O Presépio não é um simples ornamento natalício. É um Evangelho silencioso que fala ao coração, revelando a identidade d’Aquele que nasceu na humildade. Diante dele, percebemos que o Deus eterno não escolheu um palácio, mas a palha. O mistério da Natividade revela a grandeza surpreendente do Seu senhorio: um Rei que se despoja para que ninguém tenha medo de se aproximar.
São Francisco de Assis, ao criar o primeiro Presépio em Greccio, quis justamente isso: que cada pessoa pudesse contemplar o modo inesperado como Deus escolheu visitar o mundo. A Encarnação revela que o Senhor prefere a proximidade à distância.
Quem desejar aprofundar esta tradição tão querida à Igreja pode ler também o artigo «800 anos de uma devoção especial: o presépio de São Francisco».
«De facto, o Presépio é como um Evangelho vivo que transborda das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele», escreveu o saudoso Papa Francisco na Carta Apostólica Admirable Signum sobre o significado e valor do presépio.
Tudo no Presépio aponta para essa pedagogia do Céu. Entre tantos detalhes, três se destacam como sinais para reconhecer o senhorio de Cristo: a manjedoura, os pastores e a presença silenciosa de José e Maria.
A manjedoura, o trono de um Rei que serve
A manjedoura, objeto tão simples, é o primeiro grande sinal. Nenhum rei terreno começaria a vida num cocho de animais, mas o Rei do universo faz exactamente isso. A palha torna visível a escolha de um Deus que não se impõe, mas se oferece. Ela revela pobreza, mas também alimento. Aquele lugar onde os animais se alimentavam torna-se o primeiro altar que recebe o Pão vivo descido do Céu.
A manjedoura revela um reinado que nasce da doação. Cristo não reina porque exige, mas porque Se entrega. O verdadeiro Senhor deseja ser encontrado por todos, sobretudo pelos que se sentem pequenos. A manjedoura é um convite constante a olhar para o Salvador e perceber que, diante Dele, a única grandeza possível é a do amor.
Os pastores, pequenos escolhidos para reconhecer o Rei
Os primeiros a ouvir o anúncio do nascimento do Messias foram pastores. Eram pobres e frequentemente desprezados pela sociedade da época. Ainda assim, foi a eles que Deus enviou a Sua luz. Foram eles que receberam a notícia da grande alegria e correram ao encontro do Menino.
«A Deus, que vem ao nosso encontro no Menino Jesus, os pastores respondem, pondo-se a caminho rumo a Ele, para um encontro de amor e de grata admiração», recordou o Papa Francisco.
A presença dos pastores revela o segundo sinal do senhorio de Cristo: Ele escolhe reinar sobre corações simples e disponíveis. Os pastores não tinham riquezas, prestígio ou conhecimento. Tinham, porém, aquilo que Deus mais estima: abertura e humildade.
Os pastores tornam visível que o Reino de Cristo é diferente dos reinos humanos. Nele, os últimos são os primeiros e os pequenos são acolhidos com preferência. Aprendem depressa o que muitos doutores não compreenderam: que o Senhor se deixa reconhecer por quem não se apoia nas próprias seguranças. Ao contemplarmos esses homens simples ajoelhados diante da manjedoura, somos convidados a olhar para o próprio coração e a perguntar se estamos dispostos a deixar que Deus nos conduza com a mesma confiança.
José e Maria, a autoridade que nasce da obediência e do serviço
«Olhemos para o Presépio: Nossa Senhora e São José não parecem ser uma família coroada de êxito; tiveram o seu primogénito entre grandes indigências; contudo estão repletos de alegria interior, porque se amam, se ajudam e sobretudo porque estão certos de que na sua história é Deus quem age, o Qual se fez presente no pequenino Jesus», lembrou o Papa Bento XVI em dezembro de 2009.
O Presépio não pode ser compreendido sem José e Maria. Neles encontramos o terceiro sinal do senhorio de Cristo: a autoridade divina manifesta-se por meio de corações obedientes. Maria acolhe o Verbo eterno com a simplicidade de quem se reconhece serva. Ela vive cada gesto com fé profunda e torna possível que o Filho de Deus encontre um lar entre os homens.
José, silencioso e firme, também participa desta revelação. A Escritura não registra nenhuma palavra sua, mas regista os seus actos. Ele protege, guia, trabalha e cuida. Renuncia aos próprios planos para acolher os de Deus, assume responsabilidades difíceis e oferece segurança à Sagrada Família.
Maria e José, pela obediência, revelam um senhorio que não tem nada de opressor. Cristo reina através de quem aceita servi-Lo. Ele continua a agir na Igreja e no mundo por meio de corações dóceis, disponíveis e fiéis.
O Presépio continua a revelar o Rei
Cada ano, o Natal coloca-nos novamente diante da manjedoura para que reencontremos o significado do reinado de Cristo. Ele reina servindo, como a manjedoura ensina. Reina acolhendo os pequenos, como os pastores testemunham. Reina transformando vidas que se entregam, como vemos em José e Maria.
Contemplar o Presépio é permitir que esses sinais entrem na alma e a renovem. É reconhecer que Ele continua a nascer nas situações humildes, silenciosas e frágeis do nosso quotidiano.
O Rei que escolheu a palha continua a chamar cada pessoa para o Seu Reino. Cabe a nós aproximarmo-nos com a mesma simplicidade dos pastores, com o mesmo amor de Maria, com a mesma fidelidade de José. A manjedoura onde tudo começou permanece a lembrar-nos que a glória de Deus brilha com mais força quando a humildade é acolhida.
Contemple o Presépio do seu lar e deixe-se tocar pelo mistério da Encarnação de Cristo!



