A «médica» beneditina: 7 hábitos de Santa Hildegarda para curar corpo e alma (hoje)

Santa Hildegarda de Bingen, monja beneditina e Doutora da Igreja

A «médica» beneditina: 7 hábitos de Santa Hildegarda para curar corpo e alma (hoje)

Santa Hildegarda de Bingen, monja beneditina, viveu na Alemanha no século XII. Foi chamada de profetisa teutónica pelos seus dons singulares, sendo muito estimada ainda em vida. Mulher à frente do seu tempo, com grande sabedoria escreveu diversos tratados de filosofia, teologia, hagiografia, ciência, medicina e cosmologia. Para além de todos estes contributos, possuía também uma veia artística, compondo poesia lírica e músicas sublimes — antífonas, responsórios, sequências, hinos, um Kyrie eleison e um Alleluia. Esta riqueza encontra-se na sua obra Symphonia harmoniae caelestium revelationum (Sinfonia da harmonia das revelações celestiais, 1140-50), além de ter sido favorecida com experiências místicas singulares.

Os seus escritos estão todos em Latim, apesar de nunca ter estudado formalmente. Fundou mosteiros e foi abadessa. Lutou como defensora da fé, pregando contra as heresias do seu tempo, sobretudo a heresia cátara, chamando os seus seguidores de «lobos em pele de ovelha». Hildegarda foi firme ao dirigir-se às autoridades da Igreja e também aos civis, denunciando a corrupção e o relaxamento dos costumes. Mais do que uma forte influência religiosa, a abadessa beneditina teve também impacto na vida política, não fazendo do mosteiro um refúgio, mas uma verdadeira fortaleza de batalha. Dali proferiu sermões, partiu em viagens e enviou centenas de cartas.

A 7 de Outubro de 2012, Hildegarda foi proclamada Doutora da Igreja por Bento XVI, que afirmou sobre a santa:

«O ensinamento da santa monja beneditina coloca-se como guia para o Homo viator. A sua mensagem é extremamente actual no mundo contemporâneo, particularmente sensível ao conjunto de valores por ela propostos e vividos. Pensamos, por exemplo, na capacidade carismática e especulativa de Hildegarda, que se apresenta como um incentivo vivo à investigação teológica; na sua reflexão sobre o mistério de Cristo, contemplado na sua beleza; no diálogo da Igreja e da teologia com a cultura, a ciência e a arte contemporânea; no ideal de vida consagrada como possibilidade de realização humana; na valorização da liturgia como celebração da vida; na ideia de reforma da Igreja, não como estéril mudança de estruturas, mas como conversão do coração; e na sua sensibilidade para com a natureza, cujas leis devem ser tuteladas e não violadas.»

Também São João Paulo II a descreveu como «Luz do seu povo e do seu tempo».

Uma vida iluminada pela «Luz viva»

Hildegarda foi uma resposta de santidade que marcou o seu tempo com a sua luz e continua a iluminar a história com as suas revelações. Uma das suas experiências aconteceu no ano de 1141, quando tinha 42 anos:

«E novamente ouvi uma voz do Céu dizer-me: “Diz então as maravilhas e escreve-as como te são ensinadas e ditas”.»

E ela continua:

«Uma luz de fogo, de brilho intenso, provinda do Céu aberto, derramou-se sobre todo o meu cérebro, sobre o meu corpo e sobre o meu peito, como uma chama que, sem queimar, inflamava, tal como o sol aquece aquilo sobre o qual lança os seus raios.»

Hildegarda já experimentara desde a infância a força das visões e mistérios de Deus, revelados de modo admirável no seu interior, mas, a partir desta experiência, decidiu manifestar o que lhe era dado, tornando-se luz viva a iluminar o que estava oculto.

A partir de então, foi chamada a ser verdadeiramente profetisa, boca de Deus, repetindo as palavras que lhe eram reveladas. Sustentou isto durante toda a sua vida, afirmando que nada dizia por si mesma, mas apenas transmitia o que a Luz viva lhe revelava. Cumpria-se assim o que está escrito: «Tudo o que está escondido e tudo o que está patente eu conheço, porque foi a Sabedoria, criadora de todas as coisas, que mo ensinou.»

Hildegarda tinha plena consciência do seu dom visionário e afirmava: «Tudo o que escrevi veio sempre da fonte das minhas visões celestes.» Acreditava também que, em toda a criação — árvores, plantas, animais e pedras preciosas —, estão ocultos poderes secretos que só poderiam ser conhecidos se revelados por Deus.

A medicina de Hildegarda: equilíbrio e moderação

Segundo a santa, o princípio mais importante para alcançar saúde é a dieta, pois poucos alimentos são totalmente bons para o ser humano. Para ela, o caminho para uma vida saudável caracterizava-se pela moderação cristã em todas as coisas, equilibrando alimentação, sexualidade, sono e movimento.

A sua medicina não defendia vegetarianismo extremo, nem dietas cruas ou exageradas, nem abstinência radical, mas a escolha de bons hábitos e bons alimentos. Recomendava a espelta (um trigo ancestral de grande valor nutritivo), frutos secos, especiarias como galanga, tomilho, noz-moscada, cravinho, canela, lavanda e funcho — que auxiliam a digestão e melhoram o humor —, bem como a amêndoa e o mel. Desaconselhava, porém, o consumo de alimentos crus (excepto saladas bem temperadas), pois considerava-os prejudiciais à flora intestinal. Incentivava, por isso, o cozimento dos alimentos, para favorecer a digestão e o bom funcionamento do intestino.

Sete hábitos de Santa Hildegarda para curar corpo e alma hoje

1 – Dieta e eliminação de toxinas

O jejum de Santa Hildegarda não tem como finalidade apenas emagrecer ou «limpar o organismo», mas restabelecer a harmonia entre corpo, mente e espírito. O jejum é caminho de conversão interior, combate aos vícios e aproximação de Deus. Como afirmava sempre, o excesso é prejudicial, e o jejum deve adequar-se à condição física de cada pessoa.
Pode ser feito em forma de jejum líquido (sopas de espelta, chá de ervas como funcho, sumos naturais e água) ou parcial (redução gradual de alimentos pesados, mantendo sopas leves, ervas medicinais, pequenas porções de frutas e cereais). Juntamente com a dieta, recomendava silêncio e leituras espirituais. Hoje, este percurso deve ser acompanhado por médicos ou terapeutas hildegardianos. Quanto à eliminação de toxinas, a santa sugeria banhos, saunas e compressas para ajudar o organismo a purificar-se.

2 – Sangria histórica e técnicas integrativas actuais

A prática da sangria, segundo Hildegarda, tornava o sangue mais fluido, diminuindo o risco de trombose e apoplexia. Ajudava ainda a eliminar toxinas, como a bílis negra, e estimulava a produção de substâncias curativas pelo próprio corpo.
Embora a sangria já não seja prática comum na medicina moderna, o legado da santa continua a influenciar abordagens integrativas. Actualmente, as técnicas mais utilizadas são: flebotomia terapêutica controlada (em casos específicos como hemocromatose ou policitemia vera), hirudoterapia (sanguessugas), acupunctura, ventosas, fisioterapia vascular e drenagem linfática — sempre com acompanhamento médico.

3 – Ritmo e sono

O descanso noturno, dizia a santa, fortalece o corpo, renova a alma e participa da ordem natural criada por Deus. É essencial manter horários regulares, dormir em ambiente limpo e arejado, e sobretudo com moderação: nem em excesso, que leva à apatia, nem em falta, que desgasta o corpo e a mente. Recomendava a prática beneditina do exame de consciência antes de dormir, para que o repouso fosse verdadeira medicina.

4 – Silêncio nutritivo e contemplação da natureza

Hildegarda via o excesso de palavras como desgaste vital e distracção que afasta de Deus. O silêncio, pelo contrário, alimenta o coração e aproxima da oração. Recomendamos reservar 10 minutos diários de silêncio orante, respirando o Nome de Jesus, e agradecer sempre nas refeições. Também a natureza, para ela, era caminho de contemplação de Deus. Inspirados na santa, podemos dedicar 15 minutos a uma caminhada contemplativa, transformando-a em lectio divina com os olhos voltados para a criação.

5 – Música que cura

Para Hildegarda, a música reflectia a harmonia do cosmos e era linguagem divina que aproxima do Paraíso. O canto era, ao mesmo tempo, oração, medicina da alma e profecia, participação no cântico eterno dos anjos. Com ela aprendemos a valorizar a música sacra, o canto gregoriano e os salmos como alimento espiritual.

6 – Confiança e combate espiritual

No Ordo Virtutum, Hildegarda apresenta a alma como peregrina, chamada a escolher entre a desarmonia do demónio (que não canta, mas grita) e o canto harmonioso das Virtudes que a conduzem a Deus. O cristão vence este combate revestindo-se das virtudes e sustentando-se pela graça. Inspirados nela, podemos cultivar a escuta interior, renunciar ao mal, apresentar as nossas emoções a Cristo e recorrer frequentemente ao Sacramento da Reconciliação.

7 – Caridade concreta

Para Hildegarda, a vida monástica não se limitava à oração, mas devia estender-se em obras de misericórdia. Foi generosa e solícita para com os pobres ao redor do mosteiro, oferecendo cuidado espiritual e ajuda material. Ensinou, assim, que a verdadeira mística transforma a realidade e marca a história.

Um caminho de esperança e cura

Com Santa Hildegarda aprendemos que a autêntica vida espiritual não é fuga do mundo, mas compromisso transformador, caminho seguro de esperança e de cura para todos.

Nota: Este percurso da medicina de Santa Hildegarda é uma reflexão espiritual inspirada pelos seus escritos e pela sua experiência como Doutora da Igreja. Não substitui aconselhamento médico. Para tratamentos específicos, deve sempre procurar-se acompanhamento médico especializado em medicina hildegardiana.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *