Este artigo pretende chamar a atenção para algumas aflições invisíveis aos olhos, mas que continuam a ferir o coração de grande parte da população, em todo o mundo, atravessando classes sociais e gerações. É fundamental cuidar das dores emocionais que fazem parte da condição humana.
O sofrimento interior provocado por perdas, traumas, rejeições ou frustrações gera uma tristeza natural, que exige superação. Contudo, quando essas dores persistem, a tristeza evolui para estados de ansiedade e angústia, conduzindo a alma a um estado de prostração, isolamento e, por vezes, perda do sentido da vida. Podemos, sem exagero, considerar este fenómeno um verdadeiro flagelo da alma.
Lutar para vencer a si mesmo é um grande desafio. A sociedade moderna está marcada por incertezas, pressões e uma constante exigência por resultados — tudo isto a um ritmo frenético. Este estilo de vida gera uma inquietação constante, onde encontrar paz interior se torna um verdadeiro desafio. Com frequência ouvimos desabafos como: «Sinto-me ansioso», «A minha mente não pára», «Deito-me, mas não consigo desligar os pensamentos», «Sinto um aperto no peito e não sei o que é».
A ansiedade, de certa forma, é uma resposta natural a situações novas e desafiadoras. Faz parte do nosso instinto de sobrevivência. Diante de um perigo ou risco, o corpo reage, preparando-se para agir — e isso é necessário e benéfico.
Porém, quando deixa de ser uma reacção pontual e passa a ser uma sensação constante, exagerada e, por vezes, sem motivo claro, transforma-se numa preocupação antecipada que compromete a qualidade de vida. Deixa de ser um simples desconforto e passa a ser um transtorno emocional, uma doença que exige atenção.
Quando a ansiedade se torna um problema?
É importante avaliar três factores: a intensidade, a duração e o impacto na vida. Se o sofrimento se revela excessivo, desproporcionado aos factos, persistente no tempo e interfere na vida pessoal, familiar, profissional ou social, é sinal de que já se tornou um problema de saúde emocional.
Os sinais são claros: preocupação constante, medos sem motivo, pensamentos acelerados e negativos, tensão permanente e desconforto emocional. No corpo, podem surgir sintomas como taquicardia, falta de ar, tensão muscular, tremores, suor excessivo, boca seca, dores no estômago, insónias e formigueiros.
Após a pandemia da COVID-19, a prevalência global da ansiedade e da depressão aumentou em 25%, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Este dado revela o quanto este mal-estar se agravou na nossa época e leva-nos a questionar: a ansiedade tem cura?
Encontrar uma resposta a esta pergunta pode trazer luz e esperança a milhões de pessoas.
Este artigo oferece uma resposta cristã, sem descartar os tratamentos da psicologia e da medicina — como a psicoterapia (TCC, ACT, psicodinâmica, terapia sistémica ou familiar) —, bem como práticas complementares de relaxamento, estímulos sensoriais criativos e estilos de vida saudáveis: sono de qualidade, alimentação equilibrada, actividade física, redução do tempo de ecrã, organização das tarefas e momentos regulares de lazer.
No entanto, queremos destacar um caminho muitas vezes esquecido, mas profundamente eficaz: a espiritualidade, a oração e a intimidade com Deus — especialmente através do Coração de Jesus.
Aquele que nos disse:
«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida»
e também:
«Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração,
e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve.» (Mateus 11, 28-30)
Convidamos cada leitor a entrar no Coração de Jesus, permitindo que Ele cure, restaure e renove a esperança. Propomos 3 passos essenciais para aliviar a ansiedade e reacender a esperança.
1.º Passo: Do controlo à confiança — Aprender a entregar
O desejo — muitas vezes inconsciente — de querer ter tudo sob controlo (os resultados, o tempo, as pessoas e até o futuro) é um dos maiores gatilhos da ansiedade. Essa busca constante gera frustração, medo e uma sensação de que tudo pode falhar a qualquer momento.
A Sagrada Escritura oferece-nos outro caminho: o da confiança.
«Vinde a Mim… e Eu vos aliviarei.»
O segredo deste passo é escolher conscientemente: largar o peso da auto-suficiência e abraçar a leveza da confiança plena em Deus.
Como fazer isto na prática?
- Pela oração:
«Jesus, manso e humilde de Coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso.
Entrego-Vos, Senhor, as minhas angústias, os meus medos e tudo aquilo que não posso controlar.
Cuidai de mim.» - Sempre que os pensamentos se acelerarem, respire profundamente e repita com fé: “Jesus, eu confio em Vós.”
Este hábito, mesmo sem eliminar os desafios, transforma a forma de os enfrentar, trazendo paz ao coração e a certeza de que Deus cuida de cada detalhe da nossa vida — até das feridas invisíveis.
2.º Passo: Da aceleração ao encontro — Procurar tempo de qualidade com Deus
O ritmo frenético faz-nos viver ocupados, dispersos e constantemente ligados a ecrãs, compromissos e tarefas. Esta aceleração sufoca a alma, que necessita de silêncio, descanso e reencontro consigo mesma.
O Coração de Jesus revela-nos que a verdadeira paz não está em fazer muito, mas em estar n’Ele.
«Eu sou a videira, vós os ramos.
Quem permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto,
porque sem Mim nada podeis fazer.» (João 15, 5)
Práticas concretas para este passo:
- Comece o dia com oração:
«Senhor, hoje coloco o meu dia nas Vossas mãos.
A minha paz vem de Vós.
Que nada nem ninguém me roube a paz.» - Desligue-se durante alguns minutos. Feche os olhos, respire fundo e eleve o coração:
«Corações ao alto, o nosso coração está em Deus.» - Adore Jesus na Eucaristia. Na adoração, estar na presença basta.
- Medite a Palavra de Deus, que é luz, discernimento e âncora da esperança:
«O Senhor é o meu Pastor, nada me falta.» (Salmo 23, 1)
Estar com Deus traz ordem interior, serenidade e força para enfrentar qualquer tempestade.
3.º Passo: Da preocupação à esperança — A prática da gratidão
A mente ansiosa foca-se no que falta, no que pode correr mal, nos problemas e nas incertezas. Este ciclo adoece a alma.
A cura começa quando escolhemos olhar a vida com os olhos da esperança, da confiança e da gratidão.
«De facto, estou certo de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem as coisas presentes nem as futuras, nem os poderes, nem a altura nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor» (Romanos 8, 38-39).
Práticas de gratidão:
- Agradeça todos os dias: pela vida, pelas pequenas alegrias, pelas vitórias e até pelos desafios.
- Filtre o que consome: evite excessos de notícias negativas ou conteúdos tóxicos. Prefira boas leituras, música edificante e relações que fortalecem.
- Celebre cada conquista, por mais pequena que pareça. Santa Teresinha do Menino Jesus ensina-nos a encontrar alegria nos pequenos detalhes.
- Olhe para o Céu. Somos peregrinos. O Coração de Jesus, aberto por amor, conduz-nos à verdadeira alegria que não passa.
Então, a ansiedade tem cura? Sim. No amor do Coração de Jesus
A ansiedade tem cura quando procuramos ajuda — tanto nos meios da saúde como na espiritualidade. Deus actua através da ciência, dos médicos e dos terapeutas — mas também actua directamente, curando, restaurando e concedendo uma paz que «ultrapassa todo o entendimento». (Filipenses 4, 7)
Se alguém está a viver com ansiedade, é importante lembrar: ter uma doença não significa ser a doença. Jesus carregou sobre Si as dores da humanidade para que hoje cada pessoa possa entregar-Lhe o peso que oprime o seu coração.
A cura é um caminho. Passo a passo, no Coração de Jesus, reencontra-se o sentido, a paz e a esperança. As feridas encontram misericórdia, os medos encontram acolhimento e a fé é fortalecida.
Que o Coração de Jesus seja sempre refúgio, segurança e fonte de esperança para todos.