Este texto integra o itinerário espiritual que o Santuário de Cristo Rei tem vindo a propor ao longo de 2025, como preparação para a celebração do centenário da Instituição da Solenidade de Cristo Rei. Todos os meses, somos convidados a aprofundar uma dimensão do Seu Reino nas nossas vidas, na Igreja e na sociedade.
Será possível construir um lar feliz se Cristo não estiver no centro da vida familiar?
«Se o Senhor não edificar a casa, em vão se esforçam os construtores; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigiam os guardas» (Salmo 127, 1).
Já parou para meditar nesta passagem bíblica? A sua vida e a sua família estão a ser edificadas por Cristo? O seu lar, a sua rotina diária, estão orientados para consultar Cristo em cada decisão, das mais importantes às mais simples do dia-a-dia?
A importância da família para a sociedade
Vivemos um tempo em que a vocação familiar se vê cada vez mais atacada. Antes de aprofundarmos as respostas cristãs a esta problemática actual, é importante compreender a relevância da família para a sociedade em qualquer época da história.
A família é a nossa primeira escola de vida. É por meio dela que recebemos os cuidados físicos — alimentação, repouso, vestuário, higiene —, aprendemos a linguagem, somos protegidos dos perigos, assimilamos as relações humanas, desenvolvemos o amor, o respeito e a solidariedade, bem como enfrentamos sentimentos como o ciúme ou a inveja.
Na rotina familiar, temos os primeiros contactos com o brincar, as artes, as tarefas, os estudos e a convivência com outros parentes e amigos. Com o apoio da família, somos introduzidos nas relações de trabalho e afectivas, escolhemos uma profissão e, muitas vezes, também o cônjuge com quem consolidar uma nova família. É no seio familiar que se forma o carácter e a personalidade de cada pessoa.
Desafios que ameaçam o lar
As famílias enfrentam hoje grandes desafios: o aumento dos divórcios; a instabilidade provocada pela recomposição de lares com filhos de diferentes relações; o crescimento preocupante da violência doméstica — física, psicológica ou sexual —, que ameaça sobretudo mulheres e crianças; o individualismo de uma sociedade tecnológica, que gera isolamento; as crises financeiras, que afectam a saúde emocional e os relacionamentos; e o choque de gerações, provocado pelas rápidas mudanças culturais.
A resposta cristã para um lar equilibrado
Como ser feliz e construir uma família equilibrada diante de tantos conflitos, além das doenças repentinas, da depressão, da ansiedade, do alcoolismo, da toxicodependência, do isolamento social, das ideologias radicais e do excesso de ecrãs que roubam tempo de convivência?
Será suficiente investir apenas nos laços afectivos, na comunicação e em alguns momentos de qualidade em família?
Para quem crê em Jesus Cristo, a resposta é clara: não. Sem Cristo, toda a resposta puramente humana será sempre frágil e limitada. Em Cristo somos mais fortes, pois Ele é o nosso refúgio, a pedra angular, o verdadeiro alicerce de toda a família cristã.
Cristo no centro do lar
Se as famílias cristãs desejam ser verdadeiramente felizes, ordenadas e resistentes às adversidades, precisam colocar Cristo no centro — não apenas recordá-Lo em tempos de crise, mas reconhecê-Lo como Senhor do lar todos os dias.
Quando Lhe abrimos a porta, Ele entra e senta-Se à mesa. Quando pedimos que abra caminhos, Ele, que é a própria Porta, guia-nos. Quando o inimigo ameaça, Ele protege. Quando O procuramos, encontramo-Lo. Na oração, na partilha da Palavra, na participação nos sacramentos e na vida de fé em família, Cristo concede o que pedirmos com confiança.
«Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede recebe, quem procura encontra; e a quem bate abrir-se-á» (Mateus 7, 7-8).
A presença de Cristo não elimina os sofrimentos, mas transforma-os em oportunidade de amar mais, perdoar melhor e sustentar uns aos outros na graça. Pais que se submetem humildemente à vontade de Deus ensinam aos filhos que a vida não se resume a conquistas materiais, mas à comunhão com Deus e com o próximo.
Quando Cristo reina na sociedade
Toda a sociedade é beneficiada quando Cristo reina no coração das famílias. Lares firmados n’Ele são mais sólidos, cheios de fé, esperança, virtudes e compromisso com o bem comum. Pelo contrário, sociedades que se afastam de Cristo sofrem mais, porque rejeitam Aquele que levou sobre Si o peso da humanidade.
«Vinde a Mim, todos os que andais fatigados e oprimidos, e Eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve» (Mateus 11, 28-30).
O Reino de Cristo começa no coração de cada pessoa, mas floresce especialmente no lar. É aí que se aprendem os valores do serviço, da partilha e do amor. Os pais são chamados a cuidar da sua «igreja doméstica», evangelizando os filhos, educando-os na fé, criando o hábito da oração e preparando-os para transformar a sociedade.
«Eu e a minha casa serviremos ao Senhor» (Josué 24, 15).
Construir, não descartar
Num mundo de soluções rápidas e superficiais, construir um lar saudável exige entrega e sacrifício. A família não se descarta: constrói-se. Quando alguém cai, os outros erguem-no; quando chega o luto, há quem console.
Se queremos que Cristo reine na sociedade, o primeiro lugar onde Ele deve reinar é no lar. Com Cristo como alicerce, cada gesto de amor e cada oração tornam-se tijolos desta casa espiritual, que resiste às tempestades e cumpre a promessa de Jesus:
«Eu estou convosco todos os dias, até ao fim dos tempos» (Mateus 28, 20).
