Do Coração de Jesus a Cristo Rei: O Encontro em Almada que Celebrou 350 Anos de Revelação e 100 Anos de Solenidade

Do Coração de Jesus a Cristo Rei: O Encontro em Almada que Celebrou 350 Anos de Revelação e 100 Anos de Solenidade

O Santuário Nacional de Cristo Rei acolheu um dos encontros mais significativos da sua história recente: a Christ the King International Conference 2025. De 21 a 23 de Novembro, o Santuário tornou-se o centro de reflexão sobre o Centenário da Solenidade de Cristo Rei.

Organizada em colaboração com a Rede Mundial de Oração do Papa (RMOP), a Conferência propôs um aprofundamento teológico e existencial da devoção, com um claro propósito de a tornar mais acessível e relevante no mundo de hoje. Os participantes manifestaram profunda satisfação e gratidão pelo aprofundamento proporcionado.

Sexta-feira: A Ferida da Indiferença e o Chamamento à Acção

A manhã de trabalhos começou após a Sessão de Abertura, que reuniu D. Américo Aguiar (Bispo de Setúbal), P. Carlos Filipe (Reitor do Santuário) e P. António Sant’Ana, sj (RMOP).

O P. Étienne Hern, Reitor do Santuário de Paray-le-Monial, foi o primeiro orador, focando-se na gratuidade do Amor de Deus. Ele sublinhou que a indiferença é a dor mais profunda sentida pelo Coração de Jesus, deixando este apelo simples do próprio Jesus: «Será que tu ao menos me queres amar?». E ainda sublinhou que a Eucaristia é o lugar onde este Amor se manifesta mais plenamente.

Ainda de manhã, o P. Ottavio de Bertolis lançou um desafio crucial: ultrapassar a devoção superficial. O verdadeiro místico do culto ao Coração de Jesus, explicou, é a conversão à acção, sendo o Mistério Pascal a fonte onde a devoção melhor se compreende e torna presente na vida cristã.

A tarde foi dedicada a esclarecer a relação da devoção à vida do dia a dia. O P. Étienne Hern voltou a intervir para explicar que o Coração de Jesus é um princípio de acção, e não uma mera via sentimental. As sessões finais, conduzidas pelo P. António Sant’Ana, sj, e pelo P. Carlos Filipe, exploraram as Novas Linguagens do Coração de Jesus. A chave está em abrir o nosso próprio coração ao mistério de Cristo, e em reconstruir a linguagem do passado na formulação renovada do nosso tempo, tornando a reparação um acto concreto de combate ao empobrecimento antropológico do mundo moderno.

O dia encerrou com o Concerto de música Sacra REX GLORIAE do Ensemble São Tomás de Aquino, um momento cultural que preparou os corações para o fim-de-semana.

Sábado: O Poder da Imagem e o Legado da Quas Primas

O Sábado começou com a memória da Beata Maria do Divino Coração. A Ir. Filomena Reis (Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor – Porto) apresentou o seu legado, destacando a sua missão e o valor urgente da escuta atenta, acolhimento e empatia num mundo de correria, desafios cruciais para a Igreja e para a sociedade.

Seguiu-se a intervenção da Ir. Glória Riva (que recentemente meditou para Sua Santidade o Papa Leão XIV). Ela falou sobre a iconografia do Coração de Jesus; e enfatizou que, embora vivamos numa sociedade de imagens, perdemos a capacidade de as ler. Ela descreveu as imagens da Igreja, incluindo a do Coração de Jesus, como um «catecismo permanente da nossa Fé», capaz de fortalecer a vida crente.

A tarde incluiu uma visita guiada à Capela Nossa Senhora da Paz, seguindo-se o discurso central, do Cardeal D. Manuel Clemente. O Cardeal Patriarca Emérito de Lisboa reflectiu sobre os 100 anos da Solenidade de Cristo Rei, a partir do contexto da encíclica Quas Primas (1925). Sublinhou que celebrar a Festa é «ganhar de novo o sentido das coisas», confrontando-se a Igreja hoje com os mesmos desafios de secularização que motivaram a sua instituição.

O dia culminou a liturgia da Adoração Eucarística com Vésperas de Cristo Rei, e a Antestreia Nacional do filme Sacré-Coeur. Este filme, que gerou polémica em França, tocou profundamente os participantes pela sua «profundidade e beleza», preparando o ambiente para o Domingo festivo.

Domingo: A Consagração e o Amor que Não Tem Fim

A Conferência encerrou em Festa, com a Missa Solene de Cristo Rei, presidida por D. Américo Aguiar.

O ponto culminante desta Conferência foi a Consagração da Diocese de Setúbal ao Sagrado Coração de Jesus. D. Américo Aguiar reforçou na sua homilia a ideia de que o Coração de Jesus é uma «ponte que nos traz a salvação». O Bispo convidou a construir o céu hoje, todos os dias, tornando Jesus presente.

O P. Carlos Filipe, Reitor do Santuário, encerrou os trabalhos com palavras de gratidão, afirmando que a devoção ao Coração de Jesus é o Amor que transforma e não tem fim. O encontro fortaleceu a missão do Santuário de Cristo Rei como pólo de devoção e reflexão teológica em Portugal.

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