Vida Plena: Redescobrindo a Melhor Idade

Melhor Idade

Vida Plena: Redescobrindo a Melhor Idade

Neste artigo, aprofundaremos o tema do envelhecimento como um dom divino, quando vivido com fé, cuidado e esperança, fazendo de cada dia uma oportunidade de renascimento. A chamada “melhor idade”, ou terceira idade, pode ser, sim, um tempo fecundo, com um novo propósito: redescobrir valores, aprender a saborear novos gostos, hábitos, lazeres, viagens e países; tempo de fazer o que ainda não foi feito, de amar o que ainda pode ser amado, de descobrir uma nova liberdade espiritual, uma paz ainda não experimentada, uma alegria que renova a esperança de viver cada dia, vendo o tempo como uma bênção e o envelhecimento como uma oportunidade de amadurecimento e um caminho de santidade na maturidade da vida.

Mais do que meramente contar os anos que ainda restam, viver bem a velhice é ressignificar o florescer da alma: multiplicar cada dia com sabedoria, amor e serenidade. Cada dia bem vivido prolonga a vida na terra. É necessário ultrapassar a barreira imposta pela sociedade moderna, que idolatra a juventude e teme o envelhecimento, recorrendo à indústria da estética para esconder as rugas e as marcas da vida como se o tempo vivido não tivesse valor ou beleza.

Perante esta visão distorcida, a fé cristã propõe uma visão plenamente diferente e libertadora sobre o envelhecimento. Cada etapa da vida detém a sua beleza, a sua graça e a sua missão. A terceira idade, longe de ser um tempo de perdas e limitações, é, sobretudo, um tempo de plenitude, no qual a alma se encontra mais viva e mais próxima de Deus.

A correria da juventude dá lugar, agora, a um maior estado de silêncio, calma e contemplação. Olhando com gratidão para os frutos colhidos com esforço e dedicação, o idoso é impelido a procurar o que realmente importa e é essencial: uma nova primavera à espera da companhia íntima com Deus.

No livro de Job encontramos uma palavra que ilumina esta reflexão: «Nos cabelos brancos está a sabedoria; e nos longos dias, o entendimento.» (Job 12,12). À luz de Job e da espiritualidade cristã, valorizemos este tempo tão belo, rico em história, graças vividas e memórias registadas, com oração, oferta, amor e busca de saúde e bem-estar.

Envelhecer com Propósito

A prova de que Deus valoriza e confirma o envelhecimento com propósito está na escolha de muitos homens e mulheres idosos, chamados a cumprir missões específicas. Noé, mesmo com uma idade avançada, recebeu nada mais nada menos do que a missão de construir a arca para salvar a humanidade do dilúvio. Josué foi chamado a exercer a liderança do povo de Israel rumo à Terra Prometida. Eli ajudou no processo de discernimento e formação do jovem Samuel, que se tornou um grande profeta, capaz de ouvir e seguir a voz do Senhor.

Zacarias e Isabel, mesmo estéreis e idosos, foram instrumentos do milagre da vida, tornando-se pais de João Baptista, o maior dos profetas nascidos de mulher. Tobias, cego e idoso, foi fiel e perseverante na oração e na caridade durante o exílio, sendo curado da vista pela graça divina. Não podemos esquecer que tudo começa com Abraão, chamado por Deus a ser pai de uma nação. Com cerca de 75 anos, deixou a sua terra e tudo o que conhecia, rumo à terra que o Senhor ainda lhe mostraria (cf. Gn. 12,1–4). Na sua velhice, ainda sem filhos com Sara, manteve-se fiel. Deus reafirmou a Sua aliança, mudou o seu nome de Abrão para Abraão, que significa “pai de muitas nações”. Vê o cumprimento da promessa com o nascimento de Isaac, mostrando que a fidelidade a Deus não tem prazo de validade e que a velhice deve ser tempo de graça.

A terceira idade é tempo de bênção, sabedoria e serviço. Esta ideia de inutilidade, de apenas descansar e esperar a morte, não tem qualquer fundamento na fé cristã. Muitos idosos, nesta etapa da vida, podem rezar mais, aconselhar, evangelizar com a sabedoria adquirida nas suas experiências, cuidar dos netos e transmitir a fé às novas gerações. Afinal, não se retira da missão de ser sal e luz neste mundo.

Envelhecer com Saúde

Para além do propósito espiritual, o envelhecimento saudável passa pelo cuidado do corpo, que é templo do Espírito Santo (cf. 1Cor 6,19). Este cuidado, feito com carinho e dedicação, é digno e essencial. O corpo, já cansado pelos sacrifícios da vida, merece atenção com uma alimentação equilibrada, prática regular de exercício físico adaptado, acompanhamento profissional, repouso adequado e sono de qualidade — elementos fundamentais para viver bem esta fase.

Fazer exercício, manter-se em movimento e conviver com outros idosos fortalece os músculos, os ossos, melhora o equilíbrio, a coordenação e a saúde cardiovascular, ajuda no controlo do peso e do metabolismo, alivia as dores crónicas e estimula o sistema imunitário. O cuidado com a saúde física e o convívio social ajudam também a enfrentar a solidão, as perdas e as limitações, promovendo o bem-estar emocional e fortalecendo o testemunho de fé.

Por isso, envelhecer com sentido e propósito significa procurar o equilíbrio entre a vivência da fé — com orações diárias, a participação na Eucaristia, a recitação do santo terço e a meditação da Palavra — e os cuidados com o corpo e a saúde mental.

Os Cuidados da Família e da Comunidade com os Idosos

Segundo a Doutrina Social da Igreja, constata-se que toda a vida humana tem dignidade, desde a concepção até à morte natural. Esta verdade convida-nos a olhar com mais atenção e respeito para os idosos. Cuidar deles não é apenas um acto de afecto e atenção, mas uma responsabilidade familiar e uma demonstração prática de justiça e caridade cristã. Numa sociedade marcada pelo imediatismo e pelo individualismo, é dever da família e da comunidade resgatar o valor dos que envelhecem, reconhecendo neles a presença de Deus, a sabedoria e a maturidade da vida.

A protecção, os gestos atentos de amor e a inclusão dos idosos são marcas visíveis de que, para nós, a dignidade não se desvanece com o tempo, mas fortalece-se com o percurso da vida. Jesus, já próximo da sua morte na cruz, preocupa-se com a sua Mãe e, ao dirigir-se a João, dá-nos um exemplo claro ao dizer: «Eis a tua Mãe» (Jo 19,27). Revela-nos que a família deve ser sempre um espaço de acolhimento e de cuidado. Filhos e netos são chamados a viver este mandamento de amor, honrando os seus pais, inclusive na velhice, com atenção, paciência e carinho.

A Igreja, as comunidades cristãs e as políticas públicas devem criar e fortalecer projectos e espaços de escuta, de convívio e de formação para os idosos. Grupos de terceira idade, núcleos de convívio, celebrações, visitas domiciliárias e acções pastorais são formas concretas de valorizar esta etapa da vida.

Envelhecimento e Recomeço

O envelhecimento marca o percurso de uma vida dedicada. A idade e a reforma não representam um fim, mas o início de um novo tempo — não de declínio, mas de crescimento —, uma busca mais madura por aquilo que é essencial e eterno. Para o cristão, o fim da vida terrena é apenas o início da verdadeira vida: a vida eterna prometida por Jesus. «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância» (Jo 10,10).

Conclui-se que o envelhecimento saudável tem o propósito de promover uma vida com equilíbrio, unindo o cuidado consigo mesmo à confiança plena em Deus. Cada ruga e marca do tempo são sinais visíveis de batalhas vencidas. O andar mais calmo, fruto do cansaço das lutas da vida, pode ser vivido com dignidade, transformando cada dia num dom, com um envelhecimento activo, saudável e com sentido.

Esta nova primavera da melhor idade deve ser acolhida com serenidade, vivendo com saúde e bem-estar este novo tempo, confiando que, em todas as idades, somos amados por Deus e chamados à santidade. E que, no final da nossa caminhada, possamos dizer como São Paulo: «Combati o bom combate, terminei o meu percurso, guardei a fé» (2Tm 4,7).

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