“Na Oficina de S. José”: meditações de S. Josemaria Escrivá sobre o pai de Jesus

“Na Oficina de S. José”: meditações de S. Josemaria Escrivá sobre o pai de Jesus

Estamos no Ano de São José convocado pelo Papa Francisco que é um grande devoto do pai adotivo de Jesus, tendo no seu quarto uma pequena imagem do patriarca dormindo. Por baixo da imagem, Francisco coloca nomes e pedidos, pedindo sobretudo para que José o ajude a sonhar os sonhos de Deus. Que bonito, não é?

Mas este texto não é sobre a devoção do Papa Francisco a São José, mas sim sobre as meditações que um santo dos nossos tempos fez sobre o mesmo.

S. Josemaria Escrivá

São Josemaria Escrivá de Balaguer foi um sacerdote espanhol, fundador do Opus Dei, que nasceu em 1902 e faleceu em 1975, portanto, alguém próximo da nossa realidade. Os seus discursos exaltavam o trabalho e o quotidiano como formas de santificação da pessoa, sempre que vividos conforme o Evangelho de Jesus.

São Josemaria ajudou, através de suas obras e pregações, à prática de santificar o tempo e o quotidiano, estimulando a encontrar em tudo uma oportunidade para um verdadeiro encontro com Jesus, “a Eternidade quer tocar o tempo”.

Na Oficina de S. José

Dentre as várias obras do santo, destacam-se “Caminho”, “Sulco” e “Forja”. Mas também podemos encontrar a coletânea de homilias “É Cristo que passa”, que tem um capítulo totalmente dedicado a São José, intitulado “Na Oficina de São José”, justamente pelo facto do santo carpinteiro ser o “nosso representante na Sagrada Família”.

Dentre outros assuntos, Escrivá fala sobre a idade de São José, a qual tem sido motivo de diversas discussões entre os exegetas e curiosos. Ao contrário de São Máximo em “A Vida de Maria”, o santo espanhol diz que o pai adotivo de Jesus era jovem, apenas poucos anos mais velho que a sua esposa. 

São Josemaria explica que castidade e juventude não são coisas contrárias, pois, se houver amor verdadeiro, é plenamente possível vive-las conjuntamente:

"Para viver a virtude da castidade, não é preciso esperar pela velhice ou pelo termo das energias. A castidade nasce do amor e, para um amor limpo, nem a robustez nem a alegria da juventude representam qualquer obstáculo. Jovem era o coração e o corpo de São José quando contraiu matrimónio com Maria, quando soube do mistério da sua Maternidade divina, quando viveu junto dEla respeitando a integridade que Deus queria oferecer ao mundo, como um sinal mais da sua vinda às criaturas. Quem não for capaz de entender um amor assim, é porque conhece muito mal o verdadeiro amor e desconhece por completo o sentido cristão da castidade" (É Cristo que passa, 40).

José trabalhador

O fundador do Opus Dei aborda também a relação de São José com o trabalho. Inclusive, celebramos há pouco a bonita festa de São José Operário, onde além de pedirmos que abençoe o trabalho, apresentamos a situação de tantos homens e mulheres que sofrem com o desemprego, em especial nestes tempos de pandemia.

Em relação à profissão de São José, a qual, ao longo da história do cristianismo, se tem questionado, diz-nos o seguinte:

"A Sagrada Escritura diz-nos que José era artesão. Vários Padres acrescentam que foi carpinteiro. São Justino, referindo a vida de trabalho de Jesus, afirma que fazia arados e jugos. Baseando-se provavelmente nessas palavras, Santo Isidoro de Sevilha conclui que José era ferreiro. Seja como for, era um operário que trabalhava ao serviço dos seus concidadãos, que tinha uma habilidade manual, fruto de anos de esforço e de suor. Das narrações evangélicas depreende-se a grande personalidade humana de José: em nenhum momento surge aos nossos olhos como um homem apoucado ou assustado perante a vida; pelo contrário, sabe enfrentar os problemas, ultrapassar as situações difíceis, assumir com responsabilidade e iniciativa as tarefas que lhe são confiadas" (É Cristo que passa, 40).

Mestre da vida interior

Apesar de todas as virtudes humanas, São José com certeza não era “qualquer um”. Deus escolheu-o e também ele deu o seu “fiat” para que a obra da redenção acontecesse da forma como Deus a havia sonhado.

Já Santa Teresa de Ávila o chamava mestre da vida interior e São Josemaria Escrivá reafirma-o, dadas todas as suas virtudes, as suas obras e a convivência com o próprio Jesus. José podia adorar o Senhor na sua própria casa. Mas também pôde educar, cuidar e formar Aquele que o salvou:

"Nas coisas humanas, José foi mestre de Jesus; conviveu diariamente com Ele, com carinho delicado, e cuidou dEle com abnegação alegre. Não será esta uma boa razão para considerarmos este varão justo, este Santo Patriarca, em quem culmina a fé da Antiga Aliança, como Mestre de vida interior? A vida interior não é outra coisa senão uma relação de amizade assídua e íntima com Cristo para nos identificarmos com Ele. E José saberá dizer-nos muitas coisas sobre Jesus. Por isso, não abandonemos nunca a devoção que lhe dedicamos: Ite ad Ioseph, ide a José, como diz a tradição cristã, servindo-se de uma frase tirada do Antigo Testamento" (É Cristo que passa, 56).

Vamos a José!

Terminamos pedindo a São José para com ele crescermos em graça e fidelidade diante do Senhor.

"Procuremos a intimidade com José e encontraremos Jesus. Procuremos a intimidade com José e encontraremos Maria, que encheu sempre de paz a amável oficina de Nazaré" (É Cristo que passa, 56).

Ó Glorioso São José, nas vossas maiores aflições e tribulações, o anjo do Senhor não vos valeu? Valei-nos, São José! Amém!

Sexta, 14 de Maio de 2021