Ao contemplar a vida de Chiara Corbella, encontramos uma jovem bela, inteligente, apaixonada e forte. A sua história interpela-nos com perguntas profundas:
«Até onde pode ir o amor de uma mãe?»
«Que sentido tem a nossa vida, se não for para fazer o outro feliz?»
«Vale mais uma vida breve com Deus do que ganhar mais dias na terra e perder a própria alma?»
Estas interrogações só encontram resposta nas escolhas concretas que fazemos nesta breve passagem pelo mundo — escolhas que nascem de um «sim». O «sim» de uma mulher que decidiu abraçar as dores do parto: cólicas persistentes, dores lombares e na bacia, dilatação do colo do útero, contracções contínuas. Uma escolha marcada pela abnegação, vivida ao longo de nove meses. Cada dia tornou-se uma oferta de amor. Um amor que custou muito — e, por isso, valeu imensamente cada instante vivido.
Tais dores dissipam-se apenas num instante: o momento do nascimento. Nesse breve e eterno instante, unem-se os limites e o cansaço com uma alegria inexplicável que ilumina o rosto da vida. É então que morre a menina e nasce a mulher — nasce uma mãe.
Chiara viveu pouco tempo neste mundo — teve apenas 28 anos para deixar a sua marca na terra e pouco tempo também para viver plenamente a maternidade. Mas o seu testemunho foi radical, profundamente evangélico e, sobretudo, santo. Como um farol, iluminou com o seu «sim» decidido e com as suas escolhas breves um legado eterno de fé.
Uma juventude tocada por Deus
Chiara nasceu em Roma, em 1984, no seio de uma família católica. Desde cedo aprendeu o valor da fé. Na adolescência, começou a frequentar encontros de oração ligados ao Renovamento Carismático Católico, onde aprofundou a sua relação com Jesus e Maria.
Foi num desses encontros que conheceu Enrico Petrillo, com quem iniciou um namoro feito de altos e baixos, separações e reencontros, sempre vivido com discernimento sincero sobre o sentido do amor verdadeiro. Após algum tempo, compreenderam que Deus os chamava a viver juntos o sacramento do matrimónio como missão. Casaram-se em 2008, em Assis, sob a inspiração de São Francisco e Santa Clara, modelos de entrega radical a Cristo.
O amor que se torna fecundo
Pouco depois do casamento, Chiara e Enrico abriram-se ao dom da vida. A primeira filha, Maria Grazia Letizia, foi diagnosticada com anencefalia durante a gestação, o que tornava impossível a sua sobrevivência fora do útero.
Muitos sugeririam interromper a gravidez. Os médicos propuseram o aborto para evitar o sofrimento físico e emocional. Mas Chiara e Enrico deram-nos o primeiro grande legado de amor: decidiram levar a gravidez até ao fim, acolhendo aquela vida frágil como um dom.
Maria nasceu, foi baptizada e viveu cerca de 30 minutos nos braços da mãe. Um breve encontro, mas suficiente para mudar tudo. Um amor eterno, ainda que vivido num tempo breve. A jovem esposa tornava-se verdadeiramente mãe.
Pouco tempo depois, Chiara engravidou novamente. Desta vez, de um menino: Davide Giovanni. Também ele sofria de malformações graves, afectando os membros e os órgãos vitais. Com a mesma fé, acolheram-no com ternura e confiança. Davide nasceu sem pernas e sem vísceras, vivendo também cerca de 30 minutos. Foi baptizado e entregue a Deus com amor.
Mais tarde, Chiara afirmou:
«Davide veio para vencer o “Golias” do meu coração».
Chamaram-lhe Davide (David), porque o pequeno venceu o gigante da tentação de decidir sobre a vida dos filhos como se fossem pertença própria. Disse ainda:
«Ele era assim porque Deus precisava dele assim.»
Ambos os filhos foram sepultados com a paz de quem sabe que cada vida tem um valor eterno quando vivida no amor.
O terceiro filho e a descoberta da doença
Na terceira gravidez, tudo parecia correr bem. O bebé, Francesco, era saudável. Contudo, foi nesse período que Chiara foi diagnosticada com um tumor maligno na língua.
Os médicos recomendaram iniciar o tratamento de imediato, o que colocaria em risco a vida do bebé. Mais uma vez, Chiara escolheu o amor:
«Se o Senhor permitiu esta gravidez, Ele próprio cuidará de nós.»
Adiou o tratamento até ao nascimento de Francesco. Quando finalmente começou os cuidados médicos, o cancro já se havia espalhado. Ainda assim, viveu com serenidade e um sorriso desarmante, impressionando todos os que a rodeavam — inclusive os médicos.
Amar até ao fim: um estilo de vida
Chiara viveu o seu martírio em casa, com a família. As metástases causavam-lhe dores atrozes — dizia que até os cabelos lhe doíam. Mas não foi mártir de um ideal nem procurou o sofrimento. Simplesmente amou e acolheu cada momento com fé. Mostrou que a santidade está ao alcance de todos — mesmo de jovens esposas e mães.
O seu «sim» não se limitou a decisões heróicas, mas manifestou-se no quotidiano: no modo como tratava os médicos, na paciência, nos gestos simples, nos carinhos com o filho, e na forma como enfrentou com paz os últimos dias.
Na sua carta de despedida ao pequeno Francesco, escreveu:
«Francesco, a mamã vai para o Céu preparar-te um lugar.
Lembra-te de que a vida é um dom imenso e que não nos pertence.
Ama muito. Nunca te sintas sozinho. Jesus nunca te deixará.
Tu és amado, e isso basta.»
Um funeral que parecia uma festa
Chiara faleceu em 13 de Junho de 2012, aos 28 anos, em sua casa, rodeada pela família. O funeral, celebrado a 16 de Junho em Santa Francesca Romana, teve um clima incomum: não se sentia desespero, mas fé, paz e um silêncio profundo que falava ao coração. Muitos testemunharam um verdadeiro Pentecostes naquele dia.
Não realizou milagres nem fundou comunidades. Mas viveu o Evangelho com radicalidade. O seu «sim» custou muito, mas foi cheio de amor — e isso, no mundo de hoje, já é um milagre.
O início do processo de beatificação
Em 2018, a Diocese de Roma iniciou oficialmente o processo de beatificação de Chiara Corbella Petrillo. Muitos já a invocam como intercessora: casais, grávidas, pessoas doentes. Chiara tornou-se um símbolo de uma geração que acredita que vale a pena dar-se totalmente por amor a Deus.
A sua vida prova que a santidade não consiste em fazer coisas extraordinárias, mas em dizer um «sim» nas pequenas e grandes cruzes.
Uma santidade próxima, acessível, humana
Chiara teve medos, dúvidas, fragilidades — como qualquer um de nós. Mas não confiou em si mesma: confiou em Cristo. Disse sim à vida, mesmo com dor. Disse sim a Deus, mesmo sem entender tudo. E fez da cruz o lugar onde o amor se revelou por inteiro.
Que Chiara nos ensine a dar um «sim» com amor. Um sim forte, livre, total.
Porque amar, como ela nos mostrou, é dizer «sim» até ao fim.