3 Lições de Liberdade Interior: O que a Eucaristia Revelou a Van Thuân na Prisão

Cardeal Van Thuân em oração: testemunho de liberdade interior na prisão

3 Lições de Liberdade Interior: O que a Eucaristia Revelou a Van Thuân na Prisão

O que poderá roubar a esperança de quem possui Jesus na Eucaristia?
Vivemos numa época em que a esperança é constantemente fragilizada por inúmeras incertezas, desastres, perigos, crises, inseguranças, medos e tantos outros sentimentos que nos assaltam e roubam a paz. Neste artigo, iremos aprofundar um testemunho de esperança: a história do Cardeal vietnamita François-Xavier Nguyen Van Thuân. Preso durante treze anos — dos quais nove em isolamento total — pelo regime comunista do Vietname, viveu a sua fé de forma exemplar, com fidelidade, esperança e uma notável liberdade interior. Ele assim resumiu esse período da sua vida:

«Na prisão, já não tinha nada. Nem liberdade, nem conforto, nem um futuro certo. Restava-me apenas Jesus na Eucaristia. E percebi que Ele era tudo.»

Decidido a viver bem, mesmo numa condição tão vulnerável, Van Thuân revela-nos um grande segredo para encontrarmos a liberdade interior, quando diz:

«Na prisão, decidi viver o momento presente, preenchendo-o de amor.»

É natural que, perante o sofrimento, nos sintamos desanimados, tristes e, não raras vezes, deixemos que a angústia tome conta do nosso coração, aprisionando as emoções.

Estas decepções fazem parte da vida e quiseram também fazer parte da vida de Van Thuân. No entanto, ele fez uma escolha certa: decidiu não paralisar face a um futuro incerto, nem se prender às injustiças do passado. Preferiu viver plenamente o momento presente. Não escolheu o caminho da lamentação, nem da vitimização, mas sim o da esperança, tornando-se um testemunho de resistência, serenidade e de um amor inabalável pela Palavra de Deus e pela adoração a Cristo Eucarístico — ainda que muitas vezes de forma clandestina e arriscada.

O Papa São João Paulo II era grande admirador do Cardeal Van Thuân e, em 2000, pediu-lhe que orientasse os Exercícios Espirituais da Cúria Romana, cujo tema foi «Testemunhas da Esperança». Na sua homilia de 2002, João Paulo II revelou que essas meditações ficaram profundamente gravadas na sua memória, reacendendo nele a luz da esperança — uma esperança cheia de imortalidade —, que leva a anunciar o Evangelho da esperança, do confiar só em Deus e do escolher unicamente a Ele.

Neste artigo, iremos aprofundar três lições fundamentais de liberdade interior que o Cardeal Van Thuân descobriu enquanto esteve preso, centradas na celebração e adoração eucarística. Lições que nos convidam hoje a rever a nossa relação íntima com Deus e a buscar uma liberdade mais profunda — aquela que nenhuma opressão é capaz de aprisionar.

1) A Eucaristia revela a força do amor que não exige nada em troca

Quando foi preso, em 1975, o Cardeal Van Thuân, sem acesso a lugares sagrados para celebrar, longe da sua paróquia e da sua comunidade de fé, viu-se tomado por uma angústia profunda:

«Será que ainda poderei celebrar a Eucaristia?», questionava-se.

Quando tudo lhe foi tirado, a Eucaristia ocupou o primeiro lugar nos seus pensamentos. Lembrou-se dos mártires de Abitínia, no século IV, que afirmavam:

«Não podemos viver sem a Ceia do Senhor.»

E, a exemplo de Eusébio de Cesareia, reconheceu que «qualquer lugar de sofrimento se tornava para nós um lugar de celebração […] podia ser um campo, um deserto, um navio, uma cabana, uma prisão.»

Com as mãos vazias, pediu que lhe trouxessem, juntamente com roupa e pasta de dentes, um pouco de vinho — justificado como «remédio para dores de estômago» —, que foi passado clandestinamente num frasco etiquetado como medicamento. Mais tarde, conseguiu também alguns pedaços de pão, guardados em sacos de plástico. Assim, transformou a cela num santuário. Com três gotas de vinho na mão e uma migalha de pão, celebrava todos os dias a Missa.

Para Van Thuân e para outros cristãos presos, essa presença escondida de Jesus Eucarístico era fonte de encorajamento. Na cela, onde havia cinquenta pessoas com apenas cinquenta centímetros de espaço cada, pelo menos cinco participavam sempre da celebração. A obscuridade do cárcere tornava-se luz pascal. Guardavam Jesus Eucarístico em saquinhos de cigarro e Van Thuân testemunhava:

«O Senhor estava sempre comigo, no bolso da minha camisa.»

Durante a noite, os prisioneiros organizavam-se em turnos de adoração. Muitos tornaram-se fiéis adoradores.

A Eucaristia não era um acto de protesto nem de revolta política, mas um acto de amor. Um amor silencioso e escondido, que transfigurava toda a dor em esperança, porque descobriram um Deus presente, que ama sem exigir nada em troca — um Deus que Se entrega mesmo quando é rejeitado.

A primeira lição: o amor e a presença de Deus não dependem de circunstâncias externas, nem da aprovação dos outros. Quando estamos em comunhão com Jesus Eucarístico, mesmo no meio das adversidades, experimentamos a liberdade do Seu amor gratuito — um amor que ama e Se oferece, mesmo sem ser correspondido.

2) A Eucaristia ensina-nos a transformar o sofrimento em dom

A presença de Deus leva-nos a confiar sempre n’Ele, independentemente das circunstâncias e da opinião alheia. A segunda lição que Van Thuân nos ensina é a de não nos amargurarmos perante o sofrimento.

Mesmo vivendo doenças, frio, fome, humilhações, solidão e injustiças, o Cardeal, inspirado pela Eucaristia, aprendeu o valor de oferecer a própria vida, unindo-se no momento presente ao sacrifício silencioso de Cristo:

«A Eucaristia ensinou-me que o sofrimento, quando aceite por amor e oferecido a Deus, pode tornar-se fecundo.»

A dor, que habitualmente impõe limites, fragilidade e desespero, torna-se uma via de encontro com o essencial: Deus. Na prisão, Van Thuân não procurava apenas a libertação física, mas sobretudo a liberdade interior — aquela que vem de configurar-se a Cristo.

A segunda lição: unidos a Jesus Eucarístico, somos fortalecidos para enfrentar a dor e carregá-la com sentido, com a liberdade de quem já não é escravo das circunstâncias, mas discípulo de Jesus Crucificado.

3) A Eucaristia liberta-nos para amar até os inimigos

A terceira e última lição vem da relação de Van Thuân com os seus carcereiros. Sem ódio, sem amargura, com um rosto sereno e cheio de amor, a sua presença tocou o coração de muitos deles. Ele chegou a afirmar:

«Amo os meus carcereiros, e eles sabem disso.»

A Eucaristia transformou o seu coração, tornando-se a sua força para amar. O seu testemunho iluminou as celas sombrias com o Evangelho da esperança:

«Só o amor cristão pode transformar os corações — não são as armas nem as ameaças… É o amor que abre caminho para o anúncio do Evangelho. O amor tudo vence.»

A Eucaristia é sinal de unidade, sacramento de comunhão e perdão, alimento da alma, remédio e força para o caminho. Foi isso para o Cardeal Van Thuân no seu caminho heróico e continua a sê-lo para cada um de nós. Jesus quer ensinar-nos a amar sem revidar, sem julgar, sem excluir, a rezar por quem nos persegue e a ter um coração verdadeiramente livre.

«Jesus Eucarístico ensinou-me a amar com um coração livre, sem exigir que o outro mude.»

A liberdade interior é fruto da presença real

Após ser libertado, em 1988, Deus tinha ainda outros planos para Van Thuân: levá-lo das celas solitárias até ao Vaticano, onde, em 1994, se tornou vice-presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, e em 1998, presidente. Em 2000, pregou o retiro quaresmal para São João Paulo II e a Cúria Romana, e foi criado Cardeal em 2001. Morreu a 16 de Setembro de 2002 e o seu processo de beatificação foi iniciado em 2007.

A sua história é um apelo para cada um de nós. Vivemos tempos de muitas enfermidades, prisões emocionais e espirituais, de rotinas aceleradas, de pressão constante, de sociedades polarizadas, de ideologias que negam a fé, de visões estreitas da vida e de uma cultura de morte. Diante de tantas más notícias, onde buscamos refúgio? Onde repousamos o nosso coração?

Se estamos cansados, sobrecarregados, oprimidos e não estamos a experimentar a verdadeira liberdade interior, é urgente repensar: será que a nossa fé não está demasiado dependente do exterior?

A Eucaristia convida-nos a ser livres em Cristo, que Se dá. Ele alimenta-nos, sacia a nossa sede, dá sentido à nossa vida e é luz para as nossas noites escuras.

Van Thuân, numa cela escura, encontrou mais luz do que muitos de nós, que vivemos em plena liberdade. E essa luz vinha do altar escondido no bolso da sua camisa, mas, sobretudo, bem dentro do seu coração, onde Cristo Se fazia presente e encarnado.

Talvez hoje não nos encontremos presos fisicamente, mas… estaremos verdadeiramente livres no mais íntimo do nosso ser? Que o testemunho de esperança do Cardeal Van Thuân nos inspire a uma verdadeira transformação pela presença real de Jesus na Eucaristia, levando-nos a comungar da esperança e da salvação.

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