerstätter, um agricultor de Sankt Radegund, na Áustria, levava uma vida tranquila e pacata com a sua mulher e as suas três filhas.
Com o início da guerra, Franz é convocado para integrar o exército nazi, mas recusa-se a combater e menos ainda do lado de assassinos.
A pressão sobre Franz veio de todos os lados: familiares, autoridades eclesiásticas, vizinhos e autoridades civis. Mas o nosso protagonista manteve-se resistente, recusando- se sempre a combater, pois, estava certo que aquele conflito tinha por base grandes injustiças e que muitas pessoas, milhões delas, sofriam nas mãos de Hitler.
Ceder à pressão?
Mesmo sendo consciente das terríveis consequências da sua decisão e o preço que pagaria por não ser conivente com a guerra, Franz preferiu ser considerado traidor e condenado à morte por traição à pátria do que trair a sua consciência e a convicção de que não deveria envolver-se nesse conflito imoral, ilegal e injusto.
Também a sua família padeceu as consequências desta atitude corajosa, sendo a sua esposa e filhas ridicularizadas por todos, hostilizadas pela sociedade, mas orgulhosas do motivo pelo qual Franz foi condenado, morrendo como verdadeiro mártir.
O sofrimento da esposa e das três filhas juntou-se ao sofrimento de milhares de pessoas que agonizavam no maior e mais trágico conflito da história mundial.
Santidade
O filme “Uma vida escondida” baseia-se em factos reais. O personagem principal, Franz Jägerstätter, martirizado por não ceder àquilo que se opunha aos seus princípios e à sua moral cristã, viveu entre 1907 e 1943, sendo beatificado em 2007 pelo Papa Emérito Bento XVI. A cerimónia foi presidida pelo cardeal português José Saraiva Martins e contou com a presença da viúva e das filhas do então Servo de Deus, Franz, mártir da verdade.
E nós?
Vivemos numa sociedade de valores invertidos, onde se tem tornado normal roubar, matar e destruir, além de caluniar, difamar e mentir. Na sua essência, todo o homem “é bom”, mas a corrupção estrutural instalada de forma quase generalizada, promove a aceitação e participação em situações eticamente dúbias ou até mesmo reprováveis.
Como lutar contra tudo aquilo que vai contra a nossa consciência, os nossos princípios e contra a moral cristã? O Papa Emérito Bento XVI, já durante o seu pontificado, nos alertava para o facto de podermos viver o “martírio da ridicularidade”, além do martírio de sangue, onde escolher o “bem”, seria motivo de gozo e exclusão, como se o “bem” fosse o errado.
Ao Beato Franz foi-lhe tirada a vida precisamente porque escolheu o “bem” em detrimento da injustiça de tirar vidas e sonhos, como fizeram aqueles que cederam ao nazismo.
E nós? Estamos prontos para assumir as consequências de escolher Deus, a vida e a verdade? Vida e morte, corrupção e justiça, liberdade e escravidão estão diante de nós. Mas fica o apelo do Senhor que sempre nos dirá: “escolhe, pois, a vida!”.
Título original: A Hidden Life
Direção: Terrence Malick
Elenco: Matthias Schoenaerts, Michael Nyqvist, Bruno Ganz, August Diehl
Género: Drama, Guerra
Classificação: M/14
Outros dados: EUA/ALE, 2019, Cores, 174 min
Com informações de https://cinecartaz.publico.pt/Filme/398805_uma-vida-escondida