Esperança Eterna: O Reino de Cristo e a Promessa Cristã

Esperança eterna no Reino de Cristo e a promessa cristã – Santuário de Cristo Rei

Esperança Eterna: O Reino de Cristo e a Promessa Cristã

Este artigo integra o itinerário espiritual que o Santuário de Cristo Rei tem vindo a propor ao longo do ano, em preparação para o Centenário da Instituição da Solenidade de Cristo Rei. Sendo o penúltimo desta caminhada mensal, convida-nos a renovar a confiança na promessa cristã da vida eterna, às portas da celebração jubilar de Novembro.

Ao longo da história bíblica, a palavra esperança aparece cerca de 290 vezes na Sagrada Escritura. Embora seja difícil medir com exactidão esta realidade, pela variação de traduções possíveis, é certo que se trata de um elemento fundamental na história da fé dos homens e mulheres na sua relação com Deus.

No Antigo Testamento, a esperança é expressa por termos hebraicos como qawah (esperar), batah (confiar), tiqwah (esperança, expectativa). Enquanto os outros povos eram idólatras e cultuavam vários deuses, Israel era monoteísta: adorava unicamente Javé. A história bíblica relata que, diante de tanto sofrimento, violência, guerras, inferioridade militar e escravidão, as adversidades acabavam por fortalecer a fé, a confiança e a expectativa de que Deus interviria em favor do Seu povo.

Este refúgio em Deus fez da esperança uma virtude essencial para quem crê. O salmista proclama: «Senhor, Tu és a minha esperança…» (Salmo 71,5). Também Jeremias confessa: «Esperança de Israel, seu salvador no tempo da desgraça…» (Jr 14,8).

Os israelitas aprenderam a esperar no Senhor e testemunharam a força do Seu braço, a Sua palavra que orienta e a salvação que os libertou. Os profetas anunciaram um tempo novo, uma aliança definitiva e a vinda do Messias prometido (cf. Is 60,1-2).

A esperança no Novo Testamento

No Novo Testamento, o termo esperança adquire nova densidade: elpis (esperança) e elpizo (esperar) surgem nos Actos dos Apóstolos e nas epístolas paulinas. Com a chegada do Messias, dá-se a mudança decisiva: no Antigo Testamento a esperança apontava para o «ainda não» da salvação; em Cristo inaugura-se o «já sim, mas ainda não».

Ou seja: já participamos da salvação, mas aguardamos a sua plenitude eterna.

Na Carta aos Romanos, São Paulo apresenta um verdadeiro itinerário espiritual: «Gloriamo-nos também nas tribulações, por sabermos que a tribulação gera perseverança; a perseverança, firmeza; e a firmeza, esperança.» (Rm 5,3-4).

Cada pessoa traz no coração uma pergunta silenciosa: existe algo para além desta vida? A esperança cristã responde que sim — mas para a alcançar é necessário atravessar alegrias e dores, vitórias e fracassos. É na luta diária, vivida com fé e perseverança, que amadurecemos e semeamos uma vida de esperança.

A promessa de Cristo

Desde os primeiros séculos, os cristãos viveram firmes nesta confiança. Não acreditavam num deus abstracto, mas em Jesus, que pela sua vida, morte e ressurreição revelou o caminho para o encontro definitivo com Deus. Ele mesmo prometeu: «Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, ter-vos-ia dito que vou preparar-vos um lugar?» (Jo 14,2).

Esta promessa é o coração da esperança cristã: a certeza de que caminhamos para a eternidade e para a verdadeira liberdade.

O Reino que já começou

Ao rezarmos «Venha a nós o Vosso Reino», reconhecemos que o desejo de Jesus é que o Reino de Deus se torne realidade entre nós. O termo grego Basileia pode ser traduzido como realeza, reino ou reinado.

O Reino já existia antes de nós, aproximou-se com o Verbo Encarnado, foi anunciado no Evangelho, manifestou-se plenamente na morte e ressurreição de Cristo e vem até nós na Eucaristia: Ele está no meio de nós.

Cada acto de amor, cada gesto de misericórdia, cada vida transformada pela graça é sinal do Reino.

O Reino que ainda esperamos

Contudo, o Reino ainda não está consumado «com poder e grande glória» (cf. Lc 21,27). As forças do mal ainda o combatem, embora já derrotadas pela Páscoa de Cristo.

Enquanto não surgirem «novos céus e nova terra» (cf. 2 Pe 3,13), a Igreja permanece peregrina, sustentada pelos sacramentos e pela oração, sobretudo na Eucaristia, onde clama: «Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22,20).

O tempo presente é tempo do Espírito, de testemunho, mas também de vigília e combate espiritual. É o tempo da esperança activa, até à última hora.

A promessa que dá sentido à vida

A promessa da vida eterna é a luz que dá sentido à existência cristã. São Paulo lembra: «E se pusemos a nossa esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.» (1 Cor 15,19).

É esta certeza do Céu que fortalece a entrega diária. Cada sofrimento, cada gesto de amor vivido com fé pode adquirir valor eterno em Cristo.

Os santos foram mestres de esperança: Santo Estêvão morreu contemplando o Céu aberto; Santa Teresinha, no meio da dor, afirmava: «Não morro, entro na vida.»

A esperança hoje

Vivemos tempos em que a palavra esperança se tornou rara. Guerras, injustiças, violências, doenças e solidão alimentam a desesperança.

Mas a esperança cristã não é um optimismo ingénuo: é a certeza de que nenhum mal é definitivo. A última palavra pertence sempre a Cristo. Ele venceu a morte, e por isso confiamos contra toda a esperança humana.

A vida eterna: comunhão plena

O Céu é o cumprimento dos anseios mais profundos do coração. Não é apenas mais tempo depois da morte, mas uma nova qualidade de vida: comunhão plena com Deus, face a face, sem dor nem lágrimas (cf. Ap 21,4).

A vida eterna é comunhão dos santos, a grande família de Deus reunida no amor. Cada acto de caridade já vivido aqui é preparação para essa plenitude.

Viver já à luz da esperança

Alguns passos práticos para encarnar esta esperança eterna:

  • Viver com coragem, confiando em Deus como refúgio e fortaleza.
  • Viver com gratuidade, oferecendo-Lhe tudo com valor eterno.
  • Viver com leveza, desapegados do efémero, cultivando virtudes que santificam.

A esperança eterna torna-se assim fonte de missão. Quem encontrou em Cristo a vida plena não pode guardá-la só para si, mas deve anunciá-la.

Conclusão

No meio das incertezas do mundo, a fé cristã permanece como resposta luminosa: Cristo reina, e o Seu Reino é eterno. Não caminhamos para o vazio, mas para o encontro definitivo com Deus.

A esperança eterna não é uma ilusão para os fracos, mas a força que sustentou mártires, missionários, famílias e jovens ao longo dos séculos.

Que saibamos viver já como cidadãos do Céu, repetindo com confiança mesmo nas noites mais escuras:
«Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22,20).

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