A importância do descanso e da espera, segundo o Papa Leão XIV

Descanso e Espera Cristã. Mulher Cristã Sentada a meditar e refletir

A importância do descanso e da espera, segundo o Papa Leão XIV

Em diversas catequeses, o Papa Leão XIV ofereceu uma profunda reflexão sobre duas atitudes espirituais decisivas para a vida cristã: o descanso e a espera. Numa sociedade marcada pela pressa e pela ansiedade, o Pontífice recoloca o olhar da Igreja sobre a certeza de que Deus age no silêncio e no tempo, e que a esperança nasce do encontro entre a acção divina e a docilidade humana.

A esperança que nasce da intuição

O Papa apresenta a esperança como um caminho que exige sensibilidade espiritual. Afirma que o Jubileu torna «peregrinos de esperança, porque intuimos uma grande necessidade de renovação que diz respeito tanto a nós como a toda a Terra». Segundo o Papa, a intuição é uma forma de abertura, uma inteligência do coração.

Leão XIV recorda que «Deus é simples e revela-se aos simples», e que o povo de Deus possui um faro espiritual que aponta o rumo certo. Essa verdade surge de modo particularmente belo no episódio da eleição de Santo Ambrósio, quando o povo, mesmo sem explicações teológicas, reconheceu, guiado pelo Espírito, aquele que haveria de ser um dos maiores bispos da Igreja.

Por isso o Papa afirma: «O povo tem este faro: compreende se nos estamos a tornar cristãos ou não». A espera, assim, não é passividade, mas um discernimento humilde que abre espaço para a acção de Deus.

Escavar é ir além da superfície

Na catequese de 6 de Setembro, Leão XIV retoma a imagem das crianças que escavam a terra, encantadas com o que podem encontrar. A partir daí, apresenta a esperança como um movimento de profundidade: «A esperança reacende-se quando escavamos e quebramos a crosta da realidade, quando vamos abaixo da superfície».

Essa metáfora culmina na figura de Santa Helena que, pela sua busca da Cruz de Cristo, mostra que a esperança floresce quando mergulhamos na própria história, reconhecendo ali o tesouro escondido que transforma todas as coisas. «A sua Cruz está sob a crosta da nossa terra», afirma o Papa, recordando que Cristo se revela nos lugares de dor, de limite e de verdade.

A espera cristã é, portanto, activa. Ela olha a realidade com coragem, desce às suas raízes e reconhece nas profundezas da vida o Deus que age silenciosamente. Helena foi capaz disso porque carregou a sua própria cruz com dignidade. Assim também o cristão aprende a transformar os momentos de dificuldade em terreno fértil para a esperança.

O Sábado Santo, a escola do descanso

Na catequese do dia 17 de Setembro, o Papa conduz a Igreja ao coração da espera cristã: o Sábado Santo. «Temos dificuldade em parar e descansar. Vivemos como se a vida nunca fosse suficiente. Corremos para produzir, para demonstrar, para não perder terreno. Mas o Evangelho ensina-nos que saber parar é um gesto de confiança que devemos aprender a realizar. O Sábado Santo convida-nos a descobrir que a vida nem sempre depende daquilo que fazemos, mas também do modo como sabemos desapegar-nos do que pudemos fazer», exorta Leão XIV ao denunciar o activismo actual.

A sepultura de Cristo é apresentada não como interrupção, mas como gestação. A vida parece suspensa, mas Deus prepara ali a maior de todas as obras. Por isso o Papa explica que Deus é também «Senhor da espera» e que o tempo de silêncio pode tornar-se lugar de graça: «O nosso tempo inútil, o das pausas, dos vazios, dos momentos estéreis, pode tornar-se ventre de ressurreição (…) Cada silêncio acolhido pode ser a premissa de uma Palavra nova. Cada tempo suspenso pode tornar-se tempo de graça, se o oferecermos a Deus!».

O descanso, iluminado pelo Sábado Santo, ganha um sentido espiritual profundo. Cristo repousa no túmulo não porque está cansado, mas porque consumou a sua obra: «Não porque está cansado, mas porque terminou o seu trabalho. Não porque se rendeu, mas porque amou até ao fim», recorda Leão XIV.

Espera, descanso e esperança

A síntese destas catequeses do Papa Leão XIV encontra-se na sua afirmação final: «A esperança cristã não nasce no barulho, mas no silêncio de uma espera habitada pelo amor». A espera, a intuição, a escavação e o descanso convergem para um mesmo ponto: o encontro com Deus que age nas profundezas.

A espiritualidade cristã não corre atrás de respostas imediatas; ela dispõe-se, permanece e abre-se. Tal como o povo que intuiu a vocação de Ambrósio, tal como Helena que procurou a Cruz, tal como o Corpo do Senhor que repousou no jardim, o cristão aprende que a obra de Deus se dá em ritmos divinos, e não no ritmo da pressa moderna.

A espera é confiança, o descanso é fé e a esperança é fruto dessas duas atitudes!

Aprender o ritmo do céu

O Papa recorda que, mesmo quando tudo parece parado, Deus trabalha; que, mesmo no silêncio, Deus prepara a ressurreição; e que, no tempo que julgamos estéril, Ele planta a semente da vida nova.

Por isso, cada fiel é chamado a aprender o ritmo do Céu, esperando com humildade e descansando com confiança.

«A verdadeira alegria nasce da espera habitada, da fé paciente, da esperança de que quanto é vivido no amor, certamente renascerá para a vida eterna», finalizou o Pontífice.

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